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FolhaPress

Investigação aguarda perícia e mira novos suspeitos por crime no Amazonas

Segundo a PF, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, indicou às autoridades onde havia enterrado os corpos

Foto: Reprodução

Os investigadores do assassinato do indigenista Bruno Pereira, 41, e do jornalista britânico Dom Phillips, 57, no Amazonas, dizem haver indícios da participação de uma terceira pessoa no crime e miram a possibilidade de novas prisões.

Além disso, aguardarão os resultados da perícia para confirmar se os restos humanos localizados nesta quarta-feira (15) são mesmo de Pereira e Phillips.
Nesta quarta, a Polícia Federal disse que um dos suspeitos investigados confirmou participação no assassinato do indigenista e do jornalista.

Segundo a PF, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, indicou às autoridades onde havia enterrado os corpos, bem como ocultado a lancha em que viajavam Pereira e Phillips.
A perícia também vai determinar a causa da morte e a arma utilizada no crime. Segundo a PF, Pelado disse que as mortes ocorreram com disparo de arma de fogo.

O delegado da Polícia Civil Guilherme Torres disse que a força-tarefa no Amazonas não terminou nesta quarta-feira e que não se descarta a hipótese de outras pessoas estarem envolvidas.
Além de Pelado, outro suspeito, Oseney de Oliveira, conhecido como Do Santos, foi preso na terça (14). Ele é irmão de Pelado, mas a PF disse que ele nega ter participado do crime.

Eduardo Alexandre Fontes, superintendente da PF no Amazonas, confirmou haver indícios de participação de uma terceira pessoa na morte do indigenista e do jornalista.
Pereira e Phillips desapareceram em 5 de junho quando retornavam de barco à sede do município de Atalaia do Norte (AM). Trata-se do município mais próximo à entrada da terra indígena Vale do Javari.

Segundo Fontes, foram feitas escavações num local de “dificílimo acesso” e sem sinal de telefone. O material encontrado seria enviado nesta quinta-feira (16) para o instituto de criminalística, em Brasília.
Na semana passada, após ser preso, Pelado afirmou em audiência de custódia em Atalaia do Norte que havia sido torturado e agredido por policiais do Amazonas.

Na ocasião, ele relatou que policiais o agrediram, usaram uma sacola em sua cabeça para sufocá-lo e que chegou a desmaiar na lancha que o transportou à cidade.

A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas disse na ocasião que os relatos seriam “devidamente apurados” e que não compactuava com desvios de conduta. Nesta quarta, a PF levou Pelado ao local dos desaparecimentos. Ele estava totalmente coberto quando foi levado para a busca dos corpos.

Pelado e seu irmão vivem na comunidade São Gabriel, onde moram ribeirinhos que sobrevivem da pesca e da agricultura tradicional.

As buscas por vestígios de Pereira e Phillips estavam concentradas num trecho do rio entre São Gabriel e a comunidade Cachoeira.
Durante as buscas pelo indigenista e pelo jornalista, as equipes de buscas conseguiram localizar uma mochila, roupas e um documento pessoal do indigenista.

A investigação aponta a pesca e a caça ilegal na região –e os conflitos decorrentes das atividades ilegais– como pano de fundo do crime.

Segundo a polícia, Pelado indicou que a lancha em que viajavam Pereira e Phillips foi afundada propositadamente. A embarcação ainda não apareceu, mas será buscada nesta quinta-feira, disse Fontes. “Colocaram sacos de terra nela para ela afundar. Tiraram o motor, afundaram o motor.”

Policiais também investigam um suposto financiamento da atividade ilegal de pesca e caça pelo narcotráfico na região, um problema comum em praticamente toda a tríplice fronteira do Brasil com Peru e Colômbia.
Se for confirmada a conexão com tráfico internacional de um eventual crime, o caso passará a ter natureza federal e será investigado somente pela PF.

Pereira e Phillips faziam uma viagem pela região próxima ao território indígena, o segunda maior do país, com 8,5 milhões de hectares, no extremo oeste do Amazonas.
A região do desaparecimento é marcada por forte exploração ilegal do pirarucu e de tracajás, principalmente dentro da terra indígena. Há relatos de tiros contra bases de fiscalização da Funai (Fundação Nacional do Índio) por parte de pescadores ilegais.

Por Vinícius Sassine, Rosiene Carvalho e Cézar Feitoza