Gestão Doria deixa de contar casos confirmados e mortes por Covid em escolas

Os registros, agora, são apenas de "casos prováveis" de infecção

Desde que as aulas presenciais foram retomadas sem restrição de atendimento de alunos em São Paulo, a gestão João Doria (PSDB) não contabilizou nenhum caso confirmado ou morte por Covid nas escolas. Os registros, agora, são apenas de “casos prováveis” de infecção.

De 2 a 14 de agosto, a Secretaria Estadual de Educação diz que as escolas estaduais e particulares registraram 1.288 casos “prováveis” de infecção, 72,5% deles entre alunos e 27,5% em trabalhadores. Não foi informado quantas pessoas frequentaram as unidades no período, por isso, não é possível saber a taxa de incidência da doença.

As informações são do Simed, sistema criado em dezembro pela secretaria para preenchimento obrigatório pelas escolas particulares e estaduais. O decreto de criação do sistema diz que as instituições de ensino devem mantê-lo “constantemente atualizado”. No entanto, desde maio, a pasta não torna as informações públicas.

Apenas dois boletins epidemiológicos sobre as contaminações nos estabelecimento de ensino foram publicados, em março e em maio. A metodologia do primeiro relatório foi questionada já que, a conta para indicar uma baixa taxa de incidência de casos nas escolas, incluía alunos que não pisaram nem um dia sequer em sala de aula.

Em maio, a pasta informou que passaria a divulgar de forma diferente os casos registrados nas escolas, com classificação de prováveis e confirmados. Os prováveis são aqueles que alunos e funcionários apresentaram resultado positivo de teste do tipo RT-PCR ou de antígeno, mas cujos dados não foram validados pela Secretaria de Saúde.

Só são considerados de fato confirmados, os que tiveram resultado positivo e validados pelo sistema da Saúde. Desde então, mais nenhum caso confirmado foi registrado no Simed.

O último boletim divulgado em maio também trazia a informação do registro de 39 óbitos por Covid entre pessoas da comunidade escolar, sem detalhar quantas foram de docentes ou estudantes. Agora, o dado não é mais informado.

Desde o ano passado, o secretário de Educação, Rossieli Soares, defende que as escolas são espaços seguros e devem ser reabertas para receber os alunos. Em agosto, o governo paulista retirou as restrições e as unidades foram autorizadas a atender todos os estudantes, desde que respeitada a distância de um metro entre eles.

Enquanto a maior parte dos colégios particulares já recebe os alunos presencialmente todos os dias, sem rodízio de turmas, a maioria das escolas estaduais continua com o revezamento. Professores da rede pública relatam que a presença dos estudantes continua irregular.

“Não adianta o governo dizer que as escolas são seguras e que a pandemia está controlada, mas esconder as informações do que acontece dentro delas. É preciso estabelecer uma relação de confiança com as famílias para que os alunos voltem”, diz Fernando Cássio, professor da UFABC e integrante da Repu (Rede Escola Pública e Universidade).

Para especialistas da área da saúde, se houvesse monitoramento eficaz e política disseminada de testagem nas escolas, não só haveria maior controle de casos, mas também garantia de mais tempo dos alunos em sala de aula.

Atualmente, se um aluno da rede estadual apresenta sintomas ou teve contato com alguém contaminado, ele deve ficar afastado das aulas presenciais por 14 dias. Nas escolas particulares, o estudante pode voltar assim que tiver resultado negativo do teste para Covid.

“É mais um aspecto em que a pandemia castiga muito mais a população menos favorecida. O estudante da escola pública, que já teve menos oportunidades de estudo, ainda fica sem acesso à testagem, monitoramento, rastreamento que o permita continuar na escola em segurança”, diz Renato Kfouri, infectologista pediátrico.

Para a epidemiologista Ana Brito, da Fiocruz, as classificações usadas pelo governo paulista para acompanhar os casos nas escolas não têm embasamento científico. “Do ponto de vista de monitoramento e rastreamento dos casos, não há porque dividir os casos em confirmados e prováveis.”

“O que precisa acontecer é notificar todos os casos suspeitos e confirmados para que seja feito rastreamento de contactantes e a testagem. A partir do resultado do teste, definir o isolamento ou o retorno do aluno para a escola”, diz.

Kate Abreu, secretária executiva da Comissão Médica da Educação da secretaria estadual, disse que o Simed continua sendo preenchido pelas escolas, mas que a pasta estuda uma nova forma de tratamento dos dados.

Segundo ela, é preciso validar as informações repassadas pelas escolas com o sistema da Saúde, o que ainda não foi feito. Abreu informou que ainda não há previsão de quando os bancos de dados serão cruzados para que as informações possam ser publicadas.

Por Isabela Palhares

 

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