Oito anos após ser revitalizada, praça Júlio de Mesquita, no centro de SP, sofre com depredação
Fonte Monumental está sem funcionar, com vidros de proteção destruídos
Oito anos após ser revitalizada pela Prefeitura de São Paulo, a praça Júlio Mesquita, na República (região central da capital paulista), está abandonada. Sua fonte, chamada de Monumental, e a primeira escultura de rua esculpida por uma mulher na cidade, que deveria jorrar água, não funciona; metade dos vidros que cercavam o monumento estão no chão; outros, que ainda estão em pé, estourados. Há sujeira por todos os cantos.
Localizada no triângulo formado pela avenida São João, alameda Barão de Limeira e rua Vitória, o ponto é rodeado de hotéis, prédios residenciais e alguns comércios. Alguns moradores culpam vândalos pela condição do espaço, enquanto outros entendem que a situação é uma deficiência do poder público. Em nota, a prefeitura informou ter um projeto para revitalização do local, mas não forneceu mais detalhes.
Nem mesmo o grupo Guardiões da Praça Júlio Mesquita, com cerca de 15 pessoas que atuam pela conservação do local, consegue evitar a degradação.
Segundo a prefeitura, a praça foi fundada em meados do século 20 com o nome de praça Vitória. Em 1927, ela recebeu a fonte Monumental, obra de Nicolina Vaz. Depois, teve seu nome mudado para praça Júlio de Mesquita, em homenagem a Júlio César Ferreira de Mesquita, um dos fundadores do jornal O Estado de S. Paulo.
Há oito anos, ao anunciar o término da reforma, a prefeitura publicou, em seu site, que, além da fonte, havia sido implantado um tapete verde, com o plantio de 700 m² de grama e mudas, para dar uniformidade e acabamento ao local. Devido a antigos atos de vandalismo, uma base da GCM (Guarda Civil Metropolitana) faria a segurança. Reportagem da Folha de S.Paulo publicada em agosto de 2012 informou que a revitalização da fonte custaria R$ 412 mil. Dois anos depois, uma nova reportagem dava conta da destruição de um dos vidros de proteção.
O cenário visto agora, que conta com moradores de rua usando o monumento como varal para aproveitar o sol e secar suas roupas molhadas, é bem diferente do visto em julho de 2013, quanto até luzes iluminavam a fonte. Moradores apontam que o monumento não emana água há pelos menos três anos.
“Não tem segurança. As pessoas levam os ferros [que sustentam as placas de vidro] para vender e deixam os vidros no chão. Essa praça é muito importante. Precisa conservação e segurança”, disse o aposentado Júlio Justino, 67 anos. “As pessoas fazem as necessidades, a prefeitura vem e limpa. Vai embora, e eles fazem de novo”, relatou Justino.
Já o professor Victor Hugo Arantes, 28, entende que os atos de vandalismo não são apenas cometidos pelas pessoas, mas também pelo desinteresse da administração municipal com o local. “É resultado de projeto público que não se importa com o espaço público.”
Arantes aponta que passou a morar em um apartamento com vista para a praça em 2019, quando ainda todos os vidros estavam intactos, mas que, há cerca de dois meses, a situação da praça piorou.
“A fonte está aí, não sei por qual motivo ter o vidro num objeto que era para o público. Era para ter água nela. O fato de estar fechada com o vidro e não funcionar colabora para que as pessoas queiram quebrar.”
O horário do almoço já batia na porta quando a copeira Tharlenne Lima Nascimento, 34, e duas amigas tentaram se abrigar do sol sob uma árvore. Sem local para sentar, elas tiveram que se contentar em descansar no concreto que serve de canteiro para o arbusto. “Falta banco, mais limpeza e um projeto para morador de rua. Não adianta a praça ficar limpa, linda, com os moradores de rua sem ter para onde ir”, disse Tharlenne.
Morador do bairro há mais de duas décadas, o jornalista José Domingos Filho, 68, conhecido como Domingos Poeta, afirmou que tem buscado ajuda para o local. Um dos membros dos Guardiões da Praça Júlio Mesquita e presidente da recém-criada Associação Amigos de Bairro de Campos Elíseos e Adjacências, ele diz ter encaminhado, nesta segunda-feira (27), um pedido de providências à Câmara Municipal. “Por descaso dos nossos dirigentes e vandalismo, está sendo destruída. Eles [vândalos] estão roubando as ferragens para vender nos ferros-velhos”, diz um trecho da mensagem.
Resposta
Procurada, a gestão Ricardo Nunes (MDB) informou que “a praça e a fonte sofreram atos de vandalismo, com elementos furtados, que danificaram a estrutura do vidro e as luzes. A recuperação das avarias demandou um projeto, que está em andamento, para a revitalização do local”.
Ainda segundo a prefeitura, “a limpeza é realizada com frequência pelas equipes da Subprefeitura da Sé, de duas a três vezes por dia, de acordo com a necessidade”.
Sobre moradores de rua, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social sustentou que a equipe do Serviço Especializado de Abordagem Social República abordou, entre agosto e setembro de 2021, 40 pessoas em situação de rua na praça Júlio de Mesquita e as principais avenidas do entorno. “Foram contabilizados 20 encaminhamentos para almoço, sete encaminhamentos para pernoite, cinco orientações e oito recusas.”
Por Paulo Eduardo Dias