Número de paulistanos que andam a pé dispara na pandemia de Covid
No ano passado, o mesmo levantamento tinha apontado que 41% da população fazia trajetos a pé, número que subiu para 57% agora em 2021
A cada cinco moradores de São Paulo, três fazem diariamente parte do seu trajeto diário a pé -um número que disparou durante a pandemia de coronavírus. O dado faz parte de uma nova pesquisa sobre mobilidade urbana na capital paulista divulgada nesta terça-feira (21/9) pela Rede Nossa São Paulo.
No ano passado, o mesmo levantamento tinha apontado que 41% da população fazia trajetos a pé, número que subiu para 57% agora em 2021. Entre 2017 e 2019, período pré-pandemia, esse percentual se manteve estável na casa de 45%.
Apesar dos entrevistados indicarem que pretendem manter o novo hábito de locomoção nos próximos anos, a ampla maioria ainda se sente bastante insegura como pedestre. Para 87% dos consultados, o maior temor é passar embaixo de pontes e viadutos.
Na sequência, outros motivos de insegurança são andar em pontes e passarelas (83% temem fazer isso), seguido por andar em ciclovia e ciclofaixa (78%), andar pelas calçadas (69%) e atravessar faixas de pedestres (68%).
De acordo com o pesquisador de mobilidade urbana do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) Rafael Calábria, as respostas refletem a falta de investimentos da administração municipal em calçadas e faixas de pedestres. “A cidade precisa favorecer esse meio de locomoção durante o planejamento, [atualmente] bem precarizado”, diz.
A pesquisa também apontou que o ônibus continua sendo o meio de transporte mais usado na cidade. Ele foi citado por 32% dos consultados, seguido pelo carro particular (24%), que atingiu seu maior percentual de uso em 2021 em comparação aos quatro anos anteriores.
Por outro lado, 54% dos entrevistados citou que usa o transporte individual como principal meio de locomoção, contra 45% que disseram que é o transporte público. A pesquisa, assim, confirma uma tendência que já tinha aparecido no levantamento de 2020, quando 53% afirmaram que usavam mais o transporte individual -em 2019, no pré-pandemia, o número era de 53%.
Os que declararam fazer uso de veículos particulares nos seus principais deslocamentos citaram uma série de condições que os distanciam do transporte público: ausência de linhas em determinados trechos, falta de confiança na higienização dos ônibus durante a pandemia de coronavírus e tempo de espera.
Entre os entrevistados, 66% afirmaram que estariam dispostos a trocar o carro pelo transporte público se houvesse boas alternativas de ônibus, metrô e trem.
Desde 2019 os números de quem tem carro próprio se mantém abaixo de 50% na capital, apesar de um leve aumento agora em 2021 -47% afirmaram ter o veículo, contra 46% em 2020 e 56% entre 2017 e 2019.
O pesquisador do Idec ressaltou que a prefeitura manteve o subsídio pago a empresas de ônibus durante a pandemia para compensar a falta de passageiros e que esse dinheiro deveria ser revertido na modernização da frota e em outros benefícios aos usuários. “Uma das preocupações das cidades agora será não perder o passageiro de transporte público justamente pela má qualidade do serviço”, diz Calábria.
A melhoria da infraestrutura de transportes foi apoiada por quase a totalidade das pessoas consultadas. A ampliação de corredores de ônibus recebeu o apoio de 87% dos entrevistados, assim como a construção de mais ciclovias e ciclofaixas (79%) e a utilização exclusiva de ruas e avenidas para circulação de pedestres e ciclistas (82%).
Além da locomoção a pé, o uso de bicicleta para se locomover na cidade aumentou durante a pandemia –12% das pessoas consultadas pela Nossa São Paulo afirmaram usá-las em seu dia a dia.
A maior parte do público que declarou não usar bicicleta em São Paulo disse que poderia mudar de ideia se tivesse mais garantias que não seria roubada. Além disso, disseram que temem a disputa com carros na via pública como motivo para não usar esse tipo de veículo, enquanto 20% disseram que não há ciclovias para interligar as diferentes regiões da cidade.
O levantamento também mostrou como a desigualdade na cidade se reflete no tempo gasto no trânsito. Enquanto quem mora na zona norte gasta uma média de 2 horas e 5 minutos em deslocamento, na região central esse tempo cai para 1 hora e 35 minutos -na zona sul e na zona leste, respectivamente, o tempo fica em 2 horas e 4 minutos e 2 horas e 3 minutos.
De acordo com a Rede Nossa São Paulo, a pesquisa consultou 800 pessoas que moram na cidade de São Paulo com 16 anos ou mais, entre os dias 10 e 26 de agosto de 2021, a partir tanto de entrevistas online quanto feitas pessoalmente. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.
Por Mariana Zylberkan