Ovos de dinossauro são descobertos no interior de SP
Achado ocorreu em Presidente Prudente; para pesquisador, ninhada pertenceu a dinos carnívoros
Um conjunto de pelo menos cinco ovos de uma espécie de dinossauro carnívoro ainda não identificada foi encontrado no interior de São Paulo, em um sítio fossilífero em Presidente Prudente (a 512 quilômetros da capital).
A descoberta foi feita pelo paleontólogo e diretor do Museu de Paleontologia de Marília, William Nava.
Estudos da microestrutura dos ovos, bem como sua comparação com a de outros ovos de dinossauros já conhecidos, serão necessários para confirmar a atribuição.
A expectativa de Nava é que, se confirmado que os donos dos ovos eram mesmo dinossauros carnívoros, esse pode ser o segundo registro de ovos de terópodes no Brasil, o primeiro para a região.
Os ovos estavam em um mesmo local onde o pesquisador encontrou, em setembro de 2020, cerca de 30 ovos de crocodilomorfos, grupo que inclui os jacarés e crocodilos atuais e seus parentes extintos há milhões de anos.
Segundo Nava, os ovos possivelmente atribuídos a terópodes se diferem dos outros não só pelo tamanho -os ovos dos crocodilianos possuem cerca de 8 cm, já os dos dinossauros carnívoros chegam a 13 cm de comprimento e até 7 cm de largura- mas também pela textura, que lembra muito a de ovos de terópodes encontrados na China.
Recentemente, pesquisadores chineses descreveram pela primeira vez um embrião de dinossauro terópode em posição prestes a nascer -a descoberta foi possível pela utilização de uma tecnologia de tomografia computadorizada dos ovos, permitindo assim fazer um “raio-X” do embrião de dentro do ovo.
A localidade onde foram encontrados os ovos pertence à Formação Adamantina da Bacia Bauru, com rochas com idade estimada em 70 milhões a 80 milhões de anos.
Na mesma formação já foram descritas diversas espécies de crocodilomorfos extintos, algumas aves, lagartos e também dinossauros carnívoros e herbívoros, do grupo dos titanossauros.
No Brasil, a ocorrência de ninhadas fossilizadas é rara, com alguns poucos registros em todo o país, de idade até mais antiga. “Esse material é fantástico porque a ocorrência de duas ninhadas de répteis tão distintos em uma mesma localidade é extremamente raro”, explica o paleontólogo.
A região da bacia Bauru durante o Cretáceo Superior era bem diferente do clima predominante hoje no interior de São Paulo.
“Era uma região com um clima semiárido, mais ou menos como alguns locais da África, e havia um estresse ambiental muito grande.
Por isso, uma das hipóteses que trabalhamos é que os animais que ali viviam ou morriam por falta de comida ou por seca, e tiveram suas carcaças transportadas por chuvas”, conta.
Ainda de acordo com o paleontólogo, a ocorrência de duas ninhadas distintas em um mesmo local pode indicar também que aquele era um local de nidificação dos animais.
“Os animais podiam ir até o local que era uma planície afundada em busca de alimento ou água, e ali criavam esse local de nidificação. De forma que se houve um evento rápido de soterramento os ovos foram fossilizados”, explica.
Uma das formas certeiras de comprovar essa hipótese, contudo, seria se tivessem sido encontrados também restos de ossos e outros vestígios, como dentes, dos animais ali, o que não foi ainda observado.
O estudo da microestrutura dos ovos, tanto dos crocodilomorfos quanto dos possíveis terópodes, deve ser feito em parceria com pesquisadores da Universidade de Brasília.
O paleontólogo pretende ainda submeter os ovos a uma análise de microtomografia computadorizada para ver, principalmente, se há ossos dos embriões preservados no interior do ovo. O tipo de rocha em que foram fossilizados, no entanto, pode dificultar essa preservação.
“Os ovos encontrados em Ganzhou, na China, com o embrião de dinossauro preservado em posição prestes a eclodir, são facilitados pelo tipo de sedimento lá, que foi depositado sem movimentação do sedimento da rocha”, explica.
“Aqui no interior de São Paulo as rochas são formadas por arenitos, são de coloração avermelhada, mas com movimentação de algum corpo d’água, e essas rochas sofreram recristalização, então é mais difícil conservar o embrião da mesma maneira”, completa.
Por Ana Bottallo