Parte de cânion se solta, atinge lanchas e deixa 7 mortos em Capitólio (MG)
Quatro embarcações foram atingidas, duas afundaram e 32 pessoas ficaram feridas
A queda de parte de um cânion sobre lanchas que passeavam pelo lago de Furnas, em Capitólio (MG), deixou ao menos sete mortos, informou o Corpo de Bombeiros do estado na tarde deste sábado (8). Há ainda três pessoas consideradas desaparecidas.
Quatro embarcações foram atingidas, das quais duas afundaram, e 32 pessoas ficaram feridas. Os nomes dos mortos ainda não foram divulgados, mas ao menos dois deles eram do sexo masculino.
Segundo os bombeiros, 23 vítimas foram atendidas e liberadas na Santa Casa de Capitólio. Duas pessoas com fraturas expostas estão em atendimento na Santa Casa de Piumhi e outras quatro, com ferimentos leves, estão na Santa Casa de São José da Barra. A Santa Casa de Passos recebeu dois pacientes.
O primeiro chamado sobre o acidente ocorreu pouco após às 12h30. Um vídeo que circula pelas redes sociais mostra o momento em que uma grande rocha se desprende e atinge em cheio lanchas que estavam lotadas de turistas.
Em outras imagens, é possível ver uma cabeça d’água onde ocorreu o acidente. As pessoas que estão no barco apontam para a cachoeira e algumas lanchas começam então a se afastar, mas é possível ver que outras seguem no local.
Outro vídeo mostra que cerca de um minuto antes do desprendimento total da rocha, houve desabamentos de pequenas pedras na água do lago. Nas imagens, as pessoas pedem para que as embarcações se afastassem da rocha. Um minuto depois, ocorre o desabamento.
“Foi tudo muito rápido. A pedra começou a estalar. De repente caiu de uma vez. Nunca vi isso acontecer”, disse o marinheiro Reginaldo Ramos, que trabalha na região há oito anos.
O comandante do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, Edgard Estevo da Silva, afirmou que há relatos de dezenas de desaparecidos. “Estamos trabalhando com as informações de testemunhas e agências de turismo local”, disse ele.
A sala de imprensa do Corpo de Bombeiros informou que equipes de mergulhadores foram encaminhadas para a localidade -um conhecido ponto turístico mineiro, devido a suas belezas naturais. As buscas foram interrompidas no início da noite por questões de segurança.
O tenente dos bombeiros Pedro Aihara, porta-voz da corporação, afirmou que pelo menos 40 militares dos bombeiros atuam no local. “Temos uma equipe de mergulhadores especializados, o apoio da nossa aeronave Arcanjo 08, que tem toda a estrutura de evacuação médica caso seja necessário trazer alguma vítima mais grave para Belo Horizonte ou para outra localidade”, disse.
Segundo Aihara, duas embarcações afundaram. “São as embarcações de nome EDL, da qual foram resgatadas 14 pessoas com vida; e a embarcação de nome Jesus, da qual foram resgatadas dez pessoas com vida. As outras duas embarcações sofreram impactos indiretos. Uma embarcação que era uma lancha vermelha, ainda sem identificação, da qual dez vítimas foram socorridas, e uma outra embarcação, de nome Nova Mãe, da qual foram resgatas oito pessoas com vida”, disse.
Em atualização às 21h, Aihara afirmou que o sétimo óbito demorou mais porque se baseava em um segmento corpóreo. Os desaparecidos caíram de mais de 20 para três. “Boa parte das vítimas que estavam sem contato, uma vez que elas se deslocaram por meios próprios para unidades hospitalares da região, nas últimas horas a gente fez uma força tarefa integrada que conseguiu contato com essas pessoas”, disse.
Em nota, a Marinha informou que tomou conhecimento do acidente e deslocou equipes para lá.
“A DelFurnas deslocou, imediatamente, equipes de Busca e Salvamento para o local, integrantes da Operação Verão ora em andamento, a fim de prestar o apoio necessário às tripulações envolvidas no acidente, no transporte de feridos para a Santa Casa de Capitólio, e no auxílio aos outros órgãos atuando no local. Um inquérito será instaurado para apurar causas, circunstâncias do acidente/fato ocorrido”, diz o comunicado.
O prefeito de Capitólio, Cristiano Silva, postou um vídeo em redes sociais dizendo que a população da cidade está transtornada com o acidente.
“Estamos em estado de choque com esse acontecido, e somos solidários com as vítimas, feridos e os óbitos. Não foi uma tromba d’água, foi um deslocamento de pedra que atingiu algumas lanchas”, disse.
Silva afirmou que ambulâncias foram enviadas ao local. “Os hospitais da região estão atuando e se mobilizaram também para receber os feridos”, disse.
O governador de Minas, Romeu Zema (Novo), também se manifestou sobre o episódio. ” Sofremos hoje a dor de uma tragédia em nosso estado, devido às fortes chuvas, que provocaram o desprendimento de um paredão de pedras no lago de Furnas, em Capitólio”, escreveu.
Após participar de uma festa de aniversário em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse por volta das 15h30 que ainda não estava sabendo do ocorrido. “Não estou sabendo. Aconteceu agora há pouco?”.
“É uma fatalidade, realmente. Acabando aqui, entro em contato com a Marinha, já que é na água”, afirmou. Ele ordenou então a um assessor que telefonasse para o comandante da Marinha, o almirante de esquadra Almir Garnier Santos, e o orientasse a dar prioridade ao assunto, com possível ida a Minas Gerais.
O ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, afirmou lamentar o acidente e prestou “solidariedade a todos os envolvidos na tragédia e entrará em contato com as autoridades locais para expressar apoio da pasta”.
Capitólio é um grande destino turístico devido aos canions, que costumam ser vistos em passeios de barco pelo lago de Furnas, que tem mais de cem quilômetros de extensão.
A maioria dos turistas que visitam Capitólio é da capital paulista, de cidades do interior de São Paulo e da capital mineira, segundo as agências de turismo locais. Quando a Folha visitou o local, em outubro do ano passado, mais de cem lanchas faziam passeios.
A região já registrou diversos casos de acidentes com mortes de banhistas nos últimos anos. Em janeiro do ano passado, ao menos três pessoas morreram após uma cabeça d’água atingir uma cachoeira em Capitólio.
Colaborou Marianna Holanda, de Brasília
Por Paulo Eduardo Dias, Artur Rodrigues e Ítalo Nogueira