Virada da vacina quer imunizar 600 mil jovens até domingo na capital paulista

Prefeitura de São Paulo realiza Virada da vacina neste sábado (14/8) e domingo (15/8)

Com o objetivo de imunizar 600 mil pessoas de 18 anos a 21 anos contra a Covid-19, a Prefeitura de São Paulo realiza neste sábado (14/8) e domingo (15/8) uma espécie de “virada da vacina”, com direito a apresentações embaladas por DJs de integrantes de blocos de Carnaval, como Minhoqueens e Domingo Ela Não Vai, para tentar atrair jovens aos postos.

Os cerca de 600 pontos de vacinação estarão abertos nestes dois dias, sendo que, em 16 deles, será possível se vacinar durante a noite e toda a madrugada.

A ideia da gestão Ricardo Nunes (MDB) é atingir a meta de vacinar com a primeira dose 100% dos adultos na cidade de São Paulo já neste fim de semana.

Por causa da falta de doses nos postos de vacinação para segunda dose nesta sexta-feira (13/8), principalmente da AstraZeneca, as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e AMAs/UBSs integradas vão aplicar o reforço também.

Dados do Vacinômetro indicam que até esta sexta-feira (13), 9.230.227 vacinas haviam sido aplicadas na cidade de São Paulo, sendo 8.292.728 de primeira dose, 3.310.721 da de reforço e 317.635 doses únicas.

Até então, 93,3% da população com 18 anos ou mais já havia recebido a primeira dose, e 39,3%, já haviam completado o esquema vacinal.

A proposta é considerada açodada por especialistas, que criticam, entre outras coisas, promover “baladas” que podem vir a gerar aglomerações, e o ar de “comemoração” que se dá para quem tomou apenas uma dose, sendo que a imunização só é completada após a conclusão do ciclo vacinal, que inclui duas doses do imunizante.

“A ideia de aumentar a vacinação é adequada, mas não com aglomerações, que são mais prejudiciais do que os atrativos da própria vacina. Qualquer situação em que facilite aglomerações não deve ser indicada”, afirmou o infectologista Marcos Boulos, professor da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e integrante do Centro de Contingência do Coronavírus, do governo de São Paulo, que assessora a gestão João Doria (PSDB) nos cuidados com a pandemia.

Segundo disse o secretário municipal de Saúde Edson Aparecido na última quarta-feira (11/8), dia em que a proposta foi lançada, a megaoperação já estava prevista no planejamento da prefeitura.

Especialistas ouvidos pela reportagem criticam duramente o formato encontrado pela Prefeitura de São Paulo para atrair jovens e assim concluir a vacinação de adultos acima de 18 anos na cidade de São Paulo.

“Se você for colocar qualquer tipo de espetáculo certamente vai haver proximidade e isso facilita a transmissão do vírus”, afirmou o médico José Cássio de Moraes, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, e colaborador da OPAS/OMS (Organização Pan-Americana de Saúde),

O infectologista Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e presidente da Sociedade Paulista de Infectologia, afirma ser equivocado esse ar de “comemoração” por finalizar a primeira dose entre os adultos.

“Acho um equívoco comemorar a finalização da primeira dose, sendo que somente com as duas doses que se imuniza. Esse triunfalismo tem seu ápice nessa espécie de ‘virada cultural’ que o município de São Paulo fará para marcar o fim da primeira dose”, afirmou Fortaleza.

Além de também integrar o Centro de Contingência do Coronavírus, ele coordenou o projeto de pesquisa que incluiu a vacinação em massa de Botucatu (273 km de SP) com o imunizante da Oxford/AstraZeneca.

Um dos participantes foi o médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe do departamento de infectologia da Unesp de Botucatu e consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). “Você pode propiciar que se infecte na fila, no ato da vacinação. Isso é comum numa pandemia e acontece nos programas de vacinação em massa. Nós fizemos o programa de vacinação em massa em Botucatu e tivemos todo o cuidado, mas, mesmo assim houve casos isolados”, afirmou.

Segundo ele, a justificativa dada pela Prefeitura de São Paulo para atrair jovem, com atrações culturais, é errada. “É pedir para ter aglomeração, ainda mais num ambiente de delta. É uma estratégia pura de marketing”, afirmou.

O médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor de saúde pública da USP (Universidade de São Paulo), é mais enfático. “Mais eleitoreiro que resolutivo”, disse.

Outro lado

Sem especificar horários e locais das atrações, a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo afirmou que as apresentações serão realizadas em sua maioria nos drive-thrus, onde as pessoas não poderão sair dos veículos.

Segundo a pasta, a Virada Vacina Sampa não prevê público além daquele que estará sendo vacinado. “Portanto sem aglomerações de qualquer natureza, conforme os protocolos e regras do Plano São Paulo”, segundo trecho da nota.

Embora a maior parte das atrações divulgadas pela gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) seja de blocos de Carnaval de rua, a prefeitura disse que serão realizadas por Djs. “A ação serve também como amparo para coletivos culturais da cidade, duramente atingidos pela paralisação das atividades imposta pela pandemia desde 2020”, afirma trecho da nota.

Procurada para comentar o assunto, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico da gestão do governador João Doria (PSDB) diz que desde o início de agosto os estabelecimentos podem operar das 6h à 0h em todo estado, com limite de ocupação de até 80%.

A nota informa ainda que o estado dá apoio, porém, são as prefeituras são responsáveis pelas estratégias locais de fiscalização. “O descumprimento das regras prevê autuações com base no Código Sanitário, com multas de até R$ 290 mil. Pela falta do uso de máscara, a multa é de R$ 5.294,38 por estabelecimento para cada infrator. Pessoas em locais de acesso público também podem ser multadas em R$ 552,71 caso descumpram a exigência de uso da proteção”, informa a nota.

Virada da Vacina Sampa | Programação

O que será?
Para vacinar os “novinhos” de 20 a 18 anos, a prefeitura quer realizar 34 horas de vacinação ininterrupta. São esperadas 600 mil pessoas nessa faixa etária.

Quando?
Das 7h deste sábado (14) até 17h do domingo (15).

Cronograma

sábado (14), das 7h às 19h
Quem pode se vacinar: 20 anos e 21 anos
Onde: UBSs, AMAs/UBSs Integradas, megapostos para pedrestes, drive-thrus, farmácias parceiras

sábado (14), após às 19h, e domingo (15), até 17h
Quem pode se vacinar: 19 anos e 18 anos
Onde: UBSs, AMAs/UBSs Integradas, megapostos para pedrestes, drive-thrus, farmácias parceiras e tendas na avenida Paulista

Por Clayton Freitas

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