Lázaro Barbosa participou de formações na Papuda e recebeu atestado de "bom comportamento"
Do Mais Brasília

Lázaro Barbosa participou de formações na Papuda e recebeu atestado de “bom comportamento”

Antes de passar do regime fechado para o semiaberto, em 2014, o interno realizou cursos de "empatia, sexualidade e para se colocar no lugar das vítimas"

Principal suspeito de cometer uma chacina em Ceilândia, Lázaro Barbosa de Sousa, de 32 anos, participou de formações ressocialização, no tempo em que esteve preso no Complexo Penitenciário da Papuda.

Antes de passar do regime fechado para o semiaberto, em 2014, o interno realizou cursos de “empatia, sexualidade e para se colocar no lugar das vítimas“. O homem ainda teria tido nota satisfatória em todos os encontros do grupo de relações pessoais. As informações são do G1DF.

Segundo um relatório em que a reportagem teve acesso, ao deixar a Penitenciária II e passar para o Centro de Internamento e Reeducação (CIR) do presídio, Lázaro “trabalhou as temáticas relativas à Lei Maria da Penha e Estatuto da Criança e do Adolescente; sexualidade saudável e parafilias [fantasias sexuais]”. Ele também participou de formações voltadas às estratégias para “assumir, entender, mudar; de empatia: colocar-se no lugar da vítima; compreensão de fatores de risco e fatores protetores”.

Antes, em 2013, um laudo psicológico apontou que o criminoso tem características de “agressividade e preocupações sexuais” e é acostumado a andar no mato.

Sequência de crimes

Nesta sexta-feira (18/6), Lázaro completa dez dias como foragido da polícia. O homem assassinou com golpes de faca e tiros o empresário Cláudio Vidal, 48 anos e os dois filhos, Gustavo Marques Vidal, 21, e Eduardo Marques Vidal, 15, no dia 9 de junho. No dia do crime ele ainda sequestrou a esposa e mãe das vítimas, Cleonice Marques, 43. O corpo dela foi encontrado na manhã de sábado (12/6) em um córrego localizado no Sol Nascente,  local conhecido como Córrego das Corujas, no meio da mata entre a BR-070 e a DF-180. A mulher estava nua, de bruços e com diversos cortes no corpo.

Após o crime contra a família, Lázaro se tornou um fugitivo da polícia. Desde então, o homem tem cometido uma sequencia de crimes entre o Distrito Federal e Cocalzinho de Goiás (GO). Em muitos casos, o “modus operandi” se repete. Veja a cronologia dos fatos:

Madrugada de quarta-feira (9/6)

Por volta de 2h44, Lázaro Barbosa invadiu a chácara da família Vidal, localizada no Núcleo Rural Alexandre Gusmão, Km-13 da BR-070. No local ele matou o empresário Cláudio Vidal de Oliveira e os filhos Gustavo Marques Vidal e Carlos Eduardo Marques Vidal com golpes de faca e tiros. Em seguida sequestrou a mãe e esposa das vítimas, Cleonice Marques.

A mulher percebeu a invasão na casa e avisou a familiares por mensagem de voz. Os parentes que foram em socorro das vítimas encontraram o pai agonizando e os filhos já sem vida. Cláudio ainda conseguiu compartilhar com o cunhado que o criminoso tinha levado a mulher. Foi então que as buscas por Cleonice tiveram início pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), que assumiu o caso.

Também no dia 9 de junho, a PCDF compartilhou um histórico de crimes recentes.

No dia 17 de maio ele invadiu outra chácara, próximo ao local onde a Família Vidal foi assassinada. No local, os relatos dão conta que ele amarrou as vítimas e as ameaçou com revólver e faca. Lázaro ainda teria obrigado que todos ficassem nus e que as mulheres fizessem comida para ele.

