Site da Prefeitura de São Paulo é hackeado e promove festival de sexo oral e livro de Hitler

A proposta do site, lançado em agosto de 2014, é dar espaço para que qualquer paulistano colabore com a prefeitura no levantamento de projetos e eventos em seu bairro

Um site da Prefeitura de São Paulo tem dado espaço a ideias nazistas e supostos eventos pornográficos. Quem entrava até esta terça-feira na plataforma SPCultura, criada pela Secretaria Municipal de Cultura para fazer mapeamento e gestão cultural da cidade, era exposto a suásticas e imagens de sexo explicito.

Procurada, a prefeitura paulistana não respondeu até a publicação desta reportagem, mas retirou o site SPCultura do ar logo após a reportagem entrar em contato.

A proposta do site, lançado em agosto de 2014, é dar espaço para que qualquer paulistano colabore com a prefeitura no levantamento de projetos e eventos em seu bairro. Além disso, o cadastro do site é usado para facilitar inscrições em editais de fomento à cultura no município, como a Lei Aldir Blanc.

Mas, em 11 de dezembro do ano passado, o registro do suposto evento “Está pesquisando por Hotmail entrar?”, na categoria “Edital”, deu início a uma série de spams e anúncios falsos na plataforma. Semelhante a fóruns como o 4chan, em que usuários podem divulgar de forma anônima imagens e textos sem qualquer censura ao conteúdo, a listagem de projetos no SPCultura chama a atenção.

Um anúncio na categoria “Exibição” divulga o livro “Minha Luta”, ou “Mein Kampf”, no original em alemão, escrito por Adolf Hitler. A obra é considerada a “Bíblia nazista”, em que o ex-chefe de Estado expressou sua ideologia e ódio ao povo judeu.

A descrição do anúncio, criado por um usuário da plataforma que se identificou apenas como Paulo, divulga uma mensagem conflitante e racista. “Livro de qualidade referente a conteúdo em prol dos movimentos LGBTs, BLM e Sinistas. Arquivos e interlúdio retentores de conhecimento, toda matéria apresentada no projeto é apenas para ampliação de seu nível intelectual. Morte aos semitas sujos.”

Um link hospedado no site da prefeitura também direciona o usuário para o livro, em formato de arquivo PDF, que pode ser baixado na íntegra.

No perfil do usuário Paulo, criado no dia 20 de julho deste ano, além do brasão nazista usado como capa e a imagem de Hitler como avatar, pode ser encontrado o número de telefone e email do cadastro -essas informações, mais um CPF válido, são requisitadas para o cadastro na plataforma.

Divulgar preconceito e ódio não era a ideia inicial do site. Criada na gestão do ex-ministro Juca Ferreira enquanto era secretário municipal de Cultura do ex-prefeito Fernando Haddad, do PT, a ferramenta colaborativa pretendia ajudar a prefeitura a mapear os eventos, projetos e iniciativas culturais em toda a cidade.

Ferreira comenta que o SPCultura também auxiliava no fomento do setor cultural da capital paulista. “Criamos esse site para ampliar a comunicação da população de São Paulo, um povo diversificado e com várias classes sociais, com territórios diversos. Então um mecanismo desse era importante para conhecer a cidade e as pessoas que vivem nela.”

O ex-secretário avalia que algumas políticas de cultura criadas pela secretaria só teriam eficácia se a população soubesse da existência dela. “Constatamos que nem todo mundo tinha informações sobre os editais, então nós criamos esse canal para que todo o setor cultural da cidade pudesse ter acesso. Essa plataforma interativa ajudava a prefeitura a saber as demandas culturais da capital. Era para nós uma via de mão dupla”, diz Ferreira.Atualmente, o setor artístico usa a plataforma apenas para facilitar o processo de inscrição

nos editais de incentivos financeiros à classe. Isso porque, para participar da Lei Aldir Blanc, é sugerido que antes o usuário faça um perfil completo no site SPCultura.

Foi com essa ideia que o ator Vini Franzolini usou a plataforma para inscrever um de seus projetos. Ele registrou o projeto “O Canto da Sereia me Chamou”, peça autoral em que ele também atua, com a expectativa de receber o apoio financeiro, o que não aconteceu.

“Eu não sabia que o site estava desse jeito. É muito triste para a cultura e para a cidade de São Paulo ver ele assim abandonado”, afirma Franzolini, que, após falar com a reportagem, deletou o seu perfil da plataforma.

Outra inscrição que aparece na lista, abaixo de 306 anúncios divulgando a personagem Akari do anime japonês “YuruYuri” e de um projeto chamado “Festival de Chupar Meu Pau”, é o “Rapadura Musical”, voltado para crianças de sete a 14 anos e publicado pelo Centro de Incentivo à Arte e à Música.

Assim como Franzolini, a organização do evento usou a plataforma para divulgar o projeto, que vai até o dia 9 de setembro, e buscar recursos financeiros.

Por Jairo Malta

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