Estreia do 5G em Brasília tem velocidade oscilante, cobertura parcial e ‘impurezas’

Capital federal é a primeira a receber a telefonia de quinta geração, que será espalhada pelas demais capitais do país até o final de setembro

Quem usava um telefone com antena 5G em Brasília nem percebeu que, na manhã desta quarta-feira (6), já estava acessando a nova tecnologia, que promete velocidade até dez vezes mais rápida que a do 4G.

No entanto, ainda não está claro para o consumidor se, ao baixar um vídeo ou jogar pela internet ele está, de fato, se conectando na rede standalone, o chamado 5G puro, que permite tempo de resposta inferior a um milissegundo entre uma página da internet acessada e a sua exibição.

A capital federal é a primeira a receber a telefonia de quinta geração, que será espalhada pelas demais capitais do país até o final de setembro.

O ministro das Comunicações, Fábio Faria (PSD-RN), comemorou o início do 5G no país. Ele disse à reportagem que passou o dia testando as conexões pelas diversas regiões de Brasília e que, para ele, o serviço esteve sempre estável.

“Fiz o teste e consegui velocidade de até 1,4 Gbp [Gigabit por segundo]”, disse Faria. “Onde não tinha cobertura naveguei em 4G.”

Faria afirmou ter ficado em contato com as operadoras para monitorar a estreia do novo serviço. Disse que o número ainda restrito de antenas permite cobertura de mais da metade da cidade.

O ministro atuou ativamente para a chegada do 5G antes da campanha eleitoral. Houve atrasos para a implantação e, devido à legislação eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro não poderá promover a medida como um feito de seu governo.

Às 5h26, a Claro foi a primeira operadora a ligar sua rede exclusiva do 5G na capital federal. As empresas vinham oferecendo velocidades similares às do 5G, mas por meio da rede 4G.

A partir de agora, são obrigadas a prestar o serviço em uma rede separada. Essa rede, no entanto, pode conter a tecnologia standalone e também a não standalone, do 5G considerado “impuro”.

As antenas da operadora, porém, só estão espalhadas pelo Plano Piloto e Lago Sul, áreas nobres da capital federal.

A TIM conectou uma centena de antenas -bem mais do que o exigido pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), mas elas só foram suficientes para garantir conexão à metade da população da capital.

De acordo com a empresa, foram cobertas as principais áreas da capital federal: asas Norte e Sul, lagos Norte e Sul, Águas Claras, Ceilândia, Cruzeiro, Gama, Guará, Noroeste, Recanto das Emas, Samambaia, Santa Maria, Setor de Indústrias e Abastecimento, Taguatinga e Vicente Pires.

Em dois meses, a TIM vai instalar mais 64 antenas, ampliando essa cobertura para 65% da população.

Na Asa Norte, a conexão garantiu velocidades bastante superiores -dez vezes maiores que as da tecnologia 4G. Na Sul, a situação foi similar.

Vídeos baixaram instantaneamente, especialmente no aplicativo da Netflix, que antes levava cerca de oito segundos para começar a exibição do conteúdo.

No entanto, essa velocidade oscilou bastante dependendo da área da cidade. Em um deslocamento entre o Sudoeste e a Asa Norte, por exemplo, a conexão 5G praticamente desapareceu, cedendo lugar para a 4G ou, eventualmente, a 4,5G.

Em Taguatinga, importante centro comercial nos arredores do Plano Piloto, coração de Brasília, o sinal 5G não funcionava no principal shopping da cidade, no epicentro da região. O sinal permaneceu instável, apesar das operadoras terem instalado antenas na área.

A médica Ana Cláudia Ribeiro, por exemplo, não conseguiu usar o serviço em seu consultório, que fica no Shopping Alameda.

“Comprei esse aparelho [iPhone] pensando que funcionaria, mas vejo que a tecnologia começou com problemas”, disse.

Segundo a Anatel, as operadoras têm estratégias diferentes na implantação de sua rede. A TIM instalou 164 antenas; a Claro, 82; e a Vivo, 78. Com 324 antenas, juntas, elas passaram a cobrir 80% da cidade de Brasília. A concentração de antenas, ainda segundo a agência, é maior no Plano Piloto e na região dos lagos (sul e norte).

