Mãe acusa vereador do interior de SP de racismo contra filha dela de 2 anos
'Não quero essa sua pretinha feia e fedida com a minha filha', diz mensagem divulgada pela mulher
A atendente Carolaine Vilela dos Reis Almeida, 19, mãe de uma menina negra de dois anos, registrou boletim de ocorrência contra o vereador Gercimar Maximiliano de Mattos (Solidariedade), de Planalto (510 km de São Paulo), após receber mensagens ofensivas contra a filha e ameaças. O partido suspendeu a filiação do vereador por seis meses.
Segundo relato da mãe à polícia, o caso aconteceu no fim do mês passado, depois que ela publicou nas redes sociais uma foto da menina com a filha do vereador, de quatro anos. Carolaine afirma que as crianças costumavam brincar juntas, já que ela é amiga da ex-mulher do vereador.
“Fomos passar o final de semana em uma prainha da região e postamos uma foto das crianças juntas. O vereador não gostou, foi tirar satisfação com a ex-mulher dizendo que minha filha não era boa companhia e que não queria amizade entre as crianças”, conta Carolaine.
Após o comentário, a atendente relata ter adicionado Gercimar no WhatsApp e questionado a atitude do vereador, que então teria passado a ofender tanto a ela quanto à criança. No trecho da conversa divulgado por Carolaine, é possível ver ofensas contra a menina e até mesmo ameaças.
“Eu não quero essa sua pretinha feia e fedida com a minha filha […] Minha filha não entende o que é certo ou errado, mas se vocês insistirem nisso essa sua neguinha que vai pagar o preço”, lê-se no trecho da conversa.
“Eu passo por cima de você com esse neguinha e tudo junto”, aparece em outro ponto do diálogo.
Carolaine afirma ainda que logo após receber as mensagens divulgou o caso em suas redes sociais e as ameaças continuaram. Por questão de segurança, a atendente relata que precisou mudar de endereço e a filha parou de frequentar a creche.
“A cidade tem pouco mais de 4.000 habitantes, todo mundo se conhece. Depois que eu levei o caso à polícia e o denunciei na Câmara, ele passou a me perseguir. Ele fica rodeando meu trabalho e onde eu morava. Ele tem a certeza da impunidade”, afirma a atendente.
Como a acusação é contra um vereador, o caso foi encaminhado para a Delegacia Seccional de São José do Rio Preto, também no interior paulista. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que o caso está sob sigilo e confirmou que o vereador deverá ser ouvido nos próximos dias.
“A equipe da unidade já realizou a oitiva de uma das partes e coletou mensagens de aplicativo que podem auxiliar nas apurações. A mulher será ouvida novamente e o homem também será intimado para prestar depoimento. As investigações prosseguem para esclarecer os fatos”, diz a nota.
Além de registrar boletim de ocorrência por ameaça e injúria, a atendente também protocolou uma denúncia na Câmara de Planalto. Uma Comissão Processante para investigar a quebra de decoro de Gercimar foi instaurada. A votação deverá acontecer até a próxima semana.
A reportagem tentou contato com o vereador, porém, ele não atendeu às ligações e não respondeu às mensagens enviadas. O advogado do político também foi procurado, mas não foi encontrado.
O partido Solidariedade decidiu suspender a filiação do vereador por seis meses.
“Sobre o caso do vereador por Planalto (SP), Gercimar Maximiliano de Mattos, o Solidariedade vem a público informar que repudia qualquer forma de discriminação, seja cor, religião, orientação sexual, gênero ou qualquer outra categoria”, diz trecho da nota.
A direção estadual, por meio do deputado estadual Alexandre Pereira, presidente do Solidariedade em São Paulo, confirmou a suspensão da filiação do vereador por seis meses, que pode ser prorrogada por mais seis meses.
“O Solidariedade aguardará a apuração dos fatos junto às autoridades competentes e, se comprovada a veracidade das mensagens, poderá encaminhar o caso para Comissão de Ética com a solicitação da expulsão do vereador”, diz a nota.
Ainda segundo o comunicado, “nós, enquanto um partido formado por cidadãos que buscam um futuro melhor, manifestamos nosso repúdio a todo e qualquer tipo de injúria racial e violência, principalmente contra crianças e adolescentes”.
“Lutamos pelos desfavorecidos e seguiremos atentos aos mais vulneráveis de nossa sociedade”, escreve ainda.
Por Simone Machado