Maior parte das capitais ainda não aplicou reforço em metade dos idosos

O levantamento foi realizado com dados do Ministério da Saúde até 4 de dezembro

Passados quase três meses desde que o Ministério da Saúde autorizou a aplicação das doses de reforço das vacinas contra Covid, apenas 11 das 27 capitais brasileiras já complementaram a imunização de 50% ou mais de seus idosos.

O levantamento foi realizado pela Folha com dados do Ministério da Saúde até 4 de dezembro e com as estimativas populacionais mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A análise revela uma grande variação entre as coberturas. Vitória lidera o ranking, com 91,3% de seus moradores com 60 anos ou mais já imunizados com o reforço, seguida de Campo Grande (79,4%), Rio de Janeiro (73,9%) e Belo Horizonte (64,1%).

Enquanto isso, no extremo oposto, Macapá e Rio Branco contabilizavam, respectivamente, apenas 10,7% e 14,3% desse público-alvo alcançado com a dose adicional. Boa Vista, Brasília, Cuiabá e Palmas também aparecem no fim da fila, com coberturas inferiores aos 40% da população de 60 anos ou mais.

Teresina, Maceió, Porto Velho, São Paulo, Natal, São Luís, Curitiba, Aracaju, Recife e Manaus completam a lista das 16 capitais –12 delas no Norte e Nordeste– que ainda não atingiram a marca de metade dos idosos com a aplicação extra.

Há de se considerar os atrasos nos números do ministério em relação aos boletins municipais, devido ao processo de digitalização dos registros. Isso leva a divergências entre os dados das secretarias municipais e da pasta federal.

A prefeitura de São Paulo, por exemplo, informa ter vacinado 49,6% dos idosos com o reforço até o fim de novembro. Já os registros do ministério indicam que 42,5% dos paulistanos com 60 anos ou mais haviam recebido a dose extra.

A dose de reforço contra a Covid-19, liberada primeiramente para os idosos de 70 anos ou mais e pessoas imunossuprimidas, começou a ser aplicada em setembro.

Ainda no fim daquele mês, a pasta ampliou o público-alvo, incluindo também aqueles com 60 anos ou mais e os profissionais da saúde.

Vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e professora da Universidade Federal do Ceará, a epidemiologista Lígia Kerr lembra que os idosos estavam entre os primeiros grupos da campanha, iniciada no fim de janeiro, e, portanto, podem estar com a proteção defasada.

“A terceira dose da vacina nos idosos é necessária. Acima dos 60 anos, já se sabe que há uma queda de anticorpos razoavelmente intensa depois de quatro meses [após a segunda dose]”, diz.

Pesquisa realizada em Israel com dados de 843 mil pessoas com 50 anos ou mais, publicada nesta semana pelo New England Journal of Medicine, por exemplo, sugere que o risco de morte é 90% menor entre as que receberam o reforço da Pfizer após cinco meses, na comparação com aquelas que haviam completado apenas o primeiro esquema vacinal.

“Os idosos acima de 70 anos continuam sendo os mais acometidos pelas formas graves da Covid-19 com indícios de ascensão nas taxas de hospitalizações desta população”, diz a última versão no plano.

Diante das incertezas trazidas pelo surgimento da variante ômicron, a BioNTech e a Pfizer informaram nesta semana que a terceira dose de sua vacina contra a Covid neutralizou a nova cepa do coronavírus em testes de laboratório –com apenas duas doses, porém, há perda de eficácia frente à variante.

As empresas anunciaram que, caso necessário, seria possível desenvolver uma versão do imunizante, específica para a nova mutação, até março do ano que vem.

“Mesmo com a maioria dos governadores tendo proibido as festas públicas, muita gente vai persistir e fazer sua festa particular, podendo levar ao aumento da circulação do vírus. É importantíssimo que os idosos sejam cuidados, e a melhor maneira de cuidar deles nesse momento é levá-los para se vacinar com a maior urgência possível”, alerta Kerr.

Na avaliação da vice-presidente da Abrasco, prefeitos e governadores devem aproveitar o momento, mais propício em termos da oferta de doses, para acelerar a aplicação das doses de reforço.

“Estamos com um suprimento importante, então é fundamental que essa terceira dose seja levada ativamente até os idosos, ou que eles sejam chamados e levados às unidades de saúde, para que possam ser adequadamente imunizados”, recomenda a especialista.

Nanci Silva, consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, também cobra mais estímulo por parte das autoridades sanitárias.

“Essas taxas estão relacionadas ao grau de educação da população, de um modo geral, mas também, obviamente, ao grau de incentivo e de informação por parte das prefeituras. As pessoas precisam ser estimuladas ao processo de vacinação. É necessário criar as condições propícias para que as pessoas sejam vacinadas. Chegar até essas pessoas, ir até onde o idoso está”, reforça Silva.

Mais recentemente, em 16 de novembro, o ministério da Saúde estendeu a aplicação da dose de reforço para toda a população adulta. Até o momento, segundo a análise da Folha, foram administradas 5,3 milhões de terceiras doses nas capitais em pessoas com 18 anos ou mais (incluindo os idosos).

Vitória também lidera o ranking com o maior percentual de pessoas com 18 anos ou mais já imunizadas com a dose de reforço (27,35%). Campo Grande, Porto Alegre e Rio de Janeiro são as outras únicas que também já venceram a marca dos 20%.

Enquanto isso, sete capitais ainda não vacinaram nem 10% de seus adultos com o reforço: Porto Velho, Brasília, Cuiabá, Palmas, Boa Vista, Rio Branco e Macapá.

Ao anunciar a ampliação para todos os adultos, a secretária de Enfrentamento à Covid do Ministério da Saúde, Rosana Leite, afirmou que a previsão do governo federal era garantir o reforço a todos os brasileiros maiores de 18 anos até o meio do ano que vem, totalizando 103 milhões de doses aplicadas até maio de 2022.

Por Cristiano Martins e Diana Yukari

 

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