Sistema que cria gelo em planta é arma contra geada – Mais Brasília
FolhaPress

Sistema que cria gelo em planta é arma contra geada

A Epagri publicou uma lista com dicas para produtores enfrentarem as baixas temperaturas

Foto: Eduardo Amorim/Flickr

Produtores rurais começam a se preparar para a chegada da nova onda de frio intenso ao país. Nas regiões Sul e Sudeste, agricultores planejam para os próximos dias a adoção de técnicas que buscam evitar -ou atenuar- prejuízos da geada em parte das plantações.
É o caso do produtor de frutas Marcelo Luiz Suzin, que mora no município catarinense de Videira, a cerca de 450 quilômetros de Florianópolis.

Com a previsão de geada ao longo da semana, o agricultor pretende acionar o sistema de irrigação por aspersão no pomar em que cultiva pêssegos e nectarinas. Como as culturas estão em etapa de brotação, a queda abrupta das temperaturas representa uma ameaça.

O sistema de irrigação funciona assim: a água liberada atinge os brotos e, devido ao frio, forma uma espécie de camada de gelo no entorno. Essa camada de proteção impede que a temperatura fique abaixo de 0°C nas plantas, o que seria um risco. As perdas ocorrem quando os termômetros ficam abaixo de -1,5°C, diz a Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), vinculada ao governo catarinense.

“Estamos preparados, com água suficiente no reservatório”, conta Suzin. A nova onda de frio intenso está relacionada à chegada de massa de ar polar ao Sul nesta terça-feira (27). A previsão é que a bolha de ar gélido avance por estados do Centro-Oeste e do Sudeste nesta quarta-feira (28), segundo a Metsul Meteorologia. Há possibilidade de Rio Grande do Sul e Santa Catarina enfrentarem de seis a sete dias seguidos com mínimas abaixo de 0ºC a partir desta semana.

Diante da situação, a Epagri publicou uma lista com dicas para produtores enfrentarem as baixas temperaturas nas lavouras. Uma das principais preocupações é com as culturas como a do pêssego, que já está em fase mais avançada de brotação.

Nesse caso, o sistema de irrigação por aspersão é a saída indicada para lidar com o frio, destaca o coordenador de fruticultura da Epagri, Sergio Neres da Veiga. No entanto, lembra o técnico, nem todas as plantações têm esse sistema.

No caso de hortaliças, a recomendação é o uso de aspersores no dia em que a geada ocorre, até o nascer do sol. Como a água tem temperatura maior em relação ao ambiente em momentos de frio intenso, forma-se uma camada de vapor que protege as plantas do congelamento.

Outra preocupação, diz Veiga, é com culturas como a banana. Nesse caso, a recomendação é que os produtores cubram os cachos com sacos plásticos. “A maior preocupação aqui é com frutas e hortaliças”, aponta Veiga.

“Também há regiões do interior do estado com fumo plantado, e a geada pode complicar. Parte do pessoal adiantou a produção, pensando em ter um preço um pouco melhor e um produto de maior qualidade, porque o fumo não pegaria o sol forte de dezembro e janeiro. Mas o problema pode ser o frio agora”, acrescenta.

No Paraná, um dos estados com maior produção de grãos do país, a maior preocupação é sobre as lavouras de milho que estão próximas da colheita. Como o plantio já ocorreu tardiamente em razão da seca e de atrasos na safra anterior de soja, até 50% da produção pode ser atingida no estado, como prevê a Secretaria de Agricultura e Abastecimento.

Segundo o coordenador de Grãos do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná-Iapar-Emater (IDR-Paraná), Edivan Possamai, como se trata de uma cultura de verão, a proteção não é viável. Assim, a única garantia para o produtor está no seguro da lavoura.

A estiagem e as geadas já prejudicaram o volume das pastagens nas regiões norte e noroeste do estado, impondo um desafio a mais aos produtores de gado de corte. A coordenadora da área no IDR-Paraná, Kátia Gobbi, recomenda a suplementação com silagem e feno, além de milho e farelo de soja, produtos mais custosos em relação ao pasto.

Ela também indica as gramíneas de inverno, mais resistentes ao frio. Já nas culturas de cereais, como o trigo, é possível utilizar soluções naturais à base de aminoácidos, que aceleram o metabolismo da planta, pois a geada pode causar uma paralisação no seu desenvolvimento.

As folhagens também necessitam de muita proteção nos dias mais frios, já que são mais sensíveis às geadas. Como aponta Paulo Hidalgo, coordenador estadual de Olericultura do IDR-Paraná, o entorno das estufas deve ser fechado para proteger o cultivo e a irrigação deve ser interrompida antes da onda de frio, para que as folhas não fiquem cobertas pelo gelo.

Em plantações abertas, o monitoramento é mais complexo. Mesmo assim, o produtor pode cobrir as folhagens com lona de TNT e aquecê-las com fumaça. Além disso, desde que com antecedência, as plantas podem ser pulverizadas com sal para diminuir o ponto de congelamento das folhas.

O produtor de hortaliças José Lourenço Cordeiro, de Mandaguari, a 400 quilômetros de Curitiba, começou a cobrir uma área plantada de 3.500 metros quadrados com TNT nesta terça. A meta é terminar o procedimento nesta quarta. Cordeiro, que trabalha com produtos orgânicos, teme que o frio ameace itens como repolho, em estágio mais avançado de produção.
“Com a cobertura, a gente consegue evitar 80% dos prejuízos”, projeta o produtor.

A chegada de uma nova frente fria também preocupa cafeicultores. Em Minas Gerais, o registro de geada já provocou perdas em lavouras neste mês. No estágio atual de cultivo, o produtor acaba ficando sem alternativas para proteger as plantações.

“O frio é algo que está fora da gestão do produtor nesse caso. A gente normalmente faz orientações preventivas na hora de implantar as lavouras. A agricultura é uma indústria a céu aberto”, compara Ana Carolina Alves Gomes, analista de Agronegócios do Sistema Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais).

Em Minas, a geada já registrada neste mês também afetou outras culturas, como cana-de-açúcar, citrus, grãos, pastagem para pecuária, frutas e hortaliças. A Faemg divulgou, em seu site, uma lista com orientações para produtores que amargaram prejuízos. O material aborda pontos como acesso ao seguro rural e renegociação de débitos.

 

Texto: LEONARDO VIECELI E KATNA BARAN