Unesp de Bauru afasta professor acusado de assédio sexual
Afastamento foi um pedido da comissão de sindicância que investiga as acusações
A Unesp de Bauru, no interior de São Paulo, afastou por um período de 180 dias o professor Marcelo Bulhões, acusado de assédio sexual por estudantes do campus universitário.
O afastamento foi um pedido da comissão de sindicância que investiga as acusações, após discussão sobre os fatos e documentos que fazem parte do processo.
A comissão tem prazo de 60 dias para concluir a investigação. Segundo a Faac (Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design), a sindicância é uma medida administrativa que faz parte do protocolo construído pela Ouvidoria da Unesp para atendimento às vítimas de violência sexual.
“A Faac reitera que toda e qualquer prática de assédio não é tolerada e ressalta a importância da formalização de denúncias, nos vários canais, como a Ouvidoria”, diz nota divulgada pela faculdade nesta quarta-feira (6).
Bulhões, professor de literatura e língua portuguesa no curso de comunicação social, nega as acusações e diz ser vítima de calúnia. Ele afirma que esse tipo de acusação tem propagação implacável nos tempos digitais.
“Sou docente da Unesp desde 1994, ou seja, trata-se de 28 anos de trabalho em sala de aula, tendo atuado ao lado de milhares de alunos, sem que qualquer mínimo indício concreto do que se pode ser classificado como assédio possa ser apontado. Atingem-me do modo mais vil”, afirmou, por meio de nota.
O professor foi alvo de manifestação no campus na sexta-feira (1º), com cartazes que reproduziram mensagens que teriam sido enviadas a alunas. Os cartazes foram colocados em frente ao prédio da Faac.
Além disso, estudantes se reuniram em um dos pátios da universidade e protestaram contra o assédio, batendo palmas e pedindo o fim da prática.
Na terça (5), a deputada estadual Isa Penna (PCdoB-SP) esteve em Bauru para encontrar alunas da Unesp. Ela acompanhou algumas delas à Delegacia de Defesa da Mulher para registrar boletins de ocorrência.
Segunda a parlamentar, a suposta conduta do professor pode ser enquadrada como crime de importunação sexual. Nas redes sociais, Isa divulgou um abaixo-assinado que pede a exoneração de Bulhões. A petição digital tem mais de sete mil assinaturas.
“É muito importante que nossa voz seja respeitada. Não podemos nos calar. Estamos todas juntas”, disse.
A deputada contou ter ouvido 30 relatos, entre alunas que denunciaram o professor em 2018 e casos recentes.
Bulhões já foi alvo de uma sindicância após ser acusado de assédio sexual. A investigação, concluída em 2018, teve como resultado o arquivamento dos autos.
À época, a comissão que avaliou as denúncias, feitas por 12 alunas e ex-alunas do professor, fez uma recomendação de que o docente “venha captar as mudanças sociais e comportamentais da sociedade, para a devida adequação no ambiente de trabalho, abandonando eventuais atitudes ambíguas de tratamento pessoal com os alunos”.
Além de Isa Penna, outros parlamentares se manifestaram sobre as acusações de assédio na Unesp de Bauru. A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) pediu respostas ao caso. “Chega de machismo e violência sexual”, disse.
O deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL-SP) também defendeu o fim do machismo e afirmou que assédio é crime.
VEJA A NOTA DE MARCELO BULHÕES NA ÍNTEGRA
“Foi com estarrecimento que fiquei sabendo que cartazes foram afixados no campus com teor acusatório a mim. Estou ainda chocado. De modo semelhante, foi com enorme e desagradável surpresa que em 2019, em postagem no Facebook, recebi uma acusação de assédio.
Naquela altura, ao tomar conhecimento que um coletivo da Unesp havia feito acusações com esse teor, solicitei uma reunião com o grupo de alunas. Elas recusaram o diálogo. Solicitei essa reunião por, naquela altura, estar totalmente perplexo diante das acusações.
Uma comissão de sindicância foi, então, constituída pela FAAC – Unesp. Após um processo de investigação, o arquivamento do processo se fez precisamente por afiançar que nenhuma ação do teor de assédio foi por mim cometida. No curso do processo, aliás, recebi depoimentos de incondicional apoio e elogio ao meu profissionalismo, escrito por dezenas de alunas que foram minhas orientandas (mestrado, doutorado e iniciação científica). Portanto, só posso afirmar que estou absolutamente estarrecido diante de uma situação que julgo absurda.
Os cartazes, aliás, foram anonimamente forjados e afixados no campus. Sou docente da Unesp desde 1994, ou seja, trata-se de 28 anos de trabalho em sala de aula, tendo atuado ao lado de milhares de alunos, sem que qualquer mínimo indício concreto do que se pode ser classificado como assédio possa ser apontado. Atingem-me do modo mais vil.
Entendo que legítimas e importantes demandas da atualidade -luta contra o racismo, movimento feminista- têm produzido uma mobilização de empatia diante de causas importantes. Nesse caso, todavia, estou sendo vítima de calúnia, cuja propagação em tempos digitais é implacável”.
Por Cristina Camargo