Segundo as operadoras, os clientes que já possuem aparelhos com recepção 5G na frequência de 3,5 GHz (gigahertz) -considerados compatíveis- passam a usar o novo serviço automaticamente, sem necessidade de aderir a um novo plano ou pacote de dados.

Para se ter ideia, na Claro, 70% dos clientes já utilizam aparelhos compatíveis. Na Vivo, são 2,5 milhões de clientes.

A TIM foi a única operadora a deixar clara a diferenciação que ocorre por trás das redes das empresas de telecomunicação.
Em sua oferta, a operadora estabelece um prazo de até três meses para que seus clientes optem por migrar para o 5G puro.

Quem fizer a mudança passará a utilizar o serviço por um ano sem pagar por isso. Após esse período, terá de arcar com mais R$ 20 mensais no valor que já vinha pagando pelo plano.

Aqueles que não fizerem essa migração estarão navegando pela rede 5G NSA (não standalone). Essa rede é a mesma, mas não entrega a latência do 5G puro (tempo entre o acesso a um site e sua resposta na tela do celular).

Ou seja: essa rede só simula a experiência de velocidade do 5G.

Vivo e Claro decidiram não cobrar a mais de seus clientes na tecnologia 5G. No entanto, não deixam claro em qual das redes o cliente estará conectado. As duas operadoras já vinham mantendo serviço 5G prestado pela rede 4G.

A faixa de frequência de 3,5 GHz, que antes estava em uso por rádios, foi liberada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para uso exclusivo do 5G puro. Frequências são avenidas no ar por onde as teles fazem trafegar seus sinais. Fora delas, ocorrem interferências.

COMO USAR O 5G?

Para usar o 5G puro, é necessário ter aparelho compatível com a conexão, ser cliente de alguma operadora que ofereça o serviço e estar na área de cobertura. Alguns poucos aparelhos compatíveis exigem chip novo.

A conexão começou a funcionar em Brasília nesta quarta-feira (6). Belo Horizonte e Porto Alegre estão adiantadas no processo de adequação técnica e devem ser as próximas capitais a lançar o serviço.

MEU CELULAR JÁ MOSTRAVA O ÍCONE DO 5G. QUAL A DIFERENÇA?

O 5G disponível antes desta quarta-feira em algumas capitais é chamado de 5G DSS (Dynamic Spectrum Sharing) ou NSA (non-standalone). A conexão é considerada “impura” por operar na mesma faixa de frequência do 4G (2,3 GHz), o que limita seu desempenho.

A versão “pura”, ou standalone, tem uma faixa dedicada somente a ela, de 3,5 GHz. Em teste feito pela Folha de S.Paulo, o 5G impuro falhou em superar o 4G.

O QUE É E O QUE PODE FAZER O 5G?

O 5G é a próxima geração de conexão de internet móvel, usada em celulares e outros dispositivos sem fio. A tecnologia oferece maiores velocidades para baixar e enviar arquivos e menor latência para a transmissão de dados em tempo real.

Para o consumidor médio, o 4G já atende bem atividades de entretenimento, trabalho e educação. Mas o 5G é associado ao aumento da produtividade da indústria, do agronegócio, da saúde e outros setores. Por isso, as velocidades maiores e latência mínima prometidas são aguardadas.

A velocidade do 5G puro alcança, em média, 1Gbps (Gigabit por segundo), sendo dez vezes maior que a média do 4G. Por exemplo, para baixar um arquivo de 5 GB (um filme em alta definição) no 5G puro, seria preciso aguardar 42 segundos. E essa conexão pode chegar a até 20 Gbps.

A chegada do 5G também deve movimentar o mercado de trabalho no Brasil ao gerar empregos e exigir novas habilidades profissionais. Os setores de tecnologia e telecomunicações serão os mais afetados.

Para 2027, ano em que a tecnologia deve se tornar dominante, pelas projeções da Ericsson, serão 4,4 bilhões de usuários do 5G no mundo. Até o final deste ano, deve alcançar 1 bilhão.

Por Julio Wiziack

Sair da versão mobile