Estradas voltam a ceder no extremo-sul da Bahia e separam famílias no Natal
Uma das cidades mais atingidas, Itamaraju está com 4 distritos sem acesso por terra
Duas semanas depois de enfrentar um temporal que causou enchentes e inundou cidades e distritos da região, famílias do extremo-sul da Bahia voltaram a sofrer as consequências das fortes chuvas que atingem o estado nos últimos dias e deixaram 58 cidades em estado crítico.
Em Itamaraju, cidade de 67 mil habitantes que foi uma das mais atingidas pelas chuvas da primeira quinzena de dezembro, as estradas para os distritos de Nova Alegria, Itabrasil e Pirajá voltaram a ceder e tiveram que ser interditadas. O povoado de São Paulinho segue sem acesso terrestre há três semanas.
A chuva voltou a cair forte na região desde quinta-feira (23) e teve o seu pico em Itamaraju no sábado (26). Mas logo no primeiro dia o acesso para Nova Alegria, um dos distritos mais devastados pelas primeiras chuvas, teve que ser interditado após um dos desvios construídos ter cedido.
O bloqueio da estrada acabou separando famílias durante o Natal. Professora da rede estadual de ensino e moradora do distrito Nova Alegria, Rosilda Oliveira Rios, 49, viu seu marido partir na quinta-feira para levar cestas básicas para o povoado de Coqueiro, em Jucuruçu.
