Centro de Dança do DF recebe bailarinos em residência internacional
Bailarinos do DF terão oficina com coreógrafo moçambicano. Desdobramento do evento, realizado com fomento do FAC, levará a dança a escolas públicas
A segunda etapa da edição especial do Movimento Internacional de Dança (MID) começa no dia 17 de abril. O projeto retomou as atividades presenciais no ano passado. Uma das ações mais aguardadas por bailarinos – a residência artística em dança contemporânea com o coreógrafo moçambicano em atividade na Europa, Idio Chichava – recebeu 68 inscrições. Duas outras iniciativas vão compor o desdobramento do evento, realizado com fomento do Fundo de Apoio à Cultura (FAC): levar a dança a escolas públicas e produzir registros orais com coreógrafos.
“O número de inscritos superou as expectativas. A oficina de Idio despertou muito interesse”, comenta o diretor-geral do evento, Sérgio Bacelar.
A análise de portfólios selecionou 20 bailarinos, cujos nomes foram divulgados nessa segunda-feira (10), e cada um deles terá uma ajuda de custo de R$ 800. A residência ocorrerá em três salas do Centro de Dança, equipamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF (Secec), entre 17 e 28 de abril, sem detrimento das outras atividades que ocorrem no local.
O MID foi contemplado no edital Brasília Multicultural II de 2021 do FAC, com apoio no valor de R$ 1.498.475, com a previsão de geração de 139 empregos diretos e 417 indiretos.
Residência artística
“Vamos oferecer aos dançarinos, bailarinos e coreógrafos do Distrito Federal a vanguarda da arte negra que é produzida através da dança. Idio Chichava atua em várias partes do mundo, tendo sólido vínculo na Europa e em outros continentes”, explica Bacelar.
Já na capital federal para dar a residência, o moçambicano ainda não atuou profissionalmente com os artistas de Brasília. “Estou realmente aberto e gostaria de criar pontes com os coreógrafos e pensadores locais da dança”, afirma o diretor artístico da Companhia de Dança Converge+, que promove intercâmbios e formação gratuita em comunidades rurais, com apresentações da arte em espaços públicos de Moçambique.
O programa da residência promovido pelo MID promete exigir resistência do bailarino ao trabalhar os apoios e a comunicação entre os diversos níveis (chão, médio e salto) e na relação entre corpos e espaço. Destaca também os exercícios práticos de improvisação, composição e performance, por meio de abordagem energética da dança tradicional moçambicana com enfoque no movimento e na presença.
“Primeiro de tudo, temos de criar um espaço de partilha da minha experiência e da experiência dos artistas locais como principal vocabulário para podermos nos expressar”, propõe o artista africano. Ele explica que o trabalho aborda as relações “eu e fora”, “eu e o outro”, explora a energia do movimento, a fisicalidade ao limite, tirando os participantes de eventuais zonas de conforto.
Cápsulas de memória
Para os registros orais, batizados “cápsulas de memória”, serão entrevistados 15 jovens coreógrafos e dançarinos de destaque de diferentes segmentos da produção da dança do DF. As entrevistas, com duração de cinco minutos, serão editadas para divulgação nas redes sociais do MID.
“Elas servirão para compor e divulgar registros de jovens do DF que se destacam ao introduzir novos estilos, difundir e promover as danças urbanas, dando visibilidade à criação no DF. O produto final será disponibilizado para compor o portfólio pessoal dos coreógrafos”, explica Bacelar.
“O registro da cápsula de memórias é de um valor imenso para mapeamento e compreensão dos agentes atuantes dentro das street dances. Vejo que carecemos desse tipo trabalho, já que por questões sociopolíticas muitas pessoas não conseguem ser notadas artisticamente antes de entrar no mercado de trabalho”, opina Lucas Emanuel de Freitas Rodrigues, morador de Taguatinga e praticante dos gêneros hip-hop e house desde 2007.
“Penso que seja crucial ter um registro de memória da dança para que possa ser preservada e transmitida para as gerações futuras. Isso permite que as pessoas aprendam sobre a dança e suas origens, seus locais importantes, as experiências de aprendizagem e superação, além de preservar a diversidade cultural. Ao documentar essas danças e suas histórias, é possível garantir que essas tradições não se percam”, emenda Fabiana Balduína (FaBGirl), de Planaltina, pesquisadora, coreógrafa e professora de breakdance desde 2002.
Ação nas escolas
Ainda como parte do MID, a dança vai visitar escolas públicas em 25 regiões administrativas do DF entre abril e maio. Ana Luiza Sales, 27 anos, professora com licenciatura em dança, pedagoga e instrutora de ioga, entusiasma-se com a iniciativa.
Ela ensina dança e artes para alunos do ensino fundamental e médio, com passagens pela Escola Parque da 308 Sul e CEF 1. Atualmente, Ana Luiza atua no Centro de Ensino do Lago, onde dá oficinas de ioga e práticas corporais para os estudantes do ensino médio.
“Acredito que ensinar conhecimentos corporais de movimento e expressividade é fundamental para a formação integral do ser humano. Levar esses conhecimentos para dentro da cultura escolar é necessário para gerarmos indivíduos preocupados com o autocuidado e o autoconhecimento. Minhas experiências como professora de dança na rede pública sempre foram excelentes”, avalia.
A professora afirma que os estudantes, em geral, têm curtido as aulas de movimento.
“Consegui tornar as práticas interessantes para eles. O segredo é somar os conhecimentos que já têm com os apresentados nas aulas e pesquisas”, relata. Uma bela aposta em favor da cultura de paz nas escolas.
Conexão África
Aproveitando a passagem pelo DF, Idio Chichava também participará de outra ação com apoio do FAC. De hoje (11) a 29 de abril, no Instituto Garatuja de Dança e Cidadania, em São Sebastião, ocorre o Conexão África, projeto de oficinas de danças afro, contemporâneas, ministradas pelo moçambicano e por dançarinos da Companhia Corpos Entre Mundos.
Para o projeto, foram selecionados 20 jovens, que receberão ajuda de custo de R$ 250. O Conexão protagoniza ações socioeducativas de formação e, ao todo, 60 jovens do Varjão, Itapoã e São Sebastião tiveram 54 horas de práticas que incluem dança. O projeto foi escolhido no edital FAC Brasília Multicultural I de 2021, com recursos de R$ 120 mil, prevendo a geração de 19 empregos diretos e 57 indiretos.