Petrobras diz que lucro retorna à sociedade e não descarta novos dividendos – Mais Brasília
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Petrobras diz que lucro retorna à sociedade e não descarta novos dividendos

Presidente da Petrobras argumentou que União receberá R$ 23 bilhões

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Após criticas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aos elevados lucros da Petrobras, o presidente da estatal, Joaquim Silva e Luna, defendeu que o resultado da empresa beneficia toda a sociedade, com a distribuição de dividendos à União, pagamento de impostos e investimentos.

Nesta quinta-feira (28), a Petrobras anunciou o pagamento de mais R$ 31,8 bilhões em dividendos, dobrando o montante previsto para 2021, como remuneração pelo lucro acumulado de R$ 75,1 bilhões nos nove primeiros meses do ano.

Nesta sexta (29), a direção da companhia disse que nova parcela de dividendos pode ser distribuída após o encerramento do quarto trimestre, dependendo do desempenho da empresa nos últimos três meses do ano.

O anúncio do resultado trimestral foi feito pouco depois de declarações do presidente Bolsonaro em defesa de um “viés social” para a empresa. Com a popularidade afetada pela escalada dos preços dos combustíveis, o presidente da República disse que a Petrobras “não deveria lucrar tanto”.

“A Petrobras não persegue o lucro pelo lucro”, afirmou Silva e Luna nesta sexta (29). “Nosso objetivo é retornar valor para nossos acionistas e para a sociedade por meio de impostos, dividendos e investimentos, que dentro do contexto da transição energética devem ser acelerados.”

O presidente da Petrobras argumentou que, como maior acionista da empresa, a União receberá R$ 23,3 bilhões dos R$ 63,4 bilhões que a companhia já aprovou distribuir em 2021.

“São recursos que ajudam a sustentar políticas públicas para todos os brasileiros e que beneficiam principalmente os mais vulneráveis”, defendeu. “Quanto mais saudável a companhia, mais recursos ela distribui para a sociedade.”

O diretor financeiro da companhia, Rodrigo Araújo, deixou aberta a possiblidade de novos dividendos sobre o resultado de 2021, dependendo dos resultados do quarto trimestre. Os valores anunciados até agora são uma antecipação do retorno sobre desempenho do ano.

“Não comprometendo a sustentabilidade da companhia e a depender dos resultados do quarto trimestre, nosso compromisso é retornar o caixa excedente [ao acionista]”, afirmou, em encontro virtual com analistas para comentar o balanço do trimestre.

Os elevados dividendos entraram no alvo da oposição ao governo. Para o pré-candidato do PDT à presidência, Ciro Gomes, os números são “um tapa na cara de cada brasileiro e uma punhalada profunda no coração dos mais pobres”.

“Os lucros gigantescos – imediatamente distribuídos aos acionistas – agridem, zombam, humilham milhões de pessoas que pagam o combustível mais caro da história enquanto poderosos acionistas se banqueteiam”, escreveu Ciro uma rede social.

De fato, segundo pesquisa divulgada na quinta pelo Observatório Social da Petrobras, o preço da gasolina nas bombas atingiu na semana passada o maior valor desde que a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) começou a publicar os preços semanais de venda dos combustíveis, em 2002.

Os R$ 6,36 cobrados por litro na semana passada ultrapassaram os R$ 6,25 vigentes em fevereiro de 2003, em valor corrigido pela inflação, o maior preço registrado desde então. Diesel e gás de cozinha já haviam atingido recordes ao longo do ano.

Com os reajustes anunciados nesta segunda-feira (25), o preço da gasolina nas refinarias da Petrobras acumula alta de 74% em 2021. Já o diesel subiu 65% desde o início do ano. Analistas dizem que defasagem não foi eliminada e veem espaço para novos aumentos.

Em entrevista coletiva durante a tarde, a estatal reforçou que sua política evita o repasse de volatilidades pontuais para o consumidor, mas que tem que acompanhar as cotações internacionais quando são verificados novos patamares de preços.

O diretor de Comercialização e Logística da companhia, Cláudio Mastella, defendeu que segurar os preços poderia causar desabastecimento de produtos no país, já que inviabiliza importações para cobrir o déficit nacional de derivados.

“Alguns países vizinhos já experimentaram congelamento de preços e a consequência é a dificuldade de abastecimento de produtos logo em seguida”, afirmou, defendendo uma visão de longo prazo sobre o tema. “A gente espera que isso não aconteça no Brasil.”

A direção da companhia passou parte da entrevista respondendo a “declarações de autoridades” sobre sua gestão. Sem citar nominalmente o presidente da República, repetiram que a União é a maior beneficiada pelo lucro da empresa e que não é papel da Petrobras fazer política pública.
O diretor de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade da Petrobras. Roberto Ardenghy, disse que a empresa “não é insensível” a questões sociais e que tem programas de investimentos em temas como empreendedorismo, capacitação profissional e educação infantil.

A estatal negocia ainda com o mercado um programa para distribuir botijões de gás para famílias de baixa renda, para o qual separou R$ 300 milhões. A ideia é atrair outras empresas para o projeto e ter apoio de organizações sociais.

“Em termos de óleo, gás seus derivados, tudo que impacta a sociedade impacta a empresa. Não estamos alheios a nada disso”, disse o presidente da companhia. “Inclusive, quando fazemos questão de ter o máximo de eficiência no nosso resultado, estamos pensando também nos mais vulneráveis, caminhoneiros, aqueles que dependem do serviço para o seu ganha pão.”

No encontro com analistas, Silva e Luna defendeu que os bons resultados da empresa coroam “a maior recuperação financeira da história” após a crise provocada pelo represamento de preços e pelo esquema de corrupção investigada pela Operação Lava Jato.
“Em julho de 2014, a dívida bruta da Petrobras era a maior dívida corporativa do mundo”, afirmou. “A Petrobras pagava por ano mais de US$ 6 bilhões só com juros. Isso deixava a companhia em grande desvantagem em relação aos seus concorrentes e sufocava sua capacidade de investimentos.”

No terceiro trimestre, a empresa atingiu sua meta de endividamento abaixo de US$ 60 bilhões com 15 meses de antecedência. A antecipação da meta pode acelerar ainda mais a distribuição de dividendos, segundo a política de remuneração aos acionistas da companhia.

Aprovada em 2019, a política permite a distribuição de dividendos mesmo com prejuízo e, em caso de dívida abaixo da meta, os valores podem superar o mínimo obrigatório ou um valor equivalente a 60% da diferença entre o fluxo de caixa e o valor dos investimentos.

“Nossa expectativa é, para o ano de 2022, trabalhar com o cenário bem mais alinhado com a política de dividendo e com o compromisso de distribuir 60% do fluxo de caixa livre”, afirmou Araújo.

Texto: Nicola Pamplona