Mulher é presa após chamar empresária negra de ‘macaca’ em banco no Rio
A mulher ainda teria feito ofensas racistas contra mais uma das clientes do banco
Uma empresária negra foi vítima de injúria racial dentro de uma agência bancária no Barra Shopping, na zona oeste do Rio de Janeiro. Fabiana Cunha, 41, estava do banco Bradesco quando se tornou alvo de ofensas de uma mulher, de 53 anos, que chegou a chamá-la de “macaca”. Outras duas mulheres negras, inclusive a irmã de Fabiana, que a acompanhava, também foram alvo de agressões verbais.
Segundo a vítima, a suspeita saiu “meio exaltada” de dentro da agência, se dirigindo à área dos caixas eletrônicos. Ela teria furado a fila de clientes que esperavam para usar os equipamentos e proferido palavras racistas contra Fabiana e a irmã, que utilizavam o caixa ao lado do que ela estava.
“Essa senhora saiu meio exaltada de dentro do banco, acho que ela tentou fazer alguma operação lá dentro e não conseguiu. Tinha uma fila no caixa eletrônico com mais ou menos dez pessoas. Ela saiu da agência e foi direto para o caixa, nem entrou na fila. Mas como algumas pessoas viram que ela estava meio alterada, decidimos deixar ela usar o caixa”, detalhou Fabiana à reportagem, sobre o caso registrado na tarde de quarta-feira (5).
“Eu e a minha irmã éramos as próximas e tinham duas senhoras negras depois da gente. Quando a minha irmã chegou ao caixa, ela já começou a falar algumas palavras de ofensa, como ‘negro não presta’. E disse que ia dar uma surra na minha irmã. A gente estava no caixa ao lado (do dela)”, conta a empresária, que relata ainda ter sido chamada de “macaca” pela investigada.
Após ouvir as ofensas da agressora, que também usou palavras de baixo calão contra Fabiana e a irmã, a vítima acionou um segurança do próprio shopping, que estava em frente à agência bancária. Antes de ser levada para a delegacia, a mulher ainda teria feito ofensas racistas contra mais uma das clientes do banco.
“Uma outra senhora, também negra, estava na fila, e ela começou a falar coisas para ela. A gente tentou gravar, mas aí ela não falava mais porque percebeu que estava sendo gravada. Ela resistiu um pouco mais, foi levada para a delegacia. Lá, nós fizemos o Boletim de Ocorrência, eu, minha irmã e mais essa senhora”, lembra.
Além das frases de teor racista, a suspeita ainda acusou Fabiana de ter jogado uma “praga” nela, afirmando que esse era o motivo para a tosse persistente da agressora, que, em imagens feitas pela empresária, aparece sem máscara. “Ela falou ainda no shopping que eu joguei uma ‘seta’ nela e, por isso, ela estava tossindo.”
De acordo com a 16ª DP (Barra da Tijuca), a mulher foi levada à delegacia por policiais militares e autuada em flagrante pelo crime de injúria por preconceito.
Ré primária, ela passará por uma audiência de custódia nesta sexta (7). A delegacia recomendou que a suspeita ganhasse a liberdade provisória, com medidas cautelares, “por se tratar de um crime em que não ocorreu violência física”, informou nota enviada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro à reportagem.
Fabiana conta que já acionou um advogado e que pretende seguir com o processo. “Isso é crime, ela não pode fazer isso. Se ninguém fizer isso, o racismo vai continuar aí todo o tempo. Porque sempre a gente acha que nada acontece e por isso vai deixando passar. Que sirva de lição pra outras pessoas, acredito que vai servir.”
A reportagem tentou obter a identificação do advogado da suspeita junto à Polícia Civil, mas não conseguiu. Também buscou os registros públicos e redes sociais da suspeita, mas não houve sucesso. Até a tarde de quinta (6), ela ainda estava detida. O espaço segue aberto para manifestações da defesa.
A reportagem também entrou em contato com o banco Bradesco para saber de possíveis colaborações e cessão de imagens para a investigação. O Bradesco respondeu dizendo que “repudia qualquer tipo de racismo, intolerância ou preconceito”.
A Lei de Racismo, de 1989, engloba “os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.
O crime ocorre quando há uma discriminação generalizada contra um coletivo de pessoas.
Exemplo disso seria impedir um grupo de acessar um local em decorrência da sua raça, etnia ou religião. O autor de crime de racismo pode ter uma punição de um a cinco anos de prisão. Trata-se de crime inafiançável e não prescreve.
Ou seja: no caso de quem está sendo julgado, não é possível pagar fiança; para a vítima, não há prazo para denunciar. Já a injúria racial consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem a fim de atacar a dignidade de alguém de forma individual.
Um exemplo de injúria racial é xingar um negro de forma pejorativa utilizando uma palavra relacionada à raça. Em outubro de 2021, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que a injúria racial, assim como o crime de racismo, não prescreve.
Por Pietra Carvalho