Helicóptero é 'solução' para fugir do congestionamento nas estradas, mas custa caro – Mais Brasília
FolhaPress

Helicóptero é ‘solução’ para fugir do congestionamento nas estradas, mas custa caro

Agilidade e conforto entram na conta, mas não dá para desprezar a segurança

Foto: Reprodução

O aplicativo marca mais de três horas de viagem para percorrer um trecho de apenas 100 km até o destino. A impaciência já tomou conta da família inteira dentro do carro. Em meio ao anda e para do trânsito, o motorista olha pela janela e vê uma infinidade de pessoas que todos os anos têm a mesma ideia: chegar até o litoral às vésperas do feriado.

O roteiro é conhecido de muitos e os planos para escapar dessa roubada são os mais variados. Quem nunca pensou, por exemplo, em fugir do congestionamento e chegar à praia voando, literalmente? A diferença entre o sonho e a realidade, porém, está na casa dos milhares de reais.

Ou, com um pouco de sorte, por algumas centenas deles. O fato é que tudo envolve mais dinheiro do que a maioria absoluta dos brasileiros tem à disposição, mas não custa nada matar a curiosidade.

Sair da capital paulista e chegar a Ubatuba (226 km de SP) em apenas 1 hora e 10 minutos pode ser uma bênção em meio ao caos do trânsito no fim de dezembro. Mas, para quem já acha muito o preço do pedágio, a viagem pelos ares pode significar uma pequena fortuna. Um helicóptero para três passageiros sairia por R$ 6.960, em média.

A mesma conta vale para outros destinos conhecidos de fim de ano. Quem não quer se preocupar com operação descida no sistema Anchieta-Imigrantes pode cruzar a serra do Mar em uma viagem de apenas meia hora até o Guarujá (82 km de SP). O preço? A partir de R$ 2.900, no helicóptero para três pessoas. Os valores variam de acordo com as empresas do setor.

Sócio-proprietário da High Class, Bruno Sarti La Laina afirma que o público que pega uma aeronave às vésperas do Réveillon é muito específico. “São pessoas que não podem deixar a empresa no dia 30.

Mas também não têm como pegar sete horas de trânsito para viajar até o destino. Seria semelhante ao público da primeira classe do avião convencional”, diz. Geralmente, a família viajou antes e já está à espera desse único remanescente.

Segundo La Laina, os destinos mais procurados são Campos dos Jordão, Paraty, Riviera de São Lourenço e Ilhabela. Um detalhe curioso é que helicópteros têm limite de peso para decolagem. Dessa forma, as bagagens costumam seguir bem antes até o destino em um carro com motorista.

Quando a pessoa desembarca, já tem tudo à espera.
Além de pagar pela hora de voo, é importante lembrar que o cliente também é responsável por bancar, à parte, a tarifa de pouso. Em alguns lugares na capital paulista, como em hotéis, são cobrados até R$ 1.200 por um embarque ou desembarque.
Durante o GP de F1, são R$ 12 mil (mais de 10 salários-mínimos) só para descer no autódromo de Interlagos (zona sul).

Agilidade e conforto entram na conta, mas não dá para desprezar a segurança. La Laina diz que é importante o interessado procurar empresas homologadas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) antes de se aventurar pelos céus. Na sua, por exemplo, cada passageiro tem uma apólice de seguro que chega a US$ 10 milhões (R$ 56 milhões).

Segundo Rafael Dylis, da Helimarte, embora grana não seja necessariamente um problema, quem paga para voar não esbanja. “O cara que é rico cuida do dinheiro e chora cada centavo. Às vezes, prefere tirar 3% do cartão para fazer o pagamento por depósito”, diz.

“No fim de ano, a gente pega muito passageiro que junta dinheiro o ano inteiro para ir com a família. Ele pergunta se dá para ir para outro lugar para livrar a taxa de pouso”, explica.
Dylis dá uma dica de locais que costumam ser os destinos de seus clientes. “Onde tem bons hotéis e bons condomínios. E marinas para barcos grandes”, conta.

