Variante delta já corresponde a quase 70% das amostras na cidade de São Paulo
A variante delta do coronavírus surgiu em outubro de 2020, na Índia
A variante delta do coronavírus já é predominante na cidade de São Paulo, onde foi encontrada em 69,7% das amostras do vírus sequenciadas recentemente, tirando da liderança a variante gama (P.1), achada em apenas 28,4%.
O levantamento, feito pelo Instituto Butantan junto à prefeitura, identificou 395 novos casos da delta (B.1.617.2, incluindo sublinhagens, como a AY.4) na última semana. Com os novos registros, o município chega a 800 casos da delta desde que ela foi detectada pela primeira vez, em julho.
A Rede de Alerta de Variantes, do Butantan, sequencia cerca de 1,5 mil amostras do vírus semanalmente. Os novos dados se referem à 33ª semana epidemiológica (de 15 a 21 de agosto). Em comparação, na semana epidemiológica anterior, a delta representava 43,5% das amostras sequenciadas na capital, e a gama, 53,58%.
Na cidade do Rio de Janeiro, segundo boletim publicado na terça (31), as amostras da delta já são 96% das sequenciadas nas semanas recentes. Na capital fluminense, a chegada da cepa identificada inicialmente na Índia está associada a uma explosão de novos casos e à lotação de UTIs.
Já na capital paulista, apesar do aumento na frequência, o impacto na rede de saúde pública ainda não foi observado, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. Em nota enviada à reportagem, a pasta afirma que “o número de casos não apresentou curva de crescimento significativa e, por isso, não oferece risco de impacto sobre a rede de saúde pública da capital”.
“Diante do novo cenário de predominância da delta na capital e com a população adulta elegível vacinada, o município realizará testagem de comunicantes de casos positivos de Covid-19 detectados nas UBSs para análise do perfil de transmissão do vírus”, escrevem.
Na última terça (31), o estado de São Paulo registrou ainda a primeira morte de Covid ocasionada por uma infecção da delta. A vítima foi uma mulher de 74 anos que morava em Piracicaba.
Em todo o estado, desde o dia 3 de janeiro até a data do último boletim divulgado (14 de agosto), foram sequenciadas cerca de 20 mil amostras, representando quase 2% do total de testes positivos. As amostras são coletadas pelos DRSs (Departamentos Regionais de Saúde) e enviadas para o Instituto Butantan.
No dia 25 de agosto, a Rede de Alerta de Variantes do Butantan e a Secretaria de Estado de Saúde de SP passaram a adotar o novo critério de classificação da OMS (Organização Mundial da Saúde) para análise e confirmação de casos da variante. Com isso, as sublinhagens de VOCs (sigla em inglês para variantes de preocupação) ou VOIs (variantes de interesse) detectadas devem ser notificadas às autoridades de saúde e as amostras, depositadas na plataforma Gisaid, que reúne sequenciamentos feitos no mundo todo.
A inserção dos dados na plataforma é fundamental para auxiliar em políticas de saúde pública, uma vez que assim outros órgãos podem ter acesso aos dados e fazer inferências sobre os riscos de transmissão. É a partir das amostras do Gisaid que a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), braço da OMS (Organização Mundial da Saúde) nas Américas, faz a estimativa de prevalência das variantes e toma decisões sobre classificação de novas VOIs ou VOCs.
O Butantan tem no momento cerca de 5 mil das 20 mil amostras sequenciadas pelo instituto depositadas no Gisaid. A instituição paulista representa hoje quase um terço de todo o esforço de sequenciamento no país. O instituto afirma, em nota, que vai fazer o registro na plataforma de todas as sequências restantes, de acordo com a resolução SS28 do Instituto Adolfo Lutz, junto à Secretaria Estadual de Saúde.
A variante delta do coronavírus surgiu em outubro de 2020, na Índia, mas foi detectada pela primeira vez em abril deste ano. Desde então, a sua frequência passou de 4% para mais de 90% no país indiano e rapidamente se espalhou pelo mundo, chegando a 170 países e territórios, segundo o último boletim epidemiológico da OMS.
O seu avanço pelo mundo também tem colocado um alerta nas autoridades de saúde e governantes, que veem o aumento de casos, hospitalizações e óbitos mesmo em locais com taxa de vacinação elevada, indicando a necessidade de manter as medidas protetoras por mais tempo.
Pesquisadores também já afirmam que alcançar a chamada imunidade de rebanho com esta cepa é inviável, e que a melhor ferramenta disponível para reduzir novos casos e internações é a vacinação.
No entanto, diversos estudos já apontam para uma leve redução da capacidade protetora das vacinas -de todos os fabricantes- com apenas uma dose frente a essa cepa, mais transmissível e com possibilidade de driblar parcialmente os anticorpos. Completar o esquema vacinal com duas doses é fundamental para conseguir alcançar a eficácia oferecida pelos imunizantes, dizem especialistas.
Além da vacinação, as recomendações de medidas protetoras continuam as mesmas: preferir espaços abertos e ventilados, usar máscaras de boa qualidade, manter distanciamento e sempre higienizar as mãos.
Pessoas vacinadas podem se infectar novamente por qualquer variante e transmitir o vírus para quem não se vacinou. Como a delta tem uma taxa de transmissão mais alta, a chance de uma pessoa vacinada se infectar e contaminar alguém ainda não imunizado existe e preocupa. A sua alta transmissibilidade pode também estar ligada a uma carga viral até 300 vezes maior no organismo de infectados.
Um artigo publicado no último dia 28 na revista The Lancet aponta ainda que a delta pode levar a uma chance de hospitalização até duas vezes maior em pessoas infectadas, em comparação com os que adoeceram com a linhagem alfa. Esse risco é maior para indivíduos não vacinados, de acordo com o estudo. Nos vacinados, a chance de ser internado após uma infecção com a delta ainda é baixa (menos de 2%).
Texto: Ana Bottallo