Recuperação de paciente com AVC depende de atendimento rápido

Segundo especialistas, quanto menor for o tempo de espera, maior é a chance de sobrevivência

A partir do momento em que uma pessoa sofre um AVC (acidente vascular cerebral), ela perde dois milhões de neurônios por minuto -o cérebro tem 86 bilhões. Por isso, quanto mais rápido for o diagnóstico e o tratamento, maior a chance que o paciente tem de sobreviver à doença e não ficar com sequelas graves.

Essa foi uma das conclusões do seminário AVC: Desafios e Inovações para Prevenção, Atendimento e Tratamento, promovido pelo jornal Folha de S.Paulo, com patrocínio do Hospital Sírio-Libanês e da empresa biofarmacêutica Allergan. O evento foi realizado na última quinta (4) e teve mediação da jornalista Ana Bottallo.

Suzete Farias, gerente-médica de multiespecialidades do Idor Bahia (Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa), explica que existem duas formas de tratar um derrame do tipo isquêmico -quando há entupimento da artéria que bombeia sangue para o cérebro.

É possível usar a trombectomia mecânica para aspirar a placa de gordura causadora da interrupção do fluxo sanguíneo ou aplicar medicamentos intravenosos capazes de dissolver o coágulo. O segundo caso, no entanto, só pode ser feito até quatro horas e meia depois do início dos sintomas.

A médica alerta para a necessidade de reconhecer os sintomas e procurar o serviço de saúde certo. “Não adianta ir para qualquer emergência, porque somente hospitais que têm protocolos de AVC instituídos e organizados terão condições de atender o paciente da forma adequada.”

Uma alternativa é acessar o aplicativo AVC Brasil, que mapeia os locais que possuem atendimento para a doença.

Segundo Jose Guilherme Mendes Pereira Caldas, coordenador médico do Serviço de Neurorradiologia Intervencionista do Hospital Sírio-Libanês, já existem exames avançados para verificar o estado das artérias e evitar um AVC.

O especialista afirma que é comum que pessoas com mais de 45 anos sejam submetidas a um procedimento de checagem das artérias do pescoço, porque, nessa idade, já pode haver formação de placas. Elas, por sua vez, podem causar um êmbolo, responsável pela interrupção do fluxo sanguíneo.

Caldas diz que, para prevenir a doença, o mais importante é ter um estilo de vida saudável. “Não pode ter pressão alta, o diabetes tem que ser controlado e é necessário evitar o tabagismo e o álcool.”

A Covid também se tornou um fator que pode agravar casos de derrame. Suzete Farias participou de um estudo feito em 2020 com 100 vítimas da doença de seis hospitais do país. Fazendo a tomografia de crânio e coletando o exame PCR, conseguiram relacionar as duas enfermidades.

Segundo Farias, pessoas com fatores de risco têm chance de sofrer AVC aumentadas com a Covid-19 devido à lesão vascular, a hipercoagulabilidade e o estado pró-inflamatório causados pelo vírus.

Mesmo que haja um esforço na rapidez do atendimento e na prevenção do derrame, de 60% a 70% das pessoas desenvolvem algum tipo de incapacidade, segundo Linamara Rizzo Battistella, umas das coordenadoras do grupo de desenvolvimento das diretrizes de reabilitação relacionadas à saúde da OMS/WHO. Cerca de 40% dos pacientes criam alguma dependência mais grave durante toda a vida.

Para que a recuperação seja a melhor possível, a médica diz que é preciso fazer um tratamento intensivo nas duas semanas seguintes ao derrame. Três áreas precisam ser contempladas: comunicação, mobilidade e parte sensorial, trabalhadas em conjunto.

“O completo bem-estar não significa andar como se andava antes, mas estar apto para uma boa interação social. O dever da equipe é orientar o paciente para que o tratamento seja mantido intensamente no hospital, no centro de reabilitação e depois em casa, para a vida toda.”

Battistella cita tecnologias que podem ajudar na recuperação. É o caso do uso de robôs, que auxiliam na movimentação dos membros, e a espectroscopia por infravermelho, que verifica o quanto o movimento está melhorando alguma parte do cérebro.

Nesse mesmo sentido, Suzete Farias, do IDOR, participa de uma pesquisa que realiza a estimulação periférica para avaliar qual a resposta motora que os pacientes apresentam antes e depois. Isso permite avaliar a melhor forma de tratamento.

O estudo tem centros de pesquisa em São Paulo e em Salvador e voluntários podem se inscrever pelo link: https://redcap.link/restores.

Sem aviso

O escritor Raimundo Carrero, 73, também presente no evento, foi vítima de um AVC em 2010. Ele conta que tentou levantar da cama durante a noite, mas não conseguiu.

A ambulância foi chamada, e o escritor levado ao hospital, onde realizou exames e foi conduzido à UTI. Depois, ele passou por fisioterapia.

“O que mais me impressiona é que eu não senti nada antes de ter o AVC”, conta. Hoje, ele ainda não consegue mexer a mão esquerda.

Carrero suspeita que o caso possa estar ligado ao consumo abusivo de álcool que fazia parte de seu cotidiano.

Suzete Farias diz que os sintomas da doença vêm de forma súbita e dependem de qual parte do cérebro foi atingida.

“Temos um mapa do cérebro e cada área tem uma função específica: tem a área da movimentação, tem a área da fala, tem a área da visão”, explica.

Para que seja possível identificar um caso de derrame em casa, ela indica a técnica do S.A.M.U., sigla que define alguns comandos a serem realizados por quem está com suspeita da doença.

Na abertura do seminário, Marco Paschoalin, diretor médico da AbbVie, empresa farmacêutica, apontou a importância de se ampliar os conhecimentos sobre o AVC.

“É importante que o paciente tenha consciência de que existem maneiras de amenizar as sequelas para que ele possa ter o máximo de normalidade em sua vida -e até que possa ter, em muitos casos, uma completa recuperação”, diz Paschoalin.

Entenda a técnica apelidada de S.A.M.U.

Dica serve para facilitar a identificação de casos de AVC

S (sorriso)
Peça para a pessoa sorrir. Vítimas de derrame normalmente fazem o movimento de forma torta;

A (abraço)
Peça para a pessoa tentar dar um abraço. A dificuldade para realizar o movimento, pode indicar um AVC;

M (música)
Peça para a pessoa cantar. Pacientes com derrame têm dificuldade para falar;

U (urgência)
Caso o paciente tenha tido dificuldade para realizar as etapas anteriores, chame uma ambulância e vá a um hospital que tenha protocolo para atender pessoas com AVC.

Por Paulo Ricardo Martins

 

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