Proporção de amostras da variante delta do Brasil triplica em quatro semanas
No dia 27 de julho, ela representava 12,8% das amostras; agora, são 38,5%
Em quatro semanas, triplicou a proporção da variante delta identificada em amostras do Sars-CoV-2 depositadas pelo Brasil na plataforma internacional Gisaid, que reúne dados genômicos de 172 países.
No dia 27 de julho, ela representava 12,8% das amostras; agora, são 38,5%. A variante gama (antiga P.1) responde hoje por 60%; há quatro semanas, representava quase 90% das amostras.
Na capital do Rio de Janeiro, a delta responde por 45% das amostras analisadas pela Secretaria Estadual da Saúde. No estado, por 26%. A alta taxa de transmissibilidade fez com que o governo suspendesse as aulas presenciais da rede estadual em 36 municípios, pelo menos até sexta-feira (13).
Em São Paulo, apesar de a delta representar 23,5% das amostras sequenciadas pelo Instituto Adolfo Lutz, o governo paulista mantém seu plano de flexibilização das atividades econômicas. Em entrevista coletiva no último dia 4, o governador João Doria (PSDB) afirmou que a liberação será gradual, segura e sob protocolos.
Para o virologista Maurício Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, não há dúvida sobre o avanço da delta no país, mas os dados da plataforma Gisaid precisam ser olhados com cautela, porque pode haver um viés de amostragem.
“Os grupos que estão sequenciando fazem um pré-screening [das amostras] e estão tendendo a sequenciar o que não é P.1 [gama]. Ou seja, está havendo uma preferência por sequenciar delta”, afirma, dizendo o assunto foi discutido nesta terça (10) em um grupo de virologistas.
Na sua opinião, o crescimento da variante delta era esperado, mas ainda não é tão preocupante. “Está aumentando, mas não temos uma explosão de casos.”
No mundo, a variante delta já representa 90% das amostras sequenciadas, segundo relatório publicado pela Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) no domingo (8).
Devido ao rápido avanço da delta dentro e fora das Américas, a organização recomenda que os países revisem seus planos e se preparem para um eventual aumento de casos e de internações por Covid-19, incluindo necessidade de terapia intensiva com suporte, como hemodiálise.
Para Nogueira, há algumas hipóteses que explicariam o ritmo de avanço mais lento da variante delta no Brasil, em relação a outros países em que ela dominou rapidamente o território.
Um delas é a competição biológica com a variante gama. “Tivemos muita gente doente com a gama recentemente, o que gerou uma imunidade de rebanho”, explica.
O aumento da velocidade da vacinação contra a Covid-19 no país também seria uma outra possibilidade. Por fim, o fato de o Brasil ser um país de dimensões continentais impede uma dispersão tão rápida como se vê na Inglaterra e em Israel, por exemplo.
Para o virologista Gúbio Soares, professor da Universidade Federal da Bahia, a dispersão da delta no Brasil dependerá também da forma como estados e municípios vão gerenciar a situação, por exemplo, avançando na vacinação, não permitindo grandes aglomerações e intensificando os alertas sobre o uso de máscara.
“O grande perigo são as festas. Já estão programando Carnaval, Réveillon. Isso é um perigo, é muito cedo para esse tipo de abertura. A delta depende muito de aglomeração [para se espalhar].”
A Prefeitura de São Paulo está investigando os 40 dos 93 contaminados pela variante delta na cidade e concluiu que apenas 3 deles estavam com a imunização completa, com duas doses da vacina contra a Covid-19. Outras 14 tomaram apenas uma dose. O restante ainda não foi vacinado.
Apesar da presença da variante na capital, a Secretaria Municipal da Saúde diz que o número de casos não apresentou curva de crescimento na última semana. Nesta terça (10), 90% do público elegível, maior de 18 anos, havia recebido pelo menos uma dose da vacina contra a Covid-19. Um pouco mais de um terço (37%) está com o esquema vacinal completo.
Por Cláudia Collucci