Ibaneis driblou impeachment e expulsão para voltar ao Governo do DF, mas ainda teme STF
Governador foi autorizado a retomar Executivo após mais de 2 meses afastado; ele é investigado por suposta omissão nos atos de 8/1
De volta ao Palácio do Buriti após decisão do ministro Alexandre de Moraes, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), conseguiu destravar resistências políticas que surgiram após os ataques de 8 de janeiro.
Mais de dois meses depois do episódio, a oposição desistiu de pedir o impeachment do governador, o MDB parou de ventilar a possibilidade de expulsão e cinco dos sete integrantes da CPI em funcionamento na Câmara Legislativa são aliados do emedebista.
Questões jurídicas, no entanto, ainda podem comprometer o governador, investigado em inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) por suposta conivência com os golpistas que invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes.
O governador dará uma entrevista coletiva nesta quinta-feira (16) para marcar seu retorno ao cargo. Horas após a decisão de Moraes, o emedebista foi ao lançamento de um livro organizado pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil.
Durante o período de afastamento, Ibaneis duvidou que conseguiria antecipar sua volta, segundo interlocutores. Um dos momentos mais tensos foi após a decisão em que Moraes classificou conduta do governador como ainda pior que a do ex-ministro e ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres, que está preso.
“O descaso do ex-ministro Anderson Torres […] só não foi mais acintoso do que a conduta dolosamente omissiva do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que não só deu declarações públicas defendendo uma falsa ‘livre manifestação política em Brasília’ […] como também ignorou todos os apelos das autoridades para a realização de um plano de segurança [para 8 de janeiro]”, escreveu.
Mesmo sendo o principal nome do MDB no Distrito Federal, Ibaneis também passou a sofrer resistências políticas após os ataques às sedes dos três Poderes. Longe do poder, o emedebista foi alvo de ataques dentro da sigla e viu movimentações por seu impeachment no Legislativo local.
A representação contra o governador foi anunciada no dia seguinte aos ataques por um dos principais caciques do partido, o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Apesar da ameaça, nem sequer o alagoano pediu à legenda a expulsão do correligionário.
Renan afirma ter resolvido esperar o resultado das investigações e diz que a saída do governador do DF do partido “é uma consequência inevitável” caso ele seja considerado culpado pela Justiça.
“O fato está sendo investigado. E o mais prudente é aguardar o resultado da investigação. Se não, nós mesmos vamos prejulgar, não é recomendável. Nós estamos aguardando que se conclua a investigação”, diz o parlamentar.
Durante o período em que esteve afastado, o governador contou com o apoio do ex-senador Romero Jucá (MDB-RR) e recorreu às principais lideranças do seu partido, incluindo o presidente nacional, Baleia Rossi (SP).
Integrantes da executiva da legenda afirmam que o governador pode ter sido levado ao erro na condução do dia 8 de janeiro. Um deles diz que, se Ibaneis cometeu algum crime, foi de caráter culposo, quando não há intenção.
Apesar disso, até mesmo aliados do emedebista admitem uma possível responsabilização por ter insistido na nomeação de Anderson Torres para comandar a Segurança Pública local, mesmo desaconselhado por ministro do STF e integrantes do governo federal.
Na Câmara Legislativa do DF, Ibaneis tem apoio da maioria dos 24 deputados distritais e, com o corporativismo da base, conseguiu conter o avanço de discussões sobre eventual impeachment.
“Politicamente, eu te digo: não existem 16 deputados na Câmara Legislativa dispostos a votar pelo afastamento do Ibaneis. Isso eu cravo para você”, diz à Folha o deputado distrital Chico Vigilante (PT), presidente da CPI dos Atos Antidemocráticos.
“A situação de Ibaneis não é uma questão política, mas jurídica. Cabe ao Alexandre de Moraes, que deve ter mais informações que nós, comuns e mortais.”
O deputado distrital conta que, ainda em dezembro, foi escalado pelo PT para conversar com o governador afastado e tentar evitar que Torres voltasse para a Secretaria de Segurança Pública —sem sucesso.
“Eu disse que era uma temeridade, que não deveria nomear, que havia problema e insatisfação do governo federal, que não era correto. Ele virou e falou ‘tudo bem, vou manter o [ex-secretário] Júlio Danilo até a posse [de Lula] e depois eu trago ele [Torres] de volta”, disse.
Segundo o petista, a CPI dos Atos Antidemocráticos não deve focar na possível omissão de Ibaneis. “Eu quero chegar nos financiadores, que é o meu grande objetivo”, conta.
Vigilante, porém, afirma que, além da insistência no nome de Torres, o tratamento dado pelo governador à presidente do STF, ministra Rosa Weber, pode dificultar sua situação jurídica.
“Foi um tremendo desrespeito do Ibaneis quando a Rosa [Weber] passa a mensagem para ele e ele responde só enviando o telefone do [número 2 da Secretaria de Segurança] Fernando Oliveira. É até meio constrangedor”, ri.
Aliado de primeira hora de Ibaneis, o presidente do MDB-DF e deputado federal Rafael Prudente —ex-presidente da Câmara Legislativa até ano passado— engrossou o pedido ao STF para que o governador voltasse ao cargo antes do prazo.
“Estive percorrendo nas últimas semanas várias regiões e vi a tristeza dos moradores, que a todo momento perguntam quando o governador vai voltar. Fica aqui o meu apelo ao STF que restabeleça o brilho nos olhos dos moradores aqui da nossa cidade”, escreveu nas redes sociais.
Por Cézar Feitoza e Thaísa Oliveira