Pagar casa em SP leva até 78 anos para quem ganha a renda média da cidade

Os preços levam em conta anúncios de imobiliárias para apartamentos usados

O sonho de ter uma casa própria requer um longo período de financiamento e um comprometimento de renda considerável para a maioria das famílias. Uma pesquisa da plataforma de inteligência de mercado Urbit mostrou que um casal com dois filhos que more na na cidade de São Paulo precisa comprometer 30% da renda mensal por cerca de 78 anos para comprar um apartamento adequado.

O casal na simulação tem renda de R$ 3.800 mensais, valor médio na cidade, segundo levantamento dos Microdados da Pesquisa de Origens e Destinos de 2017 publicada pela Companhia do Metropolitano de São Paulo. Esse cálculo de 78 anos é para quem não consegue abater a dívida com outros recursos (como FGTS, 13º salário e bônus). Veja mais abaixo como o tempo de financiamento pode ser reduzido com esses valores adicionais.

Segundo a Urbit, uma família de quatro pessoas demanda um imóvel de três a quatro dormitórios, no cenário ideal. O dado de renda familiar foi atualizado pelo IPCA do período, mais 1,5% ao ano. Considerando somente as famílias compostas por um casal com dois filhos, a renda mediana estimada é em torno de R$ 3.800 a R$ 3.900, disseram os autores da pesquisa.

Uma família com essas características conseguiria comprar um imóvel com o preço médio de R$ 190 mil, de acordo com a pesquisa. Para definir o o financiamento imobiliário típico desta faixa de renda, considerou-se um financiamento na modalidade SAC (sistema de amortização constante) num prazo de 360 meses (30 anos) a uma taxa anual de 6%, com comprometimento máximo de 30% da renda mensal.

“Sob essas condições, o valor máximo que a família (casal + dois filhos) consegue financiar é aproximadamente R$ 190 mil. Vale notar que as condições de financiamento se deterioraram no período recente”, afirmaram os autores da pesquisa.
O problema é que poucas regiões apresentam preços médios de imóveis nesse nível -o que acaba por dificultar o acesso à casa ideal, já que o valor mediano de um imóvel na cidade é de R$ 600 mil.

Os preços levam em conta anúncios de imobiliárias para apartamentos usados em todas as regiões da cidade. Para uma família com renda de R$ 3.800, a taxa de juros cobrada foi de 5,5% ao ano, com uma entrada de cerca de R$ 227 mil, valor comum no mercado para esse tipo de imóvel.

Caso a família opte por pagar o imóvel a vista, o tempo para comprar a casa cai significativamente. Economizando cerca de 30% da renda por mês com rendimento igual a taxa básica de juros (Selic), a família demoraria cerca de 21 anos para obter o valor necessário para a compra de um imóvel de R$ 600 mil, segundo cálculos da reportagem.

“Uma família com filhos terá muita dificuldade em encontrar um imóvel confortável para acomodar a todos. Se encontrar, terá que abrir mão de cômodos ou da qualidade geral do imóvel”, disse, em nota, a Urbit.
Já uma pessoa que more sozinha irá demorar entre 14 e 47 anos para terminar de quitar um financiamento, a depender do percentual de comprometimento da renda para o financiamento do apartamento.

“Há um descasamento muito grande entre a renda da população e os preços do mercado. A acessibilidade na cidade de São Paulo é baixa”, informou a empresa.
Para Johnny Mendes, professor de economia da Faap, os moradores dos grandes centros sofrem com um preço mais alto dos imóveis dado a forte demanda das pessoas por morar em locais que oferecem comodidades, como uma boa localização, por exemplo.

“Financiar é difícil porque os preços nos grandes centros são mais altos. Se olharmos somente para as grandes cidades, esse sempre vai ser um entrave, já que os preços nos lugares que têm mais qualidade de vida e oferecem benefícios para as famílias vão ser realmente mais altos”, disse.

Segundo o especialista, para que as pessoas possam fugir da armadilha do financiamento quase eterno, o interessado precisa poupar ao máximo para conseguir oferecer uma boa entrada. “A pessoa que quer comprar um imóvel hoje tem que poupar. O contexto que estamos vivendo é o aumento da taxa de juros, e isso deve aumentar o custo dos financiamentos”, afirmou.

Além disso, Mendes não vê uma possível queda nos preços dos imóveis em um futuro próximo. “O custo da construção civil aumentou 16% nos últimos 12 meses. Então, é impossível o preço do imóvel não acompanhar”, disse.

Segundo o professor, as famílias devem utilizar as sobras do orçamento ou um dinheiro a mais que receberem, como 13º salário ou bônus, para ajudar a abater o financiamento e reduzir a dívida.
“A ideia de que a pessoa pode abater as parcelas, reduzindo o prazo, vale muito a pena. Utilizar 13º, bônus e o FGTS, porque abater a dívida, é ótima ideia”, disse.

“Dessa forma, se o salário aumentar ou você conseguir economizar, pode abater parcelas do fim do contrato. Isso vai permitir pagar mais rápido seu imóvel. Isso ajuda muito”, declarou.
“Se sobrar um dinheiro opte por reduzir o prazo do contrato, já que isso vai permitir que você pague mais rapidamente e terá um excelente desconto”, afirmou.

Texto: Vinícius Pereira

Sair da versão mobile