Marcola negou liderar o PCC em audiência e disse estar ‘marcado pra morrer’
As falas e a versão de Marcola para o histórico no crime são de uma audiência de 2017
Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, negou ser líder do PCC (Primeiro Comando da Capital) e afirmou que passou a ser taxado como o comandante da facção criminosa, uma das maiores do país, após matar os antigos chefes, que eram seus inimigos no início dos anos 2000 e teriam encomendado a morte do criminoso e de sua ex-mulher Ana Maria Olivatto. As falas e a versão de Marcola para o histórico no crime são de uma audiência de 2017, com o juiz Gabriel Medeiros, da comarca de Presidente Venceslau, e foram exibidas pela primeira vez pelo “Cidade Alerta”, da Record TV.
A advogada, de 45 anos, foi morta a tiros em outubro de 2002, na garagem da casa onde morava, em Guarulhos. Ela se preparava para uma viagem de 592 km até o presídio de Presidente Bernardes, no interior de São Paulo, onde encontraria José Márcio Felício, o Geleião, e César Augusto Roriz Silva, o Cesinha, os únicos de oito fundadores do PCC que ainda estavam vivos.
“Em 2002 eu estava no sistema penitenciário, preso há três anos. Eu era tipo um inimigo desses líderes do PCC, só que como eu era considerado um dos maiores assaltantes de banco do estado de São Paulo esses presos eram obrigados a conviver comigo sem fazer mal a mim. Mas aí eu tive um problema com esses presos: eles mandaram assassinar minha esposa, a doutora Ana Maria, que era advogada, e tentaram me matar, mandaram me matar”, afirmou Marcola em vídeo exibindo no programa de 6ª, ao explicar a origem de sua suposta ligação com a facção.
“Eu declarei uma guerra contra eles. O sistema penitenciário, cansado de ser extorquido, oprimido e assassinado por eles, acabou repudiando eles, e quando isso aconteceu eu passei a ser visto pelo sistema penitenciário como líder do PCC, já que eu tinha vencido os líderes, que eram o Geleião e outros que existiam”, detalhou o criminoso.
A mulher de Cesinha, Aurinete Carlos Félix da Silva foi apontada como mandante do assassinato de Olivatto. Uma das melhores amigas da advogada, a suspeita, conhecida como Netinha, foi delatada por Geleião, que queria proteção na cadeia para ele e a mulher, que haviam sido jurados de morte após o assassinato da ex de Marcola, que ainda era muito amiga do famoso assaltante.
A motivação do crime, segundo o fundador do PCC, foi a intenção de Ana de contar para Cesinha que a mulher dele havia sido fotografada em um bar com policiais e vinha maltratando parentes de presos na Cadeia de Bernardes.
Marcola negou envolvimento com “célula jurídica” do PCC
Preso desde 1999 e condenado a mais de 300 anos de prisão, Marcola deu sua versão da história com a facção paulista durante uma audiência que investigava seu envolvimento na criação de uma “célula jurídica” do PCC, em que ao menos 40 advogados ajudariam seus membros a arquitetarem planos criminosos, fazendo o “leva e traz” de dentro para fora dos presídios -na última semana, cinco anos depois do depoimento, quatro defensores foram presos como suspeitos de ajudar em esquemas de fuga.
“Você faz parte do PCC? É integrante do PCC?”, questionou o juiz Medeiros. “Não”, respondeu Marcola, sem elaborar.
Já quando foi perguntado “se não chefiou ou coordenou nenhuma célula jurídica do PCC”, o criminoso respondeu: “Nunca coordenei nem chefiei, conforme o Macarrão mesmo já falou, que é a testemunha de acusação”.
Orlando Mota Junior, o Macarrão, era dirigente do Primeiro Comando e foi apontado como o criador da chamada “sintonia dos gravatas”, como ficou conhecida a “parceria” entre presos e advogados. Após o assassinato de sua mulher, a mando de colegas de facção, o criminoso decidiu delatar parceiros e dar detalhes dos crimes.
Segundo Marcola, o depoimento que não o colocou como idealizador do esquema é verdadeiro, mas, mesmo diante das declarações de inocência, ele acabou condenado a 30 anos de prisão por acusações relacionadas ao caso.
Ao falar sobre seu contato com advogados, o criminoso afirmou que só demandou conversas com defensores em situações de emergência e disse que não gosta de falar com autoridades ligadas à Justiça.
Na primeira ocasião em que pediu para falar com uma advogada, ele diz que precisou ir a uma consulta particular após sofrer uma fratura em um jogo de futebol. Já em outra, ele requisitou uma consulta médica para tratar dores que sentia após sofrer um acidente de carro durante uma “saidinha”.
“Eu tenho dores muito fortes no rosto (após o acidente) e um médico falou que se aplicasse uma gota de botox no lugar em que eu sentia as dores, elas cessariam”, afirmou Marcola. “Por que eu nem gostava de ver os advogados, para ser sincero. Nem para falar com o senhor eu não gostava muito de ir, não sei se lembra que eu falava isso para o senhor, porque era muito humilhante ter que ser revistado, ficar nu, agachando e levantando, aquilo ali me constrangia muito.
“Na mesma conversa com o juiz, supostamente tentando provar sua desconexão com o PCC, Marcola pediu para ser transferido do presídio de Presidente Venceslau para uma “cadeia de oposição” à facção paulista, ocupada por recrutas de organizações rivais.
Ele ainda tentou argumentar que uma possível transferência para uma cadeia federal, de segurança máxima, não teria o mesmo efeito para desvinculá-lo do grupo. Sem sucesso, o criminoso acabou transferido para uma prisão federal no Distrito Federal, em 2019. Já em março deste ano ele foi transferido para Porto Velho (RO).
“Eu estou disposto a ir pra qualquer lugar que seja longe do PCC, para que não falem que eu sou líder do PCC.
Inclusive, doutor, os presos que foram daqui para a Federal também foram acusados de serem líderes do PCC lá, por isso que eu citei a cadeia de oposição. Por que eu acharia muito esquisito o promotor ou o delegado me acusarem de ser líder do PCC estando em uma cadeia dessas”, justificou Marcola na audiência de 2017, antes da primeira transferência.
No dia 10 de agosto, a família de Marcola foi alvo de uma operação da Polícia Federal que teve como objetivo desarticular um suposto plano de resgate do criminoso na penitenciária de Porto Velho, a 200 km da fronteira com a Bolívia.