Moradores de Pinheiros, em São Paulo, criam associação para combater alta da violência

Quantidade de roubos e furtos no bairro cresceu mais que no restante da cidade

“Perdeu, perdeu, perdeu, passa o celular, passa o celular” foi a última frase que o publicitário Joe Richardson de Magalhães, 32, ouviu antes de ter um revólver apontado em sua cara.

“Eu fiquei paralisado. Aí, veio um outro homem por trás, pegou a minha mochila e tirou tudo o que estava comigo”, conta ele, que foi agredido com tapas.

Além do telefone, os bandidos levaram carteira, documentos, relógio, dinheiro, cartão de crédito e mochila com material esportivo.

O caso aconteceu na noite de 28 de agosto, na rua Amália de Noronha, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. “Bem em frente onde fui assaltado tem uma padaria. No dia seguinte eu fui lá e me disseram que eu era a segunda pessoa roubada naquele lugar, na semana”, conta ele. “É uma sensação de impotência. Eu fazia muitas coisas a pé e hoje não me sinto mais confortável”, afirma.

Seu caso não é isolado. Muitos moradores narram um aumento de violência na região, especialmente nos arredores da estação Sumaré do Metrô. Seis dias antes do publicitário ser roubado, câmeras de segurança de um prédio gravaram um crime semelhante na mesma rua.

Há cerca de um mês, num sábado à noite, o agente de viagens André Luiz Vieira, 47, foi abordado no mesmo trajeto feito por Joe.

“Percebi que uma bicicleta se aproximou por trás de mim e andou colada. Parei, olhei para trás e perguntei ‘você quer passar?’ Vi um menino com cerca de 12 anos, menor que a bicicleta. Ele disse ‘perdeu, perdeu, dá a bolsa’. Coloquei a bolsa para trás e disse vem pegar. Ele falou ‘tô armado’; eu disse: ‘eu também. Vamos ver quem saca primeiro?'”

O garoto fugiu sem levar nada. “Não façam isso. Foi um impulso misturado com susto e a indignação de ver uma criança nessa situação. Chegará o momento em que precisaremos sair de casa com documentos, comprovante de vacina e meditação. Zen, protegido e documentado”, completa Vieira.

Naquela noite e no mesmo local, com uma diferença de 30 minutos, Vieira havia sido a segunda vítima.

Segundo ele, são muitos os relatos de moradores que vivenciaram situações parecidas na região.

A onda de violência começou há poucos meses e a partir de junho deste ano se agravou. São casos de roubos e furtos de celulares, furtos de automóveis e assaltos à mão armada a pedestres.

As ocorrências estão concentradas em Pinheiros e em parte do Sumarezinho, principalmente nas avenidas Heitor Penteado, Paulo VI e Doutor Arnaldo e nas ruas Oscar Freire, Capote Valente, Amália de Noronha, Alves Guimarães e Professor Rubião Meira.

Para resolver os problemas da falta de segurança, os moradores fundaram a Ames-SP (Associação de Moradores e Amigos da Estação Sumaré).

“A ideia da associação surgiu como resposta para o problema do rápido aumento da violência nas ruas do bairro. Nos unimos e nos organizamos para, juntos, termos mais força na busca de soluções que amenizem a falta de segurança”, explica o artista plástico Rubens Kinjo, 50, um dos líderes do movimento.

“É uma forma de tentar ajudar a comunidade e um olhar pelo outro. A violência domina e os bandidos estão organizados. Nós temos que tentar nos proteger”.

O grupo levantou algumas ações que poderiam ser implantadas, como a instalação de câmeras nas ruas ou a disponibilização dos equipamentos dos condomínios para a vigilância do bairro e até um monitoramento à distância, mas a prioridade foi a abertura de um canal com a polícia.

O capitão Pettinato, do 23º BPM, atendeu alguns moradores. “Ele mostrou os dados da região num período de 51 dias e disse que as pessoas precisam ligar para o 190 até em caso de tentativa de assalto ou a presença de suspeitos. E ninguém faz isso”, diz Kinjo.

“Se há um carro da polícia parado na avenida Rebouças é porque tem bastante ocorrência naquele local. Não adianta eu chegar para a polícia e falar que aumentou a violência e queria que colocasse uma viatura na saída do metrô [Sumaré em direção à rua Oscar Freire], que é onde está tendo o maior número de casos”, completa.

A associação está produzindo um material de orientação e educação sobre a importância de ajudar a polícia utilizando seus canais. Os moradores também querem disponibilizar a ideia para os bairros e as comunidades que estiverem com problemas.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo disse que reforçará o policiamento. Segundo o texto, de junho a agosto deste ano, 65 pessoas foram presas na região e 11 veículos roubados, recuperados.

De acordo com dados disponibilizados pela pasta em seu site, em 2021, na área do 14º DP (em Pinheiros), o número de roubos registrados de junho a agosto aumentou mês a mês. Houve 167 casos em junho, 184 em julho e 205 em agosto.

Em 2021, se somados junho, julho e agosto, as ocorrências de roubos cresceram 103% se comparado ao mesmo período de 2020, quando estavam em vigor regras mais rígidas de distanciamento social.

Quanto aos furtos, na abrangência do 14º DP, em 2021, houve 410 em junho, 457 em julho e 540 em agosto. Considerando a soma dos três meses (1.407), na comparação com 2020 (671) a alta foi de 109%. Em toda a cidade, o aumento foi de 7% nos roubos e 29% nos furtos na comparação entre os dois períodos.

Para o professor e pesquisador em Segurança Pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas) de São Paulo Rafael Alcadipani, os crimes contra o patrimônio estão relacionados à questão econômica.

“O brasileiro está passando por uma crise econômica brutal, inflação altíssima com muitas pessoas indo para a pobreza e cientificamente isso tende a afetar o aumento dos crimes”, explica.

“A Secretaria de Segurança Pública precisa modernizar e melhorar as condições de trabalho da sua polícia de investigação, contratar mais policiais porque a deficiência é grande e ter uma estratégia mais organizada focada na inteligência”, afirma Alcadipani.

Por Patrícia Pasquini

 

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