Polícia prende três homens pela morte de Moïse no Rio
Um deles, identificado como Fábio, foi detido na noite desta terça-feira (1º/2) na casa de parentes
A Polícia Civil prendeu ao menos três homens suspeitos de envolvimento na morte do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, 24. A câmera de um quiosque na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, filmou o estrangeiro sendo espancado e morto no último dia 24.
Um deles, identificado como Fábio, foi detido na noite desta terça-feira (1º/2) na casa de parentes no bairro de Paciência, também na zona oeste. Ele é vendedor de caipirinhas na praia e confessou aos agentes que deu pauladas no jovem, segundo a polícia.
Outro homem, que é funcionário do quiosque vizinho e não teve o nome divulgado, havia se apresentado na 34ª delegacia (Bangu) pela manhã junto da família.
O terceiro suspeito também não teve sua identidade divulgada pela polícia.
Os mandados cumpridos são de prisão temporária por homicídio duplamente qualificado, segundo o delegado Henrique Damasceno, titular da Delegacia de Homicídios da Capital. Também foram realizadas oitivas com os suspeitos.
Em entrevista à imprensa, Damasceno afirmou que as três pessoas presas não trabalham no quiosque Tropicália. Ele disse, ainda, que o dono do estabelecimento auxiliou nas investigações, foi solícito, forneceu as imagens do crime e auxiliou na identificação dos autores.
A polícia encontrou um porrete, indicado por uma das pessoas que colaborou com a investigação, em um terreno baldio próximo ao local.
A família de Moïse diz que ele foi espancado até a morte por ter cobrado diárias que estavam atrasadas. Segundo os parentes, o congolês trabalhava no quiosque, na altura do posto 8, onde teria sofrido agressões presenciadas por cerca de cinco homens, incluindo um que naquele momento atuava como gerente.
“Mesmo depois de morto, os caras continuaram batendo nele. Largaram o corpo perto do quiosque mesmo, amarraram as mãos dele, colocaram elas para trás. Moïse morreu, mas continuaram torturando ele”, contou Mamanu Idumba Edou, 49, tio do jovem.
Segundo Edou, os agressores ameaçaram um colega de Moïse que estava no local, dizendo que ele morreria caso falasse alguma coisa. Depois de fugir, o homem chegou em casa e avisou que Moïse estava morto na praia. “Nós estamos apavorados com o que aconteceu. É muito triste. É muita covardia. A gente sabe que não terá o Moïse de volta, mas a gente quer justiça.”
Os advogados do dono do quiosque afirmam que ele não tem qualquer relação com o assassinato e dizem que ele estava em casa no momento das agressões. Eles negam que o motivo da briga tenha sido a cobrança de diárias de serviço ao quiosque, como sustenta a família da vítima.
“Não existe dívida alguma”, declarou o advogado Darlan Santos de Almeida à imprensa na porta da 16ª delegacia, argumentando que outros depoimentos colhidos pela polícia corroboram isso. Ele se negou a citar o nome do cliente, dizendo que ele está sofrendo ameaças.
Um segundo advogado, Euclides de Barros, afirmou que Moïse tinha uma relação mais próxima com as barracas da praia. Eles sugeriram ainda que o congolês também já trabalhou em outro quiosque ao lado e que, portanto, a dívida alegada pela família poderia ser de lá.
“O dono do quiosque não tem nenhuma responsabilidade sobre isso, estava em casa no momento. Ele sai do quiosque por volta de 20h30 e deixa apenas um funcionário que aparece nos vídeos sendo perseguido pela vítima [de camisa listrada]”, acrescentou.
As imagens mostram que a briga começa às 22h25 do dia 24, uma segunda-feira. Moïse parece discutir com o funcionário de camisa listrada verde e preta, que pega um pedaço de pau enquanto é “seguido” pelo jovem em círculos dentro do quiosque. Moïse então apanha uma cadeira e depois um rodo.
Em seguida ele deixa os objetos no chão, faz um movimento com as mãos para cima e continua falando, aparentando estar alterado. Tira a camiseta e abre o refrigerador, quando um outro homem surge de fora do quiosque, o derruba e começa a espancá-lo.
Além do dono, os advogados representam o funcionário do quiosque, que também foi ouvido como testemunha nesta terça e não teve seu nome divulgado. Os depoimentos, que aconteceriam na Delegacia de Homicídios, foram transferidos para a 16ª DP com o intuito de evitar a imprensa.
“Quando vocês tiverem acesso às imagens na íntegra vão ver que a vítima estava bebendo acompanhada de outra pessoa. Em certo momento, aparentemente embriagada -eu não posso afirmar que estava-, tenta pegar mais cerveja no freezer e o funcionário não deixa. Tanto é que ele tenta impedir fechando a porta do freezer e ela insiste”, afirmou Almeida.
A defesa disse ainda que os outros cinco homens que aparecem no vídeo batendo ou presenciando as agressões sem intervir não têm vínculo algum com o quiosque. E que o único funcionário, idoso, não chamou a polícia porque estava sem celular: “Tanto que quem avisa o dono do quiosque é outra pessoa que trabalhava na praia”, alegou Almeida.
A defesa se solidarizou com a família de Moïse, disse que foi um “crime bárbaro” e acrescentou que a dinâmica dos fatos será esclarecida pela Polícia Civil, que ouviu ao menos oito pessoas até agora e analisa as filmagens.
Por Júlia Barbon e Ana Luiza Albuquerque