Drama: Hospital de campanha no DF tem alta demanda e pacientes desmaiando por dengue
Pessoas chegando cadeiras de rodas e militares auxiliando quem não conseguia ficar de pé no local
Pessoas chegando desmaiadas e em cadeiras de rodas em busca de atendimento médico, enquanto uma paciente era transferida, com máscara de oxigênio, para ambulância do SAMU estacionada próxima a tendas montadas pela FAB (Força Aérea Brasileira).
Esse foi o cenário presenciado pela Folha nesta terça-feira (6) no estacionamento da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Ceilândia, cidade satélite de Brasília, onde as Forças Armadas montaram um hospital de campanha para tentar fazer frente à epidemia de dengue que atinge o Distrito Federal.
O DF já concentra 46.298 casos prováveis de dengue até 4 de fevereiro, o que representa um aumento de 1.120% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da secretaria de Saúde. Até o momento, 11 óbitos pela doença foram confirmados na capital do país.
As cenas no hospital de campanha refletem o drama vivido por pessoas que buscam o hospital de emergência da FAB em busca de tratamento. Pacientes percorriam os arredores das estruturas —tendas de campanha espalhadas pelo estacionamento— com soro injetado nos braços, sem a utilização de suporte, para realizar o processo de triagem.
Era constante a chegada de crianças, adultos e idosos em busca de atendimento. Os membros das Forças Armadas auxiliavam no transporte daqueles com dificuldades de se manterem de pé.
O Distrito Federal é a unidade da federação com maior incidência de casos de dengue no país, tendo declarado situação de emergência na saúde pública em 25 de janeiro.
Para tentar suprir a demanda por atendimento na rede pública de saúde, o governo do DF fez uma parceria com a FAB para a abertura do hospital de campanha.
O espaço instalado na Ceilândia, maior cidade do DF, possui capacidade para atender 600 pessoas. Os primeiros atendimentos aconteceram na segunda (5).
Profissionais de saúde no local disseram à Folha que a demanda está alta ao longo de todo o dia, assim como em outras unidades de saúde do DF. Segundo a FAB, até 8h desta terça foram realizados 1.324 procedimentos, entre consultas, exames e transferências.
O estudante João Victor Carvalho, de 14 anos, buscou atendimento no hospital de campanha após vivenciar sintomas, no sábado (3), como diarreia, vômito, dor nos olhos, dor no corpo e dor de cabeça.
Ele estava acompanhado por sua mãe, Dayanne Carvalho, 36 anos, que já enfrentou a dengue no início do ano.
“Eu não consegui achar nenhum foco do mosquito, não sei onde tive dengue. Além disso, nunca um agente de saúde foi ao nosso apartamento fazer uma vistoria nos seis anos que moro por lá”, disse Dayanne, moradora do Guará, outra cidade satélite de Brasília.
Assim como João, a agente de portaria Maria de Jesus Araujo Cerqueira, 43, foi ao local para receber atendimento. Diagnosticada na sexta-feira (2), ela chegou a ser internada e liberada, mas desmaiou duas vezes nesta terça. Ela é residente da comunidade Sol Nascente, a maior favela do DF.
“Onde trabalho tem muito foco de dengue, praticamente todos os meus colegas pegaram a doença. Esta é a segunda vez no ano, não desejo para ninguém. Foi bem pior que quando eu tive Covid”, disse.
No momento, cinco regiões administrativas acumulam 43,5% dos casos no Distrito Federal. Ceilândia apresentou o maior número (9.925), seguida das regiões de Sol Nascente/Pôr do Sol (2.704), Taguatinga (2.692), Samambaia (2.461) e Brazlândia (2.351).
Em relação à faixa etária, a maior parte dos casos prováveis se concentra entre as idades de 20 a 29 anos, com incidência de cerca de 1,7 mil ocorrências por 100 mil habitantes. Em seguida, aparecem os idosos de 80 a 89 anos e de 70 a 79 anos, com 1,68 mil casos por 100 mil habitantes e 1,66 mil registros por 100 mil habitantes, respectivamente.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, chegou a dizer na semana passada que o momento é de cuidar e de prevenir. Ela tem afirmado que que vacina para a dengue não é a solução, mas uma aliada no enfrentamento da doença.
No sábado, houve a primeira reunião do COE (Centro de Operação de Emergência) para a dengue. Para a ministra, é importante uma mobilização nacional de combate a doença.
“A vacina não é uma solução para esse momento de surto de dengue porque é uma vacina aplicada em dois momentos com intervalo de três meses. Nós estamos falando de uma situação de grande número de casos”, completou.
A pasta vai disponibilizar as doses da vacina para 37 regiões de saúde que estão distribuídas em 16 estados e o Distrito Federal, priorizando aqueles com alta transmissão da doença e incidência do sorotipo 2 do vírus.
A previsão do governo é vacinar cerca de 3,2 milhões de pessoas de 10 a 14 anos.
O Ministério da Saúde informou que chegaram em janeiro as primeiras 750 mil doses da vacina, que serão oferecidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Nísia se reuniu, também no sábado, com Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan, e Mario Moreira, presidente da Fiocruz. O objetivo foi viabilizar parceria estratégica visando aumentar a produção de vacinas de dengue no Brasil.
Com o suporte do Ministério da Saúde, a Fiocruz somará esforços para aumentar a produção da vacina da farmacêutica Takeda. Na outra frente, o Ministério da Saúde garantiu o apoio à aprovação final do imunizante em desenvolvimento pelo Instituto Butantan.