Dia dos Avós: quando o laço afetivo transforma vidas
O Mais Brasília traz relatos de avós e avôs que se redescobriram com a chegada dos netos
“Na casa de avó pode tudo…” essa frase clichê é bastante conhecida e utilizada para defender a relação afetuosa entre avó/avô e os netos. Seja um colo ou um carinho, um bolo ou doce preferido ou até mesmo o tradicional almoço de domingo, o que é feito pelas mãos dos vovôs é cercado de representatividade e significado.
A importância deles é tanta que, nesta segunda-feira (26/07) é celebrado o Dia dos Avós. Além do Brasil, a data também é comemorada em Portugal e na Espanha.
Em tempos de pandemia, onde as relações presenciais se tornaram menores ou, por vezes, apenas por chamadas de vídeo e troca de olhares pela janela ou varanda, a psicóloga clínica Juliana Gebrim afirma que manter este vínculo, ainda que com restrições, é essencial para aquecer o coração. Para a especialista, reforçar esse laço familiar pode diminuir sintomas depressivos, além de favorecer as habilidades socioemocionais.
“Temos estudos na área de psicologia que comprovam que a relação avós-netos ajuda a contornar esses problemas. Com a pandemia, vimos essa relação mudar, mas, aos poucos, com a vacinação dos idosos tudo voltará ao normal, com os cuidados e a cautela necessários. Enquanto isso não ocorre é importante estreitar essas relações mantendo o contato ainda que de forma virtual”, pontua.
A Maria de Fátima Freitas Pinho, 62 anos, comprova a afirmação da especialista. Diagnosticada com depressão há 23 anos, ela conta que a chegada do neto Caio França, 7 anos, colaborou de forma positiva com os altos e baixos da doença. Para a dona de casa, de 62, anos, a presença do neto se tornou um motivo especial para ela seguir adiante e procurar se manter firme no tratamento.
“O Caio foi minha maior surpresa e alegria. Tive duas grandes perdas em minha vida, meu pai e meu filho de 14 anos, que morreu em um acidente. Quando minha filha mais velha me disse que estava grávida foi um susto, pois ninguém esperava que ela fosse ser mãe. Mas hoje, só posso agradecer a presença dele. Quando estou com meu neto, o ambiente muda. A casa fica radiante e cheia de alegria. É o amor da vovó!”, conta orgulhosa.
Para Gebrim, a relação de avós com netos traz vitalidade e permite que os avós tenham uma vida mais alegre, com mais disposição e estímulos.
“Sem falar que esse relacionamento também contribui para valorizar aos avós, que se sentem mais úteis quando cuidam dos netos, além de se sentirem ainda mais responsáveis. Isso tudo afasta dos nossos “velhinhos” os sentimentos de solidão e de tristeza”, detalha.
Chegada aproximou a família
Na casa da jornalista Tainá Morais, 26 anos, a chegada do pequeno Heitor reforçou o laço familiar. A jovem conta que ao descobrir a gestação, além do susto, teve receio da reação dos pais, mas que hoje, quatro anos após a chegada da criança, a família vive a fase mais saudável da história deles.
“Meu maior medo era magoar ou chatear meus pais. Como não tinha um relacionamento estável, com a chegada da gravidez ficou tudo ainda mais bagunçado”, relembra.
Tainá relata que primeiro contou para a mãe, Miriam Morais, 52 anos. A jovem lembra que a matriarca foi bastante parceira e carinhosa ao saber da notícia.
“Ela me deu o colo necessário no meu momento de desespero. Lembro como se fosse hoje das doces palavras delas: ‘Calma, minha filha, não se desespere, pois, nós já amamos demais esse bebê’.
Para dar a notícia ao pai, Tainá também teve o apoio e ajuda da mãe. E para a surpresa das duas que temiam a reação do chefe da família, a informação foi motivo de alegria.
“Ele deu pulos de alegria e disse que estava muito feliz com a notícia recebida”, conta a jornalista. E completa: “Passamos todos os obstáculos juntos, desde a gravidez aos dias atuais. Criei meu filho sozinha, sem o auxílio paterno, e apenas com a ajuda dos meus pais. O Heitor é a nossa maior alegria.”
Os avós corujas não escondem a satisfação do título e o quanto gostam do novo “cargo”. A dona de casa Míriam lembra que quando soube que seria avó, sentiu que seria uma espécie de mãe duas vezes.
