É impossível manter confinamento contra Covid, diz Doria após aglomerações

No último domingo (22/8), o clima era de "liberou geral" em redutos boêmios da cidade

Cenas de aglomerações em bares, restaurantes e praias coalharam as imagens do fim de semana, o primeiro após o início da flexibilização das atividades em todo o estado de São Paulo.

Apesar disso, o governador de SP, João Doria (PSDB), parece não estar preocupado com a retomada de casos e internações que pode ocorrer como resultado do relaxamento de medidas de restrição.

Para ele, o uso das máscaras de proteção facial, defendidas como uma das medidas a serem adotadas para diminuir o risco de infecção por especialistas e autoridades em saúde em todo o mundo, é uma questão de “consciência pessoal”.

Embora o próprio Doria tenha anunciado um decreto na última semana que prorroga a obrigatoriedade das máscaras em todo o estado até o dia 31 de dezembro, ele diz não ser possível fazer a fiscalização daqueles que optam por não usá-las.

“É a consciência pessoal, é a proteção que cada pessoa deve ter para si, para seus familiares e seus amigos. Evidentemente não há condição de fazer fiscalização em todas as cidades do estado, nas praias, calçadões, parques e praças”, disse o governador, em entrevista aos jornalistas na manhã desta segunda-feira (23/8), no Instituto Butantan, zona oeste da capital São Paulo.

Mesmo em bares e restaurantes, que desde a semana passada podem atender clientes sem restrição de público, não é possível autuar os estabelecimentos se houverem clientes sem o equipamento e aglomerados nas calçadas, diz.

No último domingo (22/8), o clima era de “liberou geral” em redutos boêmios da cidade, como a Vila Madalena, na zona oeste, e na região central, entre as ruas Frei Caneca e Peixoto Gomide.

Para Doria, as pessoas que estão sentadas nas mesas consumindo alimentos ou bebidas não podem ser obrigadas a usar o equipamento enquanto se alimentam.

Já em relação ao público de pé aglomerado nas calçadas, a lógica, segundo o governador, é a mesma de pessoas em parques e praças. “Estabelecer uma relação de cerceamento de ordem disciplinar em relação às pessoas que não usam máscaras [ao ar livre] seria um movimento belicoso”, disse.

As transmissões ao ar livre são de fato menores do que em ambientes fechados, com pouca circulação do ar, mas segundo especialistas, mesmo em ambientes abertos, se houver aglomeração de pessoas e, principalmente, sem máscaras, a transmissão do vírus logicamente vai poder ocorrer. Isso é ainda mais preocupante com a variante delta, cuja capacidade de transmissão é maior que a da cepa original do vírus.

Contrariando os especialistas, Doria disse ser “compreensível que as pessoas, após 18 meses de confinamento, queiram sair” e ainda que é “impossível manter as pessoas confinadas em suas casas”, embora faça um apelo a todos, mesmo os já vacinados, que continuem usando máscaras.

A recomendação de manter o uso de máscara mesmo entre vacinados deve evitar o que se deu em países com a imunização já avançada e que viram uma explosão de novos casos e hospitalizações no último mês, como é o caso da Inglaterra e Estados Unidos.

Nesses lugares, aglomerações nas ruas e bares após a flexibilização das medidas restritivas trouxeram as novas infecções para patamares vistos em fevereiro, antes do aumento da cobertura vacinal. Isso se deveu muito em parte à delta, que pode diminuir ligeiramente a efetividade conferida pelas vacinas.

Ainda não há dados precisos sobre a variante no Brasil, uma vez que o esforço de monitoramento genômico do vírus ainda e mínimo, e os estados e municípios só notificam casos detectados a partir do sequenciamento.

Nesta segunda (23/8), o Instituto Butantan, junto ao governo de SP, realizou mais uma entrega de 4 milhões de doses da Coronavac ao Ministério da Saúde, chegando assim a um total de 78,85 milhões de doses destinadas à campanha de vacinação nacional contra Covid-19 –cerca de 80% do total de 100 milhões de doses do acordo inicial do instituto com a pasta.

A previsão é de completar os 100 milhões até o dia 30 de agosto, um mês antes do previsto inicialmente, com a expectativa de entregas mais próximas e maiores nos próximos sete dias.

As doses serão encaminhadas ao PNI (Programa Nacional de Imunizações), para serem distribuídas proporcionalmente aos estados.

Doria acompanhou a entrega ao lado do secretário estadual da saúde, Jean Gorinchteyn, de Regiane de Paula, coordenadora do Programa Estadual de Imunizações (PEI), de Reinaldo Noburu Sato, superintendente da Fundação Butantan, e de Rui Cury, presidente da Fundação Butantan, em entrevista a jornalistas na manhã desta segunda.

A entrega é a sexta realizada desde o início do mês de agosto. Na última quarta (18/8), o instituto recebeu também um carregamento de IFA (ingrediente farmacêutico ativo), cuja produção já iniciou na fábrica da Coronavac no instituto, segundo Reinaldo Sato.

Além da Coronavac, o país conta hoje com outros três imunizantes: a vacina da AstraZeneca/Oxford, produzida na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, a americana-alemã Pfizer/BioNTech e a belga-americana Janssen.

Nesta segunda (23/8), a capital paulista começa a vacinação dos adolescentes de 12 a 15 anos com comorbidades.
A imunização dos mais jovens, no entanto, vem em meio a um debate sobre se, no momento, seria uma estratégia melhor injetar uma dose reforço nos mais vulneráveis, como idosos e imunossuprimidos.

Entre os argumentos em favor da dose de reforço está o fato de que crianças e adolescentes costumam ter menores chances de adoecer e ter Covid grave.

Por Ana Bottallo 

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