Família de ‘desaparecido’ vela corpo de ‘homem errado’ duas vezes no ES
Boatos disparados por aplicativo de mensagens apontaram a vítima como sendo Maciel
A família de um pescador “desaparecido” em Piúma (ES) velou o corpo de um homem duas vezes por engano. A situação gerou confusão porque os parentes “corretos” só tomaram conhecimento da morte ao serem chamados para a celebração do desconhecido.
“A gente chegou e deu de cara com a família velando o corpo do nosso parente. A gente não entendeu nada porque eles estavam fazendo aquilo, porque eles sabiam que não era o corpo. Se a gente não tivesse sido avisado, eles iriam enterrar nosso parente e a gente nunca ia achar”, lamentou, revoltada, à reportagem, uma familiar de Claudemir Moreira, vítima de homicídio. Por medo, ela pediu para não ser identificada.
O ajudante de pedreiro de 36 anos foi vítima de homicídio em uma área conhecida pelo tráfico de drogas do município. “A gente acredita que ele tenha sido morto por engano. Não era para ele morrer ali, porque ele não deve nada a ninguém e não tem envolvimento com crimes. Ele estava voltando do trabalho dele quando fizeram essa covardia”, explicou a autônoma. “Identificamos ele pela tatuagem no peito escrito com o nome do filho dele. Tudo isso é revoltante, constrangedor e dolorido demais pra gente”.
BOATO E CONFUSÃO
O pescador Maciel Fernandes dos Santos, 41, saiu de casa sem avisar à família, nesta segunda-feira (9), e não fez mais contato. Apesar de serem informados por terceiros que o homem teria saído para mais uma incursão de pescaria, os parentes foram surpreendidos com a informação de que um homem com as mesmas características foi assassinado no bairro Niterói, por volta das 16h.
Boatos disparados por aplicativo de mensagens apontaram a vítima como sendo Maciel, o que ganhou ainda mais força depois que a família buscou a polícia e o reconheceram, no SML em Cachoeiro de Itapemirim (ES) -apesar de o terem visto apenas de bruços e com o rosto ensanguentado. O corpo acabou liberado para velório, realizado na madrugada de segunda-feira (9), em uma igreja evangélica do município em que a família vivia.
Na ocasião, o caixão foi aberto e parentes divergiram sobre aquele ser Maciel. Então, a funerária foi acionada e recolheu o corpo, demandando novo reconhecimento e liberação em laboratório, o que foi feito, pouco depois, por um segundo familiar, apesar de se dizer em dúvida. O homem acabou sendo levado de volta à igreja e os presentes passaram a discutir, por não concordarem se ele seria ou não Maciel.
O inconveniente só começou a ser desfeito depois que uma jornalista local, conhecida de ambas as famílias, ciente do desaparecimento de Claudemir Moreira, 36, pediu que seus parentes se dirigissem à igreja, onde a suspeita se confirmou. Ela pediu à reportagem que não tivesse o nome divulgado.
Familiares de Maciel Fernandes dos Santos foram procurados. Apenas um dos envolvidos no reconhecimento equivocado do corpo se pronunciou sob a condição de anonimato: “A gente entende que pode ter tido confusões. Tá todo mundo preocupado, cheio de coisas na cabeça e pode acontecer isso. Mas conversamos com a outra família. Eles estão sofrendo, mas felizmente, do nosso lado, conseguimos confirmar [tudo]”.
A expectativa é que o corpo de Claudemir seja velado “pela terceira vez” nesta quinta (12), para, enfim, ser enterrado pela família correta em Piúma. Na noite desta quarta (11), Maciel foi localizado em seu barco de pesca. Ele deve voltar a Piúma na madrugada desta sexta-feira (13).
CONFUSÃO SERÁ INVESTIGADA
Por meio de nota oficial, a Superintendência de Polícia Técnico-Científica, informou que o corpo havia sido liberado para um familiar da vítima que reconheceu o corpo como sendo do seu irmão, já que o corpo permitia claro reconhecimento visual e confirmou tê-lo recebido de volta após a confusão ser verificada.
“O corpo então, foi encaminhado para o Serviço Médico Legal (SML) de Cachoeiro de Itapemirim, onde foi reconhecido por parentes, como sendo supostamente um outro cidadão. Foi realizada a coleta das impressões digitais para fazer o exame de confronto papiloscópico, visando identificar o corpo para, posteriormente, ser liberado aos devidos familiares”, informou o órgão à reportagem. A SPTC esclareceu ainda que será realizada uma apuração interna para levantar informações sobre o fato.
Por Vinícius Rangel