Proteção celular contra ômicron se mantém elevada com 2 doses de vacina de Covid, diz estudo

Todas as vacinas produziram células de defesa

ANA BOTTALLO
Frente à explosão recente de casos de Covid em todo mundo impulsionada pela variante ômicron, muitas pessoas se perguntaram se as vacinas contra Covid continuam eficazes.

A aposta principal dos cientistas era para uma resposta protetora duradoura contra casos graves, hospitalizações e óbitos, gerada por células de memória capazes de controlar a infecção do organismo frente a um invasor.

Apesar de a ômicron gerar uma queda nos anticorpos neutralizantes produzidos após a vacinação, os imunizantes se mostraram até agora eficazes em proteger contra hospitalização e mortes por Covid, principalmente em indivíduos com esquema vacinal primário completo (duas doses ou dose única, no caso da Janssen) ou que receberam doses de reforço.

Agora, uma pesquisa divulgada recentemente comprova que a imunidade de memória, produzida por células de defesa, se mantém elevada contra a ômicron, assim como contra outras variantes.

O estudo, que conta com pesquisadores americanos e holandeses, foi divulgado na última quinta (3) no periódico especializado Science Immunology.
Para avaliar a resposta protetora após vacinação, os cientistas analisaram os anticorpos e células de defesa do tipo T (CD4+ e CD8+, responsáveis por atacar patógenos e células infectadas) de 400 indivíduos vacinados que receberam duas doses das vacinas Oxford/AstraZeneca, Moderna, Pfizer ou dose única da Janssen e 23 pessoas que tiveram Covid no passado (o chamado plasma convalescente).

Como os intervalos das vacinas são diferentes, as amostras de sangue foram coletadas logo após a segunda dose ou dose única (no caso da Janssen) e depois de seis meses da segunda dose.
Depois, os cientistas testaram em laboratório o sangue de 15 indivíduos que receberam um dos tipos de imunizante para medir a capacidade de neutralização de diferentes cepas do vírus: a forma ancestral de Wuhan e as variantes beta, delta e ômicron.

Todas as vacinas exceto a Janssen apresentaram uma queda significativa dos anticorpos neutralizantes específicos contra a chamada RBD, ou a região de domínio de ligação, que no coronavírus inclui a proteína S do Spike seis meses após a vacinação. Apesar de não ter uma queda assim tão pronunciada, as pessoas que receberam o imunizante da Janssen apresentavam um nível de anticorpos menor em comparação aos demais imunizantes.

Já quando testado contra as diferentes cepas, o soro dos vacinados e dos indivíduos recuperados apresentava uma maior redução na capacidade de neutralização contra a ômicron, confirmando os demais estudos que apontam para um maior escape vacinal dessa variante em relação às demais.

No entanto, todas as vacinas produziram células de defesa que reconhecem o vírus em quantidades elevadas. Mais importante, a proteção celular se manteve constante para todas as formas do vírus, incluindo contra a ômicron.

Além disso, os cientistas avaliaram a chamada reação cruzada, que pode ocorrer quando uma resposta protetora induzida contra uma forma do vírus consegue também agir contra as demais.
Para isso, foram analisados profissionais de saúde vacinados com a Janssen (15 pessoas) ou Moderna (9) que receberam uma dose de reforço da Pfizer cerca de três meses depois da dose única da Janssen ou sete meses após as duas doses da Moderna.

Nesses indivíduos, antes do reforço, foi verificada neutralização para as variantes beta e delta, mas contra a ômicron essa proteção foi menor. Um reforço com o imunizante da Pfizer, porém, conseguiu restabelecer essa proteção, além de proporcionar um aumento significativo nos anticorpos neutralizantes.

Até o momento, diferentes estudos mostraram como as vacinas utilizadas hoje não impedem a infecção pelo Sars-CoV-2, especialmente contra a ômicron, por isso ocorrem os chamados escapes vacinais. O esquema de proteção inicial, considerando duas doses das vacinas AstraZeneca, Moderna ou Pfizer, ou a dose única da Janssen, possuem redução na capacidade de neutralizar o vírus quando ele entra em contato com o organismo.

Porém, o estudo conseguiu demonstrar que a proteção contra casos graves se mantém, uma dúvida que se fazia presente com as vacinas atuais. De acordo com a pesquisa, “respostas específicas de células T contra a ômicron foram afetadas minimante pelas mutações presentes na variante”.

“A ação das células T confere proteção contra doença grave, mas ainda não foi possível determinar se isto é suficiente na ausência de uma resposta de anticorpos neutralizantes potente. Mais importante, uma dose de reforço com a BNT162b2 [Pfizer] levou ao aumento significativo de anticorpos neutralizantes específicos contra a ômicron, inclusive naqueles indivíduos que não possuíam atividade protetora cruzada previamente.”

“Ainda, o fato de a dose adicional restaurar e aumentar a capacidade de neutralização contra a ômicron reforça a necessidade imediata de campanhas para a dose de reforço. No futuro, reforços vacinais atualizados contra as novas variantes serão necessários para implementar a resposta protetora contra vírus emergentes”, completa o estudo.

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