Sindicato do Rio denuncia rombo dos Correios ao MPF; gestão colocou balanço financeiro em sigilo – Mais Brasília
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Sindicato do Rio denuncia rombo dos Correios ao MPF; gestão colocou balanço financeiro em sigilo

A denúncia será protocolada ainda nesta sexta (7), disse Snt'Aguida ao Mais Brasília

Foto: Reprodução

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos do Rio de Janeiro (Sintect-RJ), Marcos Snt’Aguida, protocolou, na manhã desta sexta-feira (7), uma denúncia no Ministério Público Federal (MPF), sobre o caso do rombo de R$ 800 milhões dos Correios, ocorrido no primeiro trimestre desde 2024 e ainda sob sigilo na estatal.

Ainda na manhã desta sexta, fonte do MB da presidência dos Correios adiantou à reportagem que o rombo e/ou prejuízo dos Correios – somente neste mês de maio de 2024 – é de aproximadamente R$ 240 milhões.

Durante esta semana, fontes no Congresso revelaram ao Mais Brasília (MB) que deputados e senadores “vão entrar com medidas no STF e MPF para abrir caixa dos Correios e auditar os balanços da empresa.”

“Protocolei hoje denúncia no MPF sobre o rombo destes 800 milhões. Tenho 47 anos de Correios. Tenho certeza de que o presidente Lula não sabe de todos os fatos, dos desmandos.”, adiantou o presidente do Sintect-RJ.

Segundo o sindicalista, “o atual presidente dos Correios estaria interferindo nas eleições sindicais.” “Ele quis interferir nas eleições do Sintect-RJ, colocou ‘meninos de recado’, isso está ocorrendo com oferta de cargos porque a direção do sindicato do Rio foi para cima dele. Eu sei que na eleição do Postalis houve tentativa de cassar uma chapa eleita. Tem gente que gosta do afago de cargos. Tenho testemunhas, provas com relação a isso.”

Snt’Aguida acredita que “a proximidade da direção nacional dos Correios com alguns dirigentes sindicais da FENTECT estaria comprometendo as conquistas trabalhistas e expondo a administração a duras críticas.”

Para além disso, “a assinatura de um acordo coletivo de trabalho cheio de inconsistências durante a última Campanha Salarial, envolvendo a presidência dos Correios e alguns sindicalistas da FENTECT levantou sérias suspeitas. Por que o presidente dos Correios aprovou um acordo prejudicial em conluio com alguns dirigentes sindicais, sacrificando os interesses dos trabalhadores? Recentemente, a direção dos Correios apoiou esses mesmos sindicalistas nas eleições sindicais do Rio de Janeiro, fui informado de que receberam verbas consideráveis para financiar suas campanhas e disseminar informações falsas.”

Atualmente, a FENTECT tem 31 dos 36 sindicatos dos Correios em todo o país. Cinco destes sindicatos, localizados no Rio de Janeiro, São Paulo, Bauru, Maranhão e Tocantins, não pertentem a Federação.

 

CONCORRÊNCIA: 

Outra cobrança do sindicato do Rio é em relação a uma promessa de que os Correios seriam modernizados para entrar no E-Commerce, um dos nichos que mais cresce economicamente em todo o mundo, já que atualmente as pessoas compram diretamente pela internet.

“Nós também queremos cobrar o porquê de os Correios ainda não terem se inserido no Marketplace, no E-Commerce. Como as pessoas compram pela internet, está ocorrendo o crescimento rápido de empresas concorrentes como o Mercado Livre, Shopee. E os Correios apresentando um serviço ruim para a população, em razão da não contratação de trabalhadores há mais de duas décadas. Com isso, há uma sobrecarga em cima dos trabalhadores dos Correios e a empresa não consegue entregar os objetos [as mercadorias] em um período hábil. Essas outras empresas que estão conseguindo ‘arrancar’ da população todo o apoio e simpatia. Eu pergunto diretamente a Fabiano: Porque você, já a um ano e meio, ainda não colocou os Correios dentro do E-Comerce? O que é que está acontecendo?”

