Ministério Público denuncia homem por estupro e morte de jovem indígena no RS
Crime ocorreu em agosto, na zona rural do município de Redentora
Um homem de 33 anos foi denunciado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul por estuprar e matar a adolescente indígena Daiane Griá Salles, 14, na zona rural do município de Redentora (a 400 quilômetros de Porto Alegre), no início de agosto.
A denúncia foi apresentada à Justiça na última sexta-feira (1º/10), mas foi divulgada pela Promotoria nesta terça (5/10). O nome do suposto autor, que não é indígena, não foi divulgado.
Ele foi acusado pelos crimes de estupro de vulnerável e homicídio com qualificadores -meio cruel, motivo torpe, dissimulação, recurso que dificultou a defesa da vítima para assegurar a ocultação de outro crime (no caso, o estupro) e feminicídio.
De acordo com o promotor do caso, Miguel Germano Podanosche, o homem discriminava os indígenas da etnia kaingang, a mesma de Salles. Ele disse ainda que o suspeito acreditava que o crime não seria investigado com atenção porque a vítima era indígena.
“Convém esclarecer que o denunciado estava procurando sua vítima em eventos sabidamente frequentados por jovens indígenas, havendo, inclusive, oferecido carona a outras garotas da mesma etnia, de modo que se pode afirmar que o fato de a ofendida integrar tal etnia foi fator determinante para que ela fosse objeto preferencial da escolha do denunciado”, relata o promotor em trecho da peça divulgado pelo Ministério Público.
“Ainda, a infração penal foi perpetrada mediante dissimulação, dado que a vítima fora atraída para o cenário dos eventos criminosos aceitando uma proposta de carona oferecida pelo denunciado, sem sequer imaginar o que lhe poderia acontecer em seguida”, segue o texto.
A jovem, que vivia com a família na Terra Indígena do Guarita, a maior do tipo no Rio Grande do Sul, tinha saído de casa no dia 31 de julho, um sábado, para ir a uma festa em outro setor do território. O corpo dela foi encontrado no dia 4 de agosto por um agricultor próximo a uma lavoura, a cerca de 10 quilômetros do local da festa.
Segundo a Polícia Civil, a vítima não apresentava ferimentos por arma de fogo ou arma branca, apenas manchas em forma de losango na região do pescoço. A parte inferior do corpo estava dilacerada, provavelmente causado por ação de animais, segundo laudo da necropsia.
O homem de 33 anos foi indiciado no dia 15 de setembro. Segundo o delegado responsável pelo caso, Vilmar Alaídes Schaefer, ele teria agido sozinho.
O delegado diz que a investigação mostrou que o suspeito procurou alguém com o perfil da vítima porque sabia que jovens consumiam bebida alcoólica em festas realizadas no local e poderiam estar mais vulneráveis em torno das 2h, horário que ele foi inicialmente visto na região.
“Estes vetores levaram ele até o local para encontrar alguém em situação de vulnerabilidade, que não oferecesse resistência à intenção dele de levá-la a algum lugar e manter relação sexual”, afirmou o delegado à Folha de S.Paulo.
“Provavelmente a vítima ou resistiu ao ato sexual, ou não tendo resistido, diante o seu estado naquele momento, ele acabou matando ela para ocultar o crime de natureza sexual. Creio que esses vetores levaram o indivíduo até o local, também crente na sensação de impunidade, pelo fato de a menina estar embriagada e não lembrar mais, na ótica do autor, com quem manteve relação sexual”.
A Promotoria ressalta que o suposto autor sabia das festas que ocorriam no local e passou a oferecer caronas a outras jovens naquela noite. O local para onde a adolescente foi levada, diz o promotor, foi selecionado porque a família do homem chegou a ter uma propriedade próxima à área.
“Lá, a ofendida, embriagada excessivamente, sem poder resistir, foi estuprada, estrangulada e morta”, afirma ele.
A Defensoria Pública do Rio Grande do Sul atuou na defesa do acusado durante a fase policial do processo e diz que só irá se manifestar nos autos, já que o mesmo corre em segredo de justiça.
Ainda em agosto, um dia após o corpo da adolescente ser localizado, a Apib (Associação dos Povos Indígenas do Brasil) publicou um manifesto das mulheres indígenas sobre o crime.
“Estamos aqui, reivindicando justiça! Não deixaremos passar impune e nem nos silenciarão. Lutamos pela dignidade humana, combatendo a violência de gênero e tantas outras violações de direitos. As violências praticadas por uma sociedade doente não podem continuar sendo banalizadas, naturalizadas, repleta de homens sem respeito e compostura humana, selvageria, repugnância e macabrismo”, diz o texto.
Por Fernanda Canofre