Sem blocos de rua, foliões se chateiam e cancelam viagens
Rio de Janeiro, Olinda, Recife, Salvador e São Paulo cancelaram as festas na rua
Em tempos não pandêmicos, foliões ansiosos já começariam a tirar a fantasia, o glitter e animação do armário. Porém, os planos para este ano foram por água abaixo.
Com a explosão de casos da Covid-19 no Brasil, os principais destinos para o feriado já cancelaram as festas na rua, como Rio de Janeiro, Olinda, Recife, Salvador e São Paulo.
Quem se programou para viajar no fim de fevereiro na expectativa de curtir o primeiro bloco de rua pós-pandemia foi obrigado a rever os planos. Ou, ainda, encontrar companheiros que topem arriscar a saúde para manter a programação.
A publicitária Paula Morais, 23, não pretende desistir da viagem ao Rio de Janeiro. Ela já tinha alugado um apartamento em Copacabana com mais duas amigas. Em meio aos números alarmantes da pandemia no país e ausência dos blocos na rua, as companheiras de Morais cancelaram a ida e ela está em busca de novas parcerias para curtir o feriado.
Quando as amigas cancelaram a ida, a publicitária ficou “bem chateada e brava”. Morais relata que era sonho antigo ir ao Rio curtir o Carnaval, mas que nunca tinha conseguido. O aumento de casos de coronavírus, diz ela, “era algo de se esperar depois do Ano-Novo”.
“Eu estava animada e sabia que a situação estaria assim. Mas, mesmo assim, assumimos o risco de começar a pagar e nos organizar”, lamenta. A foliã concorda que “a vida normal vai demorar para voltar e talvez nem seja como era antes”. A doença, a seu ver, vai existir sempre. “Óbvio, tem que tomar vacina e tudo, mas acho que temos que voltar a viver um pouco, sabe?”
Também publicitário, Pedro Mamone, 24, organizava uma ida ao Rio com outros sete amigos desde agosto do ano passado. “Tínhamos a expectativa de a vida voltar ao normal. Pensei que não fosse possível que desse errado neste ano com a vacinação avançada. Mas, mesmo assim, deu tudo errado.”
Agora, ele e os amigos avaliam se vale a pena ir ao Rio ou se assumem a multa do cancelamento do apartamento que já estava pago. “As festas são caríssimas. Eu não acho que vale a pena ir se não tivermos blocos. É uma época que tem muito mais gente, é tudo muito mais caro e perigoso”, avalia.
Em meio à indecisão do que fazer com os dias de folga, a solução encontrada pelo grupo de amigos de Luan Munck, 20, foi procurar uma chácara ou sítio no sul de Minas Gerais.
Ao todo, ele iria com mais seis amigos ao Rio de Janeiro para a casa de um familiar e, por isso, cancelar a viagem não acarretou nenhum prejuízo financeiro. “Ao menos, vamos conseguir aproveitar algo. Se tivéssemos algum prejuízo, talvez eu até desanimaria”, diz ele.
Longe dos blocos cariocas, a economista Mariana Guidoni, 31, planejou repetir a dose de outros anos e pular Carnaval nas ladeiras de Olinda. “Era o que eu mais queria depois da pandemia”, diz.
Por isso, em outubro, ela e um grupo de cerca de 20 amigos começaram a organizar a viagem. “A viagem dava uma sensação de retorno à vida real, faz tempo que não faço uma viagem com tantas pessoas. Além disso, a pandemia limitou esse tipo de evento, mas, infelizmente, não está indo embora tão rapidamente”, diz.
Com o avanço da vacinação, ela também estava otimista com a possibilidade de curtir o feriado. Mas a falta de blocos de rua numa cidade conhecida pelo clima festivo desanimou a economista, que cancelou a passagem e o aluguel da casa.
Agora, longe da folia, ela busca por um destino mais tranquilo. O destino final ainda é incerto, talvez alguma praia de São Paulo ou Rio de Janeiro, ou, se nada der certo, do Nordeste.
Assim como os outros foliões, a veterinária Tayane Rios, 29, achou que 2022 seria o ano do retorno do Carnaval. Há dois anos, no início da pandemia, ela garantiu o vale abadá para Salvador com outros quatro amigos e, na Black Friday de 2021, garantiu a passagem para Salvador.
“Compramos no início da pandemia na esperança que durasse um ano. Quando a vacinação começou, ficamos ainda mais esperançosos”, afirma.
Ela resolveu arriscar a viagem e pensou na possibilidade de curtir a capital baiana, no caso do cancelamento dos blocos. Agora, porém, ela tenta reembolso do vale abadá e das passagens aéreas. Curtir a cidade agora, diz ela, ainda é uma possibilidade, mas não o que deseja.
“Se me deram a chance de remarcar, eu não penso duas vezes. Hoje, eu me sinto bem insegura e desanimada para viajar com tanta variante à solta”, lamenta ela.
Por Isabella Menon