Polícia apura prática de racismo contra delegada em loja no Ceará – Mais Brasília
FolhaPress

Polícia apura prática de racismo contra delegada em loja no Ceará

Nesse domingo (19/9), após a Polícia Civil obter na Justiça autorização, houve busca e apreensão na loja para recolher imagens de câmeras de segurança

delegada Ana Paula Barroso
Reprodução

Uma delegada negra de Fortaleza fez boletim de ocorrência contra uma loja de roupas da rede internacional Zara. A Polícia Civil apura o caso como de racismo. A delegada Ana Paula Barroso diz na denúncia que foi impedida pelo segurança de entrar na unidade do Shopping Iguatemi, na capital do Ceará.

O caso teria ocorrido na terça-feira (14/9). Nesse domingo (19/9), após a Polícia Civil obter na Justiça autorização, houve busca e apreensão no local para recolher imagens de câmeras de segurança. Segundo a polícia, a medida foi necessária porque a loja teria se recusado a fornecer o material após o episódio.

Ana Paula Barroso é diretora-adjunta do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis da Polícia Civil cearense. Ela registrou o boletim de ocorrência no mesmo dia, pela internet.

Na denúncia, a delegada disse que o funcionário da loja teria impedido sua entrada no estabelecimento alegando “questões de segurança”, mesmo após insistência da mulher para entrar na loja.

Por volta das 21h20, segundo a polícia, Barroso conta que foi à loja segurando um sorvete. Após ser barrada, ela indagou se o motivo seria por segurar o sorvete, sem resposta. O segurança manteve a posição de barrá-la.

O chefe de segurança do shopping chegou a ir ao local e reconheceu a delegada, que foi reconduzida à loja. Ao avistar a vítima e os agentes, o funcionário teria alegado que não tem preconceito, segundo informou em entrevista coletiva nesta segunda (20) a chefe da investigação do caso, delegada Ana Nery.

“Ele já foi logo dizendo que não tinha nenhum preconceito, que tinha várias amizades gays, lésbicas e trans. Quando ele fala isso, de forma velada, já mostra que tem preconceito”, diz a delegada. “Essas declarações foram dadas no boletim de ocorrência e ratificadas pelo chefe da segurança. Depois, ele pediu desculpa e ela saiu da loja extremamente abalada”.

Segundo Nery, em nenhum momento Barroso se identificou como delegada. “Ela poderia inclusive ter dado voz de prisão em flagrante por sua autoridade policial, mas, em razão de ter ficado extremamente consternada pela situação, de ter ficado em choque por precisar passar por uma situação dessas em pleno século 21, não deu voz de prisão”.

A investigação está a cargo da Delegacia de Defesa da Mulher. Procurada, a Polícia Civil do Ceará informou que os dispositivos de gravação apreendidos serão submetidos à perícia. O objetivo é averiguar se as imagens foram fornecidas na íntegra. A unidade policial local ainda informou que ouvirá outros depoimentos de testemunhas do episódio.

Em nota, a Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Ceará manifestou apoio à delegada, “a qual foi vítima de preconceito racial por parte de funcionário de loja em um shopping center de Fortaleza”.

“A delegada Ana Paula, que em momento algum se identificou como autoridade policial, foi impedida, sem nenhuma justificativa plausível, de adentrar ao estabelecimento comercial por funcionário identificado como gerente da loja, sendo ela alvo de ato discriminatório em razão de sua cor”, diz a nota.

A entidade diz lamentar profundamente a situação de constrangimento a que foi submetida a delegada Ana Paula Santos e “repudia qualquer tipo de discriminação, ratificando o compromisso com a adoção de medidas judiciais e policiais necessárias para a devida responsabilização e punição dos envolvidos”.

A reportagem entrou em contato com a loja em Fortaleza, mas não houve resposta. A reportagem também não conseguiu contato com a rede Zara no Brasil.

Por: MATHEUS SANTOS