Após ‘ataque’ de aves, moradora da Asa Norte instala placas em jardim de prédio
Espécie estaria em reprodução e "atacando" todos que circulam pelo local
Que o ser humano e os animais dividem espaço não é novidade. Há anos é cada vez mais comum encontrar animais silvestres ou não soltos pela área urbana do Distrito Federal.
Entretanto, o que tem tirado a paz de alguns moradores ou frequentadores da SQN 214 norte é uma família de sabiá-do-campo (Mimus saturninus). Há cerca de três semanas, as aves ocuparam parte do jardim, localizado em frente ao bloco A. Cada morador ou transeunte que se aproxima do local corre o risco de levar uma “bicada”.
São vários os registros feitos pela moradora do prédio Ana Lúcia Ferreira, 36 anos. Em seu telefone, a jornalista coleciona vídeos de “vítimas” dos passarinhos.
“Na verdade, minha mãe foi a primeira a observar o que ocorria. Ela mesma chegou a me relatar que foi “atacada” uma vez. Eu a via sempre rindo na varanda e questionei o que era. Foi quando me contou e passei a monitorar”, detalhou.
Dia após dia, a jornalista conta que presenciou pessoas sendo atingidas pelos rasantes das aves. Assim que soube do que acontecia imaginou que pudesse ter algum ninho e que os pássaros estavam apenas fazendo a proteção de seu ciclo reprodutivo. Mas o comportamento humano o levou a preocupação e ela resolveu tentar ajudar de alguma forma os moradores e a natureza.
“Quando aconteciam os “ataques”, algumas pessoas se assustavam, mas seguiam viagem, outras mais curiosas ficavam tentando entender o que tinha acontecido. Mas quando vi um homem querer atingir o bicho com um pedaço de coco que estava no chão comecei a me preocupar”, lembra.
Ana procurou um biólogo para tentar entender o que poderia ser o comportamento animal. Segundo a jornalista, a ideia inicial era produzir um conteúdo leve e divertido sobre a situação. Mas durante a conversa com o professor Pedro Rodrigues, ela recebeu uma orientação e percebeu que poderia fazer algo ainda melhor.
“ Ele (o biólogo) me explicou que possivelmente as aves estavam em fase de reprodução e que o comportamento era uma forma de proteção ao ninho e não para machucar ninguém. O Pedro ainda me incentivou como moradora e cidadã a promover uma ação de conscientização e coletividade”, disse.
Placas informativas
Assim que conversou com o biólogo, a jornalista fez contato com a síndica do prédio em que mora e explicou a situação. Após ter autorização, ela produziu placas informativas com o alerta aos transeuntes.
No texto a moradora pede atenção e explica que a espécie está em fase de reprodução. Ainda segundo a placa, quem passar pelo local está sujeito a ‘bicadas”.
“Foi a forma que encontrei para que as pessoas entendessem que ali no jardim acontece apenas uma fase de reprodução. Sei que assusta e que é incômodo, mas acho que com sensatez a gente consegue conviver em harmonia”, pontuou.
A jovem ainda reforça que, segundo o biólogo, os pássaros não vão ficar por muito tempo no local.
“Ele disse que é apenas o período de reprodução. Faz quase dois anos que moro aqui e foi a primeira vez que vi algo do tipo. Nessa quadra, até mesmo por conta do parque, a fauna é bem diversificada. Já vi tucano, arara azul, entre outras espécies. Acho uma delícia ver a diversidade da vida”, finaliza.
Palavra do Especialista
De acordo com o especialista Pedro Rodrigues, quando a espécie sabiá-do-campo (Mimus saturninus) está em fase de reprodução e com o cuidado parental, a ave tem este tipo de comportamento.
Ainda segundo Pedro, o intuito da ave não é machucar ninguém, mas sim proteger o ninho e, após o período de reprodução, que pode durar um mês e meio, o comportamento deve cessar.
“O ideal é que a população entenda um pouquinho e tente respeitar o local do animal, porque assim como eles trazem esses cantos lindos e belos para nós, eles têm um papel fundamental no ecossistema e a gente deve tentar viver em harmonia com esses bichinhos”, ressalta.