Servidor faz ronda no Carnaval de Salvador e acha irmão catador de latinhas após 15 anos
Joaquim Donato dos Santos Júnior, 36, atuava no apoio a pessoas em vulnerabilidade quando encontrou Vitor Silva Santos, 42
Foi um reencontro de Carnaval. Dois irmãos, um servidor municipal e um catador de materiais recicláveis, acharam-se na última sexta-feira (9) nas proximidades do circuito do Campo Grande, em Salvador. Eles estavam afastados havia 15 anos.
Joaquim Donato dos Santos Júnior, 36, é educador social e trabalha na Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza, em Salvador. Vitor Silva Santos, 42, é catador de recicláveis e vive com a família na região do bairro Sete de Abril.
Em plantão durante o Carnaval, Joaquim atuou no projeto de rondas sociais, voltado para combate ao trabalho infantil e que presta apoio aos catadores, com refeições diárias.
Vitor, por sua vez, aproveitou a movimentação de foliões no Carnaval e veio com a família para o circuito da festa. Ele atuou catando latas na de alumínio e também ajudou a esposa, que conseguiu uma licença de ambulante para vender bebidas durante os sete dias de festa.
O encontro aconteceu na região do Dois de Julho, que fica no entorno do circuito entre o Campo Grande e a praça Castro Alves. Ambos estavam em uma das duas bases do Catafolia, base de apoio da prefeitura para os catadores que oferece alimentação, banheiros e espaço para banho dos profissionais.
“Foi emocionante, a gente só fez chorar. Eu nem acreditei, na verdade, cheguei em casa estatelado, sem acreditar mesmo”, diz Joaquim ao relembrar o encontro. Vitor, por sua vez, disse que estava desacreditado em reencontrar o irmão.
No mesmo dia, Joaquim foi até o local do isopor onde Vitor está trabalhando com a esposa Dora, vendendo bebidas no Carnaval. Na ocasião, viu fotos da sobrinha de 9 anos, que ainda não conhece pessoalmente: “É uma fofa”, derrete-se.
Joaquim e Vitor são filhos de uma família de quatro irmãos marcada por perdas e tragédias. A irmã Ana Paula morreu atropelada em um acidente na região do Dique do Tororó, em Salvador, e o irmão Marcos morreu afogado em Pituaçu.
Únicos dos quatro irmãos que estão vivos, os dois se encontraram pela última vez em 2009 no cemitério, após a morte do pai, ocasião em que se abraçaram e choraram juntos, emocionados.
O pai era um dos elos que os unia –os dois são filhos de mães diferentes e foram criados em casas separadas. Afastou-se do pai, com quem não tinha relação próxima, após uma briga.
Depois da separação, Vitor enfrentou problemas com alcoolismo, viveu em situação de vulnerabilidade e em foi internado em centros de reabilitação.
Deixou as ruas há nove anos, depois que conheceu a esposa Dora e se tornou pai. A família passou a morar em uma pequena casa no bairro de Itinga.
No período em que estiveram afastados, Joaquim percorreu bairros de Salvador e da cidade vizinha de Lauro de Freitas, mas não conseguiu informações obre o seu paradeiro do irmão.
Vitor também não possui perfil em redes sociais: “Não tenho rede social, não tenho Facebook, Instagram, não tenho nada. Só tenho eu mesmo.”
Depois do reencontro, Joaquim e Vitor prometem manter o contato, retomar os laços e levar para a vida o que foi um reencontro de Carnaval. Na próxima sexta-feira (16) farão uma confraternização em família.
“Agora, vou cuidar dele”, diz Joaquim a Vitor, que promete não mais ficar longe do irmão: “Ninguém vai nos separar.”