Manifestantes bolsonaristas serão vetados perto da posse, diz chefe da Segurança do DF
Para Júlio Danilo, desmobilização do acampamento de apoiadores de Bolsonaro é um "processo complexo"
O secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Júlio Danilo, afirma que os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) que estão no quartel-general do Exército em Brasília não poderão realizar manifestações nas proximidades da Esplanada dos Ministérios no dia da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Não vai ser autorizada manifestação na área central de Brasília, não será permitido que se chegue lá. A manifestação pode ser realizada desde que de forma pacífica. E desde que ela não frustre outro evento anteriormente agendado para o mesmo local. Assim diz a norma, tem decisão do Supremo [Tribunal Federal] nesse sentido”, disse à Folha nesta quarta-feira (28).
Para ele, a desmobilização do acampamento de apoiadores de Bolsonaro é um “processo complexo”. Apesar do esforço recente para a retirada das estruturas em frente ao quartel-general, o secretário diz acreditar que haverá bolsonaristas no local no dia da posse.
Mesmo com a previsão, Júlio Danilo defende que a retirada dos manifestantes não ocorra de forma “drástica”, como defendem aliados do petista que alegam preocupações com a segurança em 1º de janeiro.
De acordo com o secretário, haverá efetivo de policiais também destinado a acompanhar eventual manifestação de bolsonaristas. Eles poderão chegar até, no máximo, a Catedral Rainha da Paz, que também fica no Setor Militar Urbano. O ponto está localizado a cerca de 7 km da Praça dos Três Poderes, área das cerimônias da posse.
A três dias do início do mandato de Lula, autoridades em Brasília ligaram o alerta para a segurança, e petistas pressionam para a desmobilização total do acampamento no QG até esta quinta (28).
Pela manhã, o governo do Distrito Federal e o Exército deram início a uma ação conjunta para desmontar estruturas vazias no acampamento. No entanto, bolsonaristas se juntaram para evitar o desmonte e xingavam integrantes do governo do DF. Pedras foram atacadas, e pessoas chutaram alguns carros. A operação foi abortada logo em seguida.
No sábado (24), um bolsonarista foi preso por ter tentado explodir um caminhão de combustível em Brasília. Segundo George Washington de Oliveira Sousa disse em seu depoimento à Polícia Civil, a ideia era criar caos para provocar intervenção das Forças Armadas. Ele estava acampado no QG do Exército.
O governador Ibaneis Rocha (MDB) disse na terça (27), em entrevista coletiva, que a polícia tem trabalhado para realizar novas operações contra pessoas que tentem planejar algum ataque contra a posse de Lula.
Uma das operações esperadas por ele é a prisão de Alan Diego dos Santos Rodrigues, o segundo suspeito de participar da tentativa de explosão do caminhão com combustível no Aeroporto Internacional de Brasília.
À Folha Julio Danilo afastou a possibilidade de maiores tumultos em caso de novas prisões. No dia da diplomação da chapa Lula-Alckmin, a capital foi palco de atos de violência por apoiadores de Bolsonaro, após a prisão do indígena bolsonarista José Acácio Serere Xavante.
“Não acredito que novas prisões a serem realizadas, da forma como está se pensando, com as investigações em andamento, vão dar início a outras ações de vandalismo. Mesmo porque essas prisões vão ser em represália àquele tipo de ação. Então, essas [prisões] vão acabar desestimulando que as pessoas ajam dessa forma”, afirmou o secretário.
A partir de sexta (30), a Esplanada dos Ministérios estará fechada para a realização de rastreamento de explosivos e a preparação do esquema de segurança para a posse em 1º de janeiro.
No mesmo dia, ocorrerá um ensaio geral de todas as forças de segurança envolvidas na posse presidencial. O primeiro ocorreu na terça, quando militares e servidores cumpriram as etapas das cerimônias previstas para o dia 1º no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto.
De acordo com o secretário de Segurança Pública, no dia da posse a praça dos Três Poderes estará aberta para um público menor, de cerca de 30 mil pessoas.
O acesso ao local ficará aberto de manhã e está sujeito a lotação. Segundo Júlio Danilo, o local terá segurança reforçada e todos que entrarem na praça terão de passar por um detector de metais instalado pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
O plano de segurança passou por alterações nos últimos dias. A principal mudança, segundo o secretário, estabelece que o público só terá uma entrada à Esplanada dos Ministérios, pela via N1 (uma das pistas do Eixo Monumental).
“A entrada vai ser mais restrita [do que o previsto inicialmente]. As pessoas vão poder entrar só pela N1, e já vai ter uma linha de revista no local. Elas não vão poder ingressar mais por trás dos ministérios, o espaço estará fechado com tapumes. Toda a Praça dos Três Poderes vai estar fechada também”, disse.
O protocolo de segurança será o “mais robusto possível”, segundo Júlio Danilo. A posse contará com snipers em cima dos prédios, controle por meio de câmeras e drones.
A Secretaria de Segurança Pública não informa o efetivo de policiais que empregará no dia, mas diz que estarão todos de prontidão na data. “Se precisar empregar 100% da força em determinado momento, tem condição.”
Em paralelo a isso, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), suspendeu temporariamente as autorizações para todas as espécies de porte de armas de fogo no Distrito Federal devido à posse de Lula.
A restrição, válida a partir das 18h de quarta até 2 de janeiro, é um reforço para a segurança diante da proximidade da cerimônia que marca a troca de governo.
O Ministério da Justiça do governo Bolsonaro também autorizou, em portaria publicada no Diário Oficial da União de quarta, a utilização da Força Nacional na posse, em apoio à PRF (Polícia Rodoviária Federal).
A decisão de Moraes também abrange o transporte de armas e munições, por parte de colecionadores, atiradores e caçadores em todo o território do DF. Caso seja descumprida, o ministro determina que seja considerado flagrante delito por porte ilegal de arma ao cidadão.
Por Marianna Holanda e Cézar Feitoza