Governadores querem reunião com Bolsonaro e busca de harmonia entre Poderes para estancar crise
Governadores de estados participaram de uma reunião na manhã desta segunda (23/8)
Em um momento de elevada tensão institucional, os governadores de estados realizaram uma reunião na manhã desta segunda-feira (23/8) e decidiram atuar conjuntamente para tentar harmonizar a relação entre os Poderes, pedindo inclusive uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na próxima semana.
“O objetivo é demonstrar a importância de o Brasil ter um ambiente de paz, de serenidade onde possamos garantir a forma de valorização da democracia, mas principalmente criar um ambiente de confiança que permita atração de investimentos, geração de empregos e renda”, disse o governador do Piauí, Wellington Dias (PT).
A intenção é “utilizar a força dos governadores que falam em nome da população […] e levar essa fala dos 27 governadores para todos os Poderes constituídos no país”, disse o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
A reunião do Fórum dos Governadores já estava prevista, mas de última hora teve incluída na pauta a possibilidade de uma ruptura institucional. O assunto veio à tona nos últimos dias após a série de ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Além de Ibaneis e Dias, outros 22 governadores, entre eles o de São Paulo, João Doria (PSDB), participaram de forma remota.
A postura de Bolsonaro, que apresentou nesta sexta-feira (20/8) um pedido de impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes, foi criticada por governadores
“Foi uma proposta de consenso de todos nós, governadores, pela nossa disparidade de posições políticas e partidárias, mas, pela harmonia que temos no nosso grupo, nós temos condições de ajudar nessas relações”, afirmou Ibaneis.
Durante a reunião, houve resistência da parte de alguns governadores a adotarem uma postura de maior confronto com Bolsonaro, segundo alguns presentes no evento. Mesmo tendo rompido com o presidente da República, Carlos Moisés (PSL), de Santa Catarina, foi um dos que se posicionou contra uma medida mais enfática.
“O que nós devemos fazer é defender a democracia, Moisés, e não silenciar diante das ameaças que estamos sofrendo constantemente”, reagiu Doria.
A discussão sobre as ameaças à democracia acontece em meio a uma série de ataques de Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal. Contrariando pedidos de moderação de seus aliados, o presidente da República enviou ao Senadoo pedido de impeachment contra Moraes.
Moraes é o responsável pelo inquérito das Fake News, que resultou na prisão de aliados do governo, como o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson.
Além disso, o presidente lançou há algumas semanas uma série de críticas e ataques ao sistema de urnas eletrônicas. Seu alvo principal nessa questão foi o ministro Luis Roberto Barroso, também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Existe a expectativa que ele apresente também pedido de impeachment de Barroso.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), Casa responsável por analisar os processos, afirmou na sexta-feira não antever “fundamentos técnicos, jurídicos e políticos para impeachment de ministro do Supremo”.
Na semana passada, em esforços para diminuir a tensão, chefes dos Poderes realizaram uma série de reuniões paralelas, mas sem a presença do presidente da República. O interlocutor do Palácio do Planalto foi o ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira.
Também na semana passada, governadores de 13 estados e do Distrito Federal divulgaram nota em defesa do STF e manifestando solidariedade aos ministros e familiares, “em face de constantes ameaças e agressões”.
Por Renato Machado e Thiago Resende