Juíza bloqueia bens de empresa suspeita de maus-tratos contra 300 bezerros

O proprietário da fazenda foi preso

A juíza Luciene Ferreira, de Cunha, no interior paulista, determinou nesta terça-feira (8/2), o bloqueio de bens no valor de R$ 3 milhões da empresa Mashia Agropecuária. Ela é suspeita de submeter ao menos 300 bezerros a maus-tratos, em uma fazenda de engorda de gado no município. Aos menos 12 morreram.

Os animais foram encontrados no dia 2 na fazenda Roça Grande, “em meio à lama, sem comida, água ou abrigo, já em estado de desnutrição”, segundo descrição da diligência feita pelo Escritório de Defesa Agropecuária de Guaratinguetá e da Polícia Militar Ambiental.
O episódio ocorre menos de três meses depois do abandono de ao menos mil búfalos em Brotas, no interior, e voltou a mobilizar organizações de defesa dos animais e a Justiça. O proprietário da fazenda foi preso no fim de janeiro.

“Quanto a diligência chegou, se deparou com um cenário de guerra. Animais mortos, outros agonizando, com alto grau de desnutrição”, afirmou a advogada Jaqueline Tupinambá, que atua como assistente do Ministério Público na ação movida contra a empresa pecuária.

Ao menos 12 animais já morreram, segundo a defensora. Laudos da Polícia Científica e de peritos da USP (Universidade de São Paulo), ainda de acordo com a advogada, atestam o estado de desnutrição dos animais e confirmam os maus-tratos.

Além do bloqueio de bens, a Justiça determinou a destituição da guarda dos animais e interditou o sítio Roça Grande para receber outros animais.
O valor do bloqueio, segundo a Justiça, deverá cobrir os gastos com remoção, atendimento, tratamento, transferências dos animais para santuários e, também, é a título de compensação ambiental.

Na diligência, os proprietários já haviam sido multados em R$ 906 mil pela Polícia Ambiental pelo crime de maus-tratos.
Organizações não governamentais como a Arca da Fé e o Grad (Grupo de Resgate de Animais) –ambas com atuações em emergências como a de Brumadinho, por exemplo– se deslocaram para Cunha para fazer o atendimento emergencial aos animais.

Os bezerros começaram a ser retirados da fazenda no último domingo (6) e foram transferidos de forma provisória para o Parque de Exposições Agropecuárias da cidade de Cunha, onde foi montado um mini-hospital de campanha.
Os animais passaram a receber alimento e água. Em seguida, foram submetidos a avaliações de veterinários e receberam outros cuidados de voluntários.

“Por enquanto estamos fazendo o trabalho de recuperação, com aplicação de vermifugação, realizando exames clínicos; fazendo a identificação por gênero, idade e peso e medindo o escore corporal de cada um”, disse a presidente da ONG Arca da Fé, Vanessa Araújo.
Segundo ela, muitos animais foram retirados da fazenda com sinais de desnutrição. “Estavam muito magros, com as costelas aparecendo, alguns sem condições de ficarem de pé”, relatou. A voluntária disse que na contagem da Polícia Ambiental, feita no dia da autuação, havia 302 animais.

Vanessa disse que, nesta quarta, voluntários da Arca voltariam à fazenda para ver se ainda há algum animal desgarrado, ou que não tenha sido encontrado quando houve a transferência para o parque de exposições.
Com a transferência para o parque de exposições, a ONG iniciou uma campanha pela arrecadação de alimentos. Os voluntários pedem silagem, feno, sal mineral, água, além de cobertores térmicos e mantas térmicas –que vão auxiliar no tratamento na recuperação.

A reportagem não conseguiu contato com a Mashia Agropecuária.
A advogada Jaqueline Tupinambá afirma que a Mashia Agropecuária fazia o que chamou de “pirâmide de investimento”. Segundo ela, o grupo oferecia investimentos no setor de gado de corte no qual a pessoa poderia investir, sem que tivesse de se ocupar do manejo.

“Eles se anunciavam nas redes sociais como um negócio onde alguém poderia investir em gado sem colocar os pés na lama”, afirmou.
Pelo negócio anunciado, a empresa recebia investimentos nas cabeças de gado, promovia a engorda, vendia por um preço maior e, com isso, garantia lucro ao investidor.
A advogada diz que a dinâmica do negócio ainda está sendo analisada. O que se sabe até o momento é que a empresa ofereceria lucro de 25%, sem, no entanto, definir prazos.

Em anúncios que ainda estão disponíveis na internet, a empresa diz que compra bezerros com idade aproximada de oito meses e engorda a pasto por nove meses.
Em seguida finaliza o processo de engorda com um confinamento de 90 dias com uma dieta composta de material vegetal e ração de alta performance, chegando ao fim do processo com um animal com peso final médio de 410 kg. Segundo esse modelo, o investidor saberia quanto iria obter de lucro no prazo de um ano.

Foi ajuizada ação civil pública contra o proprietário do sítio e a empresa responsável, para a destituição da guarda dos animais. Além disso, pediu que o local fique impedido de receber outros animais.

O órgão diz que vem realizando tratativas para liberar verbas voltadas ao tratamento emergencial dos bovinos e à obtenção de outras áreas com pastagem que possam ser ocupadas durante a recuperação física dos animais.
No caso dos búfalos de Brotas, o Ministério Público Estadual abriu inquérito para apurar as responsabilidades pelo crime.

O pecuarista Luiz Augusto Pinheiro de Souza, dono da Fazenda São Luiz da Água Sumida, em Brotas, permanece preso no CDP de Guarulhos 2. Ele foi detido dia 27 de janeiro, em São Vicente, no litoral paulista.

Por Tote Nunes

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