“É muito gratificante ser avó do Heitor. Chega a emocionar pois ele foi o que sempre sonhamos para nossa casa nova. Uma criança para alegrar o nosso lar… Ser avó foi o maior prazer de nossas vidas, eu o amo incondicionalmente”, diz emocionada.
Já o avô Fernando Pereira, 53 anos, também não esconde o orgulho do neto. Além do amor ele ressalta que a chegada da criança veio ensinar valores antes esquecidos na família.
“Poder presenciar o filho dos meus filhos é gratificante. É uma oportunidade única, de ver a minha imagem sendo reproduzida pela segunda vez. É muito é gostoso e uma doce aventura ser avô do Heitor. Mesmo com apenas quatro anos, ele nos ensina a ser melhores a cada dia”, diz.
A psicóloga Juliana Gebrim ressalta que é normal a chegada dos netos reforçarem a relação com os filhos. Seja pela ajuda em cuidar enquanto os pais não tem com quem deixar a criança ou até mesmo no dia a dia, colaborando com a criação.
“Esse apoio acaba refletindo também em aconselhamentos importantes para a saúde mental dos filhos, uma vez que o respeito e a cumplicidade acabam auxiliando na hora de cuidar dos netos e resolverem questões mais tensas, como birras e problemas emocionais, os quais nem sempre os filhos/pais da criança estão preparados para lidarem sozinhos”, finaliza.
“Ser avó é bom demais”
Cleide Aparecida de Freitas, é mãe de três filhos e avó de quatro netos: dois meninos de 11 e 7 anos e duas meninas de 7 e 4 anos, respectivamente. A pedagoga de 58 anos define que “ser avó é uma das maiores dádivas da vida”.
Avó pela primeira vez aos 42 anos, Cleide conta que viu a vida se transformar após a chegada do primeiro neto. Ela relembra que se sentiu revigorada e que concentrava todas as energias no contato com a criança.
“Eu queria ter fôlego para correr, brincar e fazer tudo com meu neto. Depois, veio o segundo, o terceiro, o quarto e a cada nova chegada eu sempre me senti mais jovem. Para a gente que é avó, não tem dor nas costas e cansaço que nos impeça de proporcionar alegria para eles”, diz.
Para ela, o contato com os netos a fez reviver o amor materno. “É uma viagem, é retornar à infância, é inexplicável. Ser avó é bom demais!”, conclui.
Criação e saudade que ficam
Ter os avós ainda presente é um privilégio de poucos. A estudante Maiara Luize, 26 anos, sabe bem a falta que eles fazem. Há três meses, a jovem perdeu a avó materna. Ainda emocionada, ela fala com saudade dos bons momentos em que compartilharam juntas.
“Minha avó Maria tinha vários problemas de saúde, mas era uma mulher guerreira, com seus quase 100 anos de vida.Resistiu bem à doença de chagas e ao Alzheimer. Ainda lembro dela me contando histórias, falava sobre o seu passado sempre como se fosse a primeira vez. A saudade e os ensinamentos sempre irão me acompanhar”, lamenta.
Apesar de não mais ter a avó materna e o avô paterno com vida, Maiara se considera uma garota de sorte. Criada pela avó paterna, dona Maria Altiva, ainda viva, a jovem passou parte da infância em Taguatinga do Tocantins, cidade a 453km da capital Palmas. Com 9 anos teve a oportunidade de vir para Brasília e seguir morando com os tios. Atualmente, ela mora sozinha e diz que tudo o que conquistou foi graças a criação recebida pela matriarca da família.
“Minha avó Altiva me ensinou valores, me mostrou que devo ir atrás dos meus sonhos e que não importa o que acontecer ela sempre vai estar comigo. Tive uma criação simples, mas cheia de afeto. Tudo o que sei e sou é fruto da sabedoria dela em minha vida”, relata.
Segundo a especialista Juliana Gebrim, os ensinamentos que os avós possibilitam aos filhos e netos são imensuráveis.
“Eles oferecem segurança, apoio e ensinamentos enraizando conceitos intrínsecos dos valores da cultura da família, que a criança absorve de forma especial. Assim, vale ressaltar que a convivência ou o contato frequente com os avós, seja presencialmente, ou a distância, é de fundamental importância para ambas as partes. Os avós oferecem ensinamentos que são fundamentais para os netos, ensinam a ter mais paciência, a demonstrar mais afeto, a não esconder os sentimentos, a acreditar mais neles e serem mais independentes dos pais”, destaca.