Trabalhador dos Correios de Santo André morre após acidente de trabalho; vítima descarregava caminhão sem uso de empilhadeira 

Trata-se de Mozzart Lopes dos Santos, que trabalhava há 32 anos nos Correios

Um trabalhador dos Correios, do CEE Santo André, SP, morreu no final da tarde desta sexta-feira (18), após sofrer um acidente de trabalho e passar por uma cirurgia cranioencefálica. Trata-se de Mozzart Lopes dos Santos, que trabalhava há 32 anos nos Correios. Ele precisou passar por um procedimento cirúrgico para conter um coágulo na cabeça, causado durante um acidente de trabalho.

Na manhã dessa quinta (17), a vítima precisou descarregar um caminhão, mas não utilizou um carrinho hidráulico [instrumento geralmente usado para este tipo de serviço] porque, segundo trabalhadores que presenciaram a cena, “os carrinhos hidráulicos estão com problemas”. Ainda de acordo os trabalhadores que acompanharam o fato, “esse tipo de carga poderia ter sido descarregada com uma empilhadeira”.

“Mozzart foi descarregar o caminhão, e tem uns hidráulicos [carrinhos hidráulicos] que estão com problema, que não estão funcionando bem (pausa). Enfim (pausa), na hora de sair do caminhão, o CDL [encomenda] que estava com livros [uma pilha de livros] bateu na cabeça dele, daí ele caiu no chão e deu um corte na parte de trás da cabeça dele, o pessoal socorreu ele, teve sangramento no nariz, um corte na cabeça atrás, e foi acionado o SAMU, o SAMU levou ele para o hospital”, descreve áudio-mensagem de um dos trabalhadores.

Indignados, trabalhadores questionam a gestão da estatal quanto a falta de equipamentos de trabalho

“Qual é a negligência que os Correios estão cometendo no fornecimento de equipamento adequado de movimentação de carga nessa unidade que aconteceu essa morte desse trabalhador? Precisa existir a manutenção adequada das paleteiras e das empilhadeiras, para não deixar os trabalhadores quererem descarregar os caminhões na força bruta, que pode ter sido o que ocorreu nesta situação. Se não tiver fazendo a manutenção constante, os equipamentos quebrados se acumulam e há falta de paleteira para movimentação de carga. E isso é uma irregularidade que não deve ser permitida. E no Centro de Tratamento que estiver faltando isso, tem que fazer greve, tem que paralisar as atividades para obrigar a empresa a realizar a manutenção adequada”, questiona um dos funcionários dos Correios, consultado pelo MB.

A paleteira é um equipamento que serve para transportar cargas de um local para outro, sendo muito utilizada no setor logístico. Ela pode ser manual ou elétrica. As paleteiras manuais são hidráulicas e são usadas para facilitar a movimentação de mercadorias paletizadas. Já a empilhadeira serve para elevar cargas em grandes ou pequenas alturas, enquanto a paleteira serve para transportá-las.

Outra questão que os funcionários alegam que está interferindo na segurança dos trabalhadores nos Correios é a falta de cinta para amarrar o chamado CDF, que é a encomenda. O CDL é um conjunto formado por uma base de plástico, o papelão e a tampa.

“Quando se monta um CDL, coloca-se uma cinta em volta, com catraca, para que ele seja travado. Aí ele vira um caixote fechado e não tomba porque existem os encaixes na tampa. Como estão faltando essas cintas para as catracas, o CDL fica solto e aí, caso a carga que esteja dentro deste pacote tombe, o CDL desaba. Há locais dos Correios em que as cargas estão saindo emendadas, sem a base. A situação está tão comum que os próprios trabalhadores apelidaram esses CDL mal montados e sem cintas de SORVETÃO.”, explicou um dos funcionários ao MB.

Procurado pela redação do portal MB, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios Telégrafos e Similares de São Paulo, Grande São Paulo e zona postal de Sorocaba (SINTECT-SP), Elias Diviza, disse “que a direção do sindicato já está cobrando a direção da empresa e a superintendência, o superintendente Renato Rosa, sobre a questão das condições de trabalho neste setor em que aconteceu essa morte por acidente de trabalho”.

Diviza esclareceu que o sindicato também está cobrando que sejam colocadas empilhadeiras em todos os setores necessários.

“Que a empresa reoriente os trabalhadores novamente, porque o sindicato já vem fiscalizando a SIPA, fiscalizando as unidades. O SINTECT-SP e a FINDECT repudiam quaisquer tipos de desleixo por parte da direção da empresa pela falta de condições de trabalho. Nosso diretor sindical, José Luiz, acompanhou toda a situação do trabalhador Mozzart, que veio a falecer, mas desde o começo ao fim, nosso diretor sindical acompanhou essa situação”.

O portal Mais Brasília (MB) demandou a assessoria de imprensa dos Correios, sem sucesso.

Ainda na sexta (18), a Presidência dos Correios publicou uma mensagem em edição extra do Primeira Hora, boletim informativo interno oficial da estatal, lamentando o ocorrido e informando que “as condições de trabalho no local foram verificadas e foram consideradas regulares”. Porém, a Presidência ainda acrescentou que está “conduzindo apuração rigorosa para entender todo o ocorrido”.

*Essa matéria foi atualizada às 15h04 para acrescentar a posição do sindicato e a nota do boletim Primeira Hora

*Essa matéria foi atualizada às 15h49 para correção de título 

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