 

PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO: 

Ao Mais Brasília, em resposta às denúncias do Sintec-RJ, Emerson Marcelo Gomes Marinho, secretário-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares (FENTECT), pontuou os seguintes aspectos:

“Se eu não sentar com o patrão [direção nacional], outro caminho é ir para a Justiça, judicializar a causa. Isso [que se está ventilando] é uma narrativa proveniente de um discurso político. Meu antecessor [ex-presidente da Federação] estava lá há mais de 13 anos. Isso está gerando um desconforto. O presidente do Sintect-RJ está há 30 anos ali e por isso esta raiva toda dele. O costume do cachimbo deixa a boca torta. Eles não aceitaram a derrota. Nós estamos disputando bases sindicais. Neste momento está ocorrendo uma eleição. Nós fazemos o nosso papel institucional. Nós defendemos o interesse dos trabalhadores. E se defender o interesse dos trabalhadores, for sentar com o patrão, eu sento”.

“Não existe nenhum inconsistência sobre o Acordo Salarial assinado. O próprio sindicato do Rio aprovou o mesmíssimo acordo que a Federação aprovou. Até hoje eles, o Sintect-RJ não consegue demonstrar as tais inconsistências ditas por eles mesmos. Se eles acham que há irregularidades, por que não foram à Justiça. A primeira campanha salarial que fizemos, eu trouxe 41 cláusulas das 50 que Bolsonaro retirou em 2020.”.

“O existe hoje é uma disputa de narrativas, dentro de uma disputa política não terminada devido à última eleição que me elegeu a secretário-geral [presidente]”, finaliza Emerson.

 

RESPOSTA DOS CORREIOS

Acerca do prejuízo e/ou rombo, que está sob sigilo no Demonstrativo Econômico (balanço financeiro) dos Correios, em nota, a estatal disse ao Mais Brasília, via e-mail, semana retrasada, quando as denúncias começaram a ser publicadas, que “a empresa não irá se manifestar”.

Na sexta (7) pela manhã, a reportagem do MB também questionou a estatal quanto às denúncias apresentadas pelo Sintect-RJ, de que a direção nacional estaria interferindo em eleições sindicais. Até o fechamento desta reportagem, os Correios não retornaram. O portal continua disponível para resposta oficial dos Correios.

 

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DOS CORREIOS 

Na quinta (6), o MB também contatou membros do Conselho de Administração dos Correios. Composto por sete membros, apenas um deles – o conselheiro Luiz Carlos Gomes – é eleito pela categoria. Os outros, em diferentes e importantíssimas funções, são indicados, geralmente por ministérios governamentais. O órgão em questão serve para fiscalizar a gestão.

Segundo estatuto, o Conselho de Administração é o órgão de deliberação estratégica e colegiada e tem como função zelar pela continuidade dos serviços, observados os índices de confiabilidade, qualidade, eficiência e outros requisitos fixados pelo ministério supervisor, pela transparência, eficácia e legalidade da gestão, pela proteção e valorização do patrimônio da Empresa e pela maximização do retorno do investimento. Portanto, o o Conselho pode – por exemplo – solicitar auditoria para a estatal, caso entenda ser medida necessária.

Contatado, o conselheiro eleito, em um primeiro momento, adiantou à reportagem que quaisquer questões referentes aos Correios deveriam ser tratadas via assessoria de imprensa. “Assuntos dos Correios é com Assessoria de Comunicação da própria empresa. Já tenho um canal exclusivo com todos os funcionários dos Correios. Eles são informados de todas as definições oficiais. Já reporto a todos sem distinção.”, disse.

Ao conselheiro, a reportagem do MB questionou o seguinte:

  1. Como conselheiro, o senhor tem noção da previsão orçamentária dos Correios até o final do ano?
  2. O senhor concorda com o relatório econômico financeiro dos Correios estar – pela primeira vez na história da estatal – em sigilo?
  3. Se o senhor fosse o dono da empresa e tivesse um prejuízo, como conselheiro do Conselho de Administração, o que faria?
  4. Sobre essas lojas piratas, o senhor sabe que Tribunal de Contas já está investigando essa questão dessas lojas piratas?
  5. Se um carteiro perde uma encomenda, ele tem que pagar; se existe uma diferença no caixa de um atendente, ele tem que pagar do próprio bolso; porque então, com um rombo e/ou prejuízo desses, a presidência não é responsável e não dá sequer uma explicação?

Minutos depois, ainda na quinta, solícito, Luiz Carlos Gomes comprometeu-se a responder aos questionamentos da reportagem do MB pela manhã de sexta. Até o fechamento dessa reportagem, no início da tarde desta sexta (7), o conselheiro adiantou ao MB que estava em reunião e que, até as 15h30, retornaria com as respostas. O portal aguarda.

As perguntas acima levadas pelo MB ao conhecimento do conselheiro foram elaboradas a partir das dezenas que ligações que o Mais Brasília está recebendo de carteiros de todo o país.