Fritura de Flávia Arruda impulsiona chefe de gabinete de Bolsonaro para cargo de ministro
O descontentamento é amplo no Congresso
A crescente pressão nos últimos dias contra a ministra Flávia Arruda (Secretaria de Governo), devido a uma insatisfação de parlamentares com a execução de emendas, impulsionou o nome de Célio Faria Júnior, chefe de gabinete de Jair Bolsonaro (PL), como candidato para assumir o posto.
Faria é da confiança do mandatário e tem bom trânsito com parlamentares, tanto por ter o controle da agenda de Bolsonaro como por ter já atuado na assessoria de relações institucionais da Marinha.
Deputada do PL, a ministra está sendo acusada por congressistas de descumprir acordos e não garantir o pagamento de emendas prometidas para 2021. Interlocutores de Flávia a defendem e dizem que os recursos não foram liberados pelo Ministério da Economia.
Aliados da ministra também argumentam que as insatisfações são esperadas num contexto em que não há espaço no Orçamento para atender todas as demandas. Ela recebeu a solidariedade de colegas da Esplanada por mensagens de WhatsApp.
Flávia ainda virou alvo de deputados e senadores –segundo seus críticos– por não ter atendido a ligações no final do ano, quando parlamentares tentavam destravar a liberação de suas emendas.
Houve reclamações de que ela teria “sumido” no período de festas de ano novo.
O descontentamento é amplo no Congresso e até mesmo parlamentares do PL reclamam nos bastidores do trabalho da ministra.
Deputados da legenda lembram que Flávia foi escolha pessoal de Bolsonaro e que o ministério não está na cota de indicações do PL.
Responsável pela articulação política, a Secretaria de Governo é um ministério com assento no Palácio do Planalto –o que garante acesso facilitado ao presidente da República.
Ministros consultados pela reportagem admitem que a pressão contra Flávia está forte e veem com bons olhos eventual ida de Célio para o ministério.
Qualquer decisão sobre o tema, no entanto, depende de Bolsonaro. A situação da ministra só deve ser tratada pelo presidente após ele receber alta do hospital em São Paulo onde se recupera de um quadro de obstrução intestinal.
Interlocutores no Planalto dizem que a saída de Flávia do governo pode ser antecipada diante da rebelião na base. A previsão inicial é que a ministra deixe a Esplanada em abril para cumprir o prazo obrigatório de descompatibilização, uma vez que ela pretende disputar o Senado no Distrito Federal.
As funções da Secretaria de Governo costumam ser desempenhadas por políticos com experiência, mas no governo Bolsonaro Flávia é a primeira dessa categoria. Seus antecessores foram os generais Santos Cruz e Luiz Eduardo Ramos.
Ramos atualmente é ministro da Secretaria-Geral.
Defensores de Célio afirmam que, em pleno ano eleitoral, será difícil encontrar um político que não queira disputar um cargo eleitoral para assumir a Secretaria de Governo.
Outro nome ventilado por parlamentares como possível substituto foi o de Carlos Henrique Menezes Sobral, atual secretário-executivo da Secretaria de Governo.
Embora tenha bom trânsito com deputados e senadores, aliados de Bolsonaro o consideram excessivamente próximo ao MDB –ele foi assessor do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e do ex-ministro Geddel Vieira Lima.
Por Marianna Holanda, Júlia Chaib e Ricardo Della Coletta