O responsável pela Helimarte diz que eles não são, necessariamente, multimilionários. “A gente atende um pessoal que mora em São Paulo, em apartamento de R$ 2 milhões, R$ 3 milhões. Estou no estacionamento [do hangar] agora e tem três BMW blindadas”, conta. “É o cara que levanta R$ 100 mil por mês e consegue se programar no fim de ano”, diz.

Muitas vezes, a necessidade ou o gosto por voar é tanto que Dylis recomenda ao cliente a aquisição de uma aeronave. “Se ele usa mais que 30 horas por mês, vale a pena comprar.”

Não são raros os casos, porém, de quem tem uma aeronave e, mesmo assim, dependendo da viagem, prefere alugar uma outra. Segundo Paul Malick, da Flapper, ultrarricos reservaram neste ano aviões para o Caribe por preços que variam de US$ 80 mil (R$ 450 mil) a US$ 120 mil (R$ 680 mil).
Mais comuns, porém, são voos para o Condomínio Laranjeiras, em Paraty, ou para Ilhabela, no litoral norte. “Nosso destino principal é Angra dos Reis. Voo compartilhado, semanal, por R$ 1.200 por pessoa, em um avião Caravan, turbo hélice”, diz.

PERNA VAZIA
Malick explica que surgem oportunidades de última hora no site da Flapper. São as “empty legs” (pernas vazias), quando uma aeronave tem vaga disponível por preços relativamente mais acessíveis, até 60% mais baratos. Segundo o executivo da Flapper, um voo no início de dezembro para Curitiba (PR) ofereceu vagas por R$ 1.200 e se esgotou rapidamente.

Já na Helimarte, Dylis criou até um perfil no Instagram (Helicóptero para Todos, com quase 13 mil seguidores) para anunciar as promoções. Na última semana, por exemplo, havia a possibilidade de voar entre São Paulo e Paraty por R$ 300 por pessoa –uma linha convencional de ônibus cobra em torno de R$ 90.

O empresário Lucas dos Santos Fernandes, 28, conhece bem as facilidades de voar por aí com helicóptero. Seja com a família ou com a namorada, ele costuma alugar a aeronave para seguir para destinos como Ubatuba, Angra ou Ilhabela. Ele economiza, no mínimo, um terço do tempo que levaria para viajar de carro. “É o conforto, a agilidade. Não preciso pegar trânsito”, conta.

Fernandes mora em Limeira (147 km de SP) e alterna o ponto de partida. Caso não tenha tanta urgência, decola do Campo de Marte (zona norte de São Paulo). “Dependendo da necessidade, eles vêm até o interior me buscar”, conta. “A gente sabe que tem o gasto, mas compensa mesmo assim. Daqui para Angra, uma hora e meia, duas horas de viagem”, diz.

Nem sempre a escolha é pelo helicóptero. Engenheiro de profissão, Fernando Barros, 78, costuma usar um avião Caravan, que transporta piloto, copiloto e mais nove passageiros. O destino favorito é Angra dos Reis, por R$ 1.300. Nos últimos três anos, foram 62 viagens. “Acho que vale a pena. Para ir a Angra, teria que pegar uma ponte aérea, ir ao Rio e alugar um carro”, diz.

Para uma família que pensa em escapar do trânsito e chegar à praia por cima, literalmente, Barros faz um alerta. “Pega leve. Se for em quatro pessoas, são quase R$ 6.000.”

EXEMPLOS
* Tempo estimado de viagem a partir do Campo de Marte, em São Paulo

Ubatuba
1h10
Robinson 44 (3 passageiros): R$ 6.960
AS350 Esquilo (5 passageiros): R$ 14.300

Paraty
1h15
Robinson 44 (3 passageiros): R$ 7.540
AS350 Esquilo (5 passageiros): R$ 16.250

Guarujá
30 minutos
Robinson 44 (3 passageiros): R$ 2.900
AS350 Esquilo (5 passageiros): R$ 6.500

Angra dos Reis
1h25
Robinson 44 (3 passageiros): R$ 9.280
AS350 Esquilo (5 passageiros): R$ 19.500

Rio de Janeiro (Aeroporto de Jacarepaguá)
2h10
Robinson 44 (3 passageiros): R$ 13.100
AS350 Esquilo (5 passageiros): R$ 26.000

Por William Cardoso