Já em 26 de abril, Lázaro cometeu estupro e roubo contra uma mulher que abordou na rua. O caso é investigado pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam)

Quinta-feira (10/6)

Por volta das 15h, Lázaro invadiu uma nova chácara, na mesma região do triplo homicídio. No local ele fez a proprietária e o caseiro de reféns por cercas de três horas.

Às vítimas, o homem confessou ter matado a família e balbuciava palavras e frases desconectas. Ele fez uma refeição no local e obrigou os reféns a usarem droga com ele.

O homem fugiu levando uma arma de fogo, R$ 200 em espécie e algumas roupas.

Cleonice Vidal seguia desaparecida.

Sexta-feira (11/6)

Por volta das 20h, Lázaro invadiu uma chácara em Ceilândia. No local o suspeito fez o caseiro de refém e roubou um veículo Fiat/Pálio, cor branca. O criminoso utilizou esse automóvel na fuga e seguiu em direção a Cocalzinho de Goiás (GO). Na madrugada, por volta das 3h30, ele incendiou o veículo às margens da BR-070.

Cleonice Vidal ainda não tinha sido encontrada.

Sábado (12/6)

No início da tarde, o corpo de Cleonice Marques foi localizado em um córrego no Sol Nascente por familiares. Um irmão da vítima fez o reconhecimento e, posteriormente, a PCDF confirmou ou a identidade da mulher.

Neste mesmo dia, na parte da tarde, Lázaro invadiu outra chácara em Cocalzinho de Goiás (GO). O local pertence à família de um soldado da PMDF que atua no 8º Batalhão. Ali, o criminoso ingeriu bebida alcóolica e quebrou portas, janelas e vidraças. Ele ainda cortou a internet do local.

Por volta das 19h, uma nova chácara no local conhecido como Lagoa Samuel, em Cocalzinho (GO) foi ponto de visita do criminoso. Na casa estavam três homens, uma senhora de idade e uma criança. Ele atirou no trio, roubou duas armas, munições e fugiu pelo mato.

Duas das três vítimas ficaram em estado grave e foram encaminhadas para o hospital de Anápolis.

No fim do dia, por volta das 23h30 da noite, Lázaro ainda teria ateado fogo a uma outra chácara da região. Minutos depois, ele chegou a trocar tiros com a Polícia Militar de Goiás (PMGO). A polícia fechou o cerco na região.

Domingo (13/6)

Na manhã do domingo, a Polícia Federal (PF) e o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) foram para Cocalzinho em reforço a procura por Lázaro Barbosa Sousa. Foragido há cinco dias, o criminoso já tinha deixado um rastro de terror em destruição em toda a região.

Também nesta manhã, por volta das 8h, três caseiros de uma chácara do município goiano afirmaram a polícia que encontraram com Lázaro. Os homens relataram que foram até a porteira, armados com foices e facões e viram o suspeito na entrada.

De acordo com o relato dos trabalhadores, ele fugiu pela mata fechada.

Já na parte do domingo, Lázaro quase foi capturado. Após invadir uma nova chácara e roubar um Corsa vermelho, o homem entrou novamente na BR-070 para fugir.

A polícia montou diversos pontos de bloqueio e seguiu na procura pelo automóvel. Por volta das 18h30, o carro foi encontrado abandonado na estrada, próximo à Edilândia (GO). Policiais e cães farejadores entraram na mata para localizar o suspeito.

Segunda-feira (14/6)

Durante todo o dia a procura pelo suspeito seguiu sendo realizada. Nenhuma movimentação foi registrada até a noite.

Por volta das 20h, Lázaro invadiu uma nova chácara e trocou tiros com o caseiro. Segundo o trabalhador, o criminoso chegou a ser atingido, mas não foi capturado.

Para a polícia, o homem informou que Lázaro invadiu a propriedade à procura de comida e que, após ele negar o acesso, eles trocaram tiros.

Novamente, as forças de segurança que atuam na ocorrência, PMDF, PMGO, PCDF, PRF e PF fecharam o cerco na região.

Também neste dia, a família Vidal foi velada e enterrada no cemintério Campo da Esperança de Taguatinga, no Distrito Federal.

Terça-feira (15/6)

Pela manhã, imagens do circuito interno da câmera de segurança de uma fazenda flagraram Lázaro Barbosa de Sousa no local. pouco tempo depois, um caminhoneiro relatou ter visto um homem com as mesmas características atravessar a BR-070 e adentrar uma área de mata.

Também na parte da manhã, o proprietário de uma fazenda, na região de Relepra, há cerca de 10 quilômetros do local onde a força-tarefa montou uma base, afirmou que viu Lázaro Barbosa no milharal. O homem disse que acionou à polícia e que ela chegou após 40 minutos. Na sequência novos moradores afirmaram que viram o criminoso seguindo a pé pela BR-070. Uma moradora de uma fazenda da região afirmou ter visto Lázaro e pediu ajuda da polícia.

Na parte da tarde mais movimentação do criminoso. Outro proprietário de uma fazenda, que não quis se identificar, conversou com a equipe do Mais Brasilia que está no local. Para a reportagem, o homem afirmou que viu o suspeito dentro do milharal da propriedade e que avisou à policia.

No fim do dia, Lázaro Barbosa foi cercado por agentes de diversas forças de segurança em uma rodovia e abriu fogo contra a guarniçãoUm policial chegou a ser baleado. O suspeito ainda manteve três reféns em uma propriedade rural que fica a 5 km de distância do povoado de Edilândia.

Neste dia, o laudo cadavérico de Cleonice Marques, da família Vidal, apontou que a mulher teve a orelha arrancada, os cabelos cortados e foi executada com dois tiros na nuca.

Ainda fora descobertas fotos sensuais de Lázaro Barbosa para enganar possíveis vítimas nas redes sociais.

Uma equipe de reportagem localizou o pai de Lázaro Barbosa,  Edenaldo Barbosa Magalhães, 57 anos que afirmou ter medo do próprio filho.

Quarta-feira (16/6)

Moradores das fazendas entre Girrasol e Edilândia, ambos em Goiás, continuaram a denunciar para a polícia ter visto Lázaro pelas redondezas. A polícia continuou a procura, mas o homem ainda segue foragido.

A base da força-tarefa na caçada pelo foragido foi transferida para o distrito de Girassol (GO), a cerca de 65km de Brasília e 20km de Edilândia (GO), local onde a estrutura estava montada anteriormente.

Em reportagem exclusiva, o Mais Brasília descobriu que três dias antes de matar a família em Ceilândia, o serial killer Lázaro Barbosa assassinou o caseiro de uma propriedade rural no povoado de Girassol, em Goiás. O primeiro nome do caseiro era Ricardo e o seu apelido, Japão. O fazendeiro se chama Miro. O inquérito policial foi aberto na delegacia de Cocalzinho (GO) no último dia 14.

Governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) afirmou que o criminoso Lázaro Barbosa faz polícias “quase como de bobas”. Chefe do Executivo de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM) rebateu a afirmação.

A PCDF divulgou novas projeção de possíveis disfarces de Lázaro Barbosa.

Quinta-feira (17/6)

Lázaro novamente trocou tiros com a polícia. Após ser visto, por um funcionário, em uma fazenda no distrito de Girassol (GO), a polícia fechou o cerco no local. Contudo, mais uma vez o criminoso fugiu.

Cães policiais farejaram um pano ensanguentado. De acordo com o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, o item indica um possível ferimento, e por isso funcionou para os cães.

Policiais encontraram uma carta abandonada no local onde o criminoso teria usado como esconderijo por um tempo, na região de Edilândia, em Goiás. No local, as equipes notaram, sobre a mesa, uma folha de papel A4 com um texto escrito à mão, com caneta vermelha.

Em entrevista, a mãe de Lázaro Barbosa Sousa, 32 anos, foragido há dez dias, Eva Maria Sousa, pediu que o filho se entregue para a polícia.