Milionários podem enfrentar escassez de jatinho no fim de ano
O mercado de fretamento de jatinhos está em alta neste fim de ano
A pandemia serviu para lembrar os milionários que eles não precisam se sujeitar a voos lotados, a uma espera demorada nos aeroportos (ainda que na sala vip) ou ter que adaptar sua agenda aos voos regulares das grandes companhias aéreas.
Diante da oferta reduzida de assentos nos voos comerciais, eles podem simplesmente alugar um jatinho, inclusive por aplicativo.
O mercado de fretamento de jatinhos executivos, que vem aquecido desde o início de 2021, está em alta neste fim de ano. Os clientes endinheirados estão preferindo rotas e atendimento exclusivos, para evitar o risco de contaminação e garantir maior privacidade.
Três das maiores empresas de aviação executiva do país -Flapper, Líder e TAM Aviação Executiva- já começaram a negar pedidos de jatos feitos em cima da hora.
“Somos uma empresa de táxi aéreo e, em geral, conseguimos organizar um voo em 40 minutos”, diz Junia Hermont, principal executiva de operações da Líder Táxi Aéreo, empresa fundada em 1958. “Mas, desde o mês passado, estamos tendo que negar pedidos de viagens feitos sem antecedência”, diz ela, que viu a demanda crescer 15% este ano.
Na companhia, onde 90% dos fretamentos são para viagens de negócios, a recomendação é que as viagens sejam agendadas pelo menos dez dias antes. O valor muda de acordo com o modelo da aeronave.
Um voo ida e volta de Belo Horizonte para São Paulo, por exemplo, em um King Air C90GT, custa cerca de R$ 24 mil. O mesmo trajeto em um HondaJet sai por R$ 30 mil e, em um Hawker 800XP, ultrapassa os R$ 38 mil.
“A aviação executiva permite uma mobilidade muito maior, com pousos liberados nos cerca de 3.000 aeroportos no país, contra 120 destinos, em média, atendidos pelas companhias aéreas”, diz Leonardo Fiuza, presidente da TAM Aviação Executiva (AE).
Na companhia, o número de fretamentos cresceu 60% em 2021, comparado ao período pré-pandemia, uma vez que muitos passageiros ficaram sem viajar no ano passado diante das incertezas provocadas pelo coronavírus.
“Buscando maior rapidez e conforto, muita gente tem procurado opções menos públicas para voar na pandemia”, diz Paulo Malick, presidente da Flapper.
Segundo ele, a aviação comercial pode gerar 600 pontos de contato com risco de contaminação pelo novo coronavírus. “Mas na aviação executiva esse risco se resume a 30 pontos”, afirma.
A companhia observou este ano um crescimento de 20% na demanda por jatos, na comparação com 2019. Este ano, entre as viagens de lazer mais procuradas na Flapper, estão São Paulo-Trancoso (R$ 200 mil, ida e volta) e São Paulo-Caribe (R$ 900 mil, ida e volta), com destaque para as ilhas de Saint Martin e Barbados.
Mas os milionários precisam se apressar, porque correm o risco de ficar sem voos. “Estamos com 80% de ocupação até o fim de janeiro”, diz Guilherme Régis, analista comercial da Flapper.
A empresa, que conta com cerca de cem jatos executivos na sua base, já precisou negar voos para Salvador e Morro de São Paulo (BA), por exemplo, pelo fato de as aeronaves estarem locadas no período. A Flapper não é dona do jato, faz a intermediação entre quem aluga e o cliente.
“Há uma carência de aeronaves ultra range, que permitem voos sem escala”, diz Régis, que também é piloto. Um dos primeiros sinais de que a demanda estava acima do previsto foi observado no final da Copa Libertadores da América, em Montevidéu, em 27 de novembro.
“Fizemos só dois fretamentos para a data porque faltou aeronave”, diz ele, lembrando que a pista de pouso do Aeroporto Internacional de Carrasco, na capital uruguaia, precisou ser fechada, por falta de espaço.
O custo do voo de ida e volta de jatinho, para Montevidéu ou Punta Del Leste, partindo de São Paulo, ficou em cerca de R$ 200 mil.
Vale lembrar que todo esse aumento da demanda acontece em meio à alta do combustível de aviação, que exigiu mudança nas tarifas. Só na Flapper, houve quatro reajustes este ano.
Uma opção para quem vai fazer voos mais curtos e quer manter a privacidade são os helicópteros, também na base de fretamento da Flapper. O negócio aumentou 30% este ano.
Uma saída de um dos helipontos da avenida Faria Lima, na zona oeste de São Paulo, por exemplo, rumo a Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, sai por R$ 30 mil (só o voo de ida).
Quem não quer alugar, compra uma aeronave Com a procura em alta, a Flapper começou, este mês, a vender aeronaves. No aplicativo da companhia, os clientes podem não só pesquisar as opções para fretamento, como encomendar a compra do seu jato particular usado -um modelo Phenon 300 da Embraer, por exemplo, sai por US$ 5 milhões (R$ 27,8 milhões).
Na rival TAM AE, a venda de jatos cresceu 70% este ano sobre 2019. O modelo mais demandado é o King Air 260, da Beechcraft Corporation, que chega a custar US$ 7,5 milhões (R$ 41,7 milhões).
“Há uma grande demanda especialmente por parte de empresários do agronegócio, que buscam aeronaves que pousam em estrada de terra”, diz Fiuza, que já vende aeronaves para entrega em 2023.
A companhia, fundada pelo comandante Rolim Amaro em 1961 e que continua com a família Amaro, sem ligação com a Latam Airlines, é representante no Brasil das fabricantes Cessna, Bell, FlightSafety International e Beechcraft.
Segundo Fiuza, houve um aumento global na demanda por jatos executivos, cuja fabricação envolve uma extensa cadeia de fornecedores. “Isso impede que a resposta da indústria seja rápida, daí a falta de aeronaves no mercado”, afirma.
Na TAM, cerca de 80% das operações são voltadas às viagens executivas. “A demanda por fretamento de jatos continua, mesmo com a retomada dos voos comerciais”, afirma.
Uma das rotas mais procuradas é a de São Paulo para o Rio de Janeiro, que custa cerca de R$ 35 mil, ida e volta.
Na Líder, há venda de aeronaves novas e seminovas. A empresa é a representante exclusiva da Hondajet. O modelo Elite S., que custa US$ 6,8 milhões, é um dos mais procurados. “Hoje estamos aceitando pedidos para entrega em 2023”, afirma Junia.
Acidentes com famosos deixam clientes com receio Quanto aos acidentes aéreos com jatos executivos -como o que vitimou a cantora Marília Mendonça no último dia 5 de novembro-, há um temor imediato relacionado ao modelo.
“Na época, muitos clientes que estavam agendando voos pediram que a aeronave não fosse o King Air C-90 A”, diz Guilherme Régis, da Flapper.
O modelo foi semelhante ao que vitimou em setembro o acionista da Cosan Celso Silveira de Mello Filho e sua família, o King Air 260. “Mas ninguém pode conferir o problema à aeronave até que toda a investigação por parte das autoridades seja concluída”, diz Régis.
Por Daniele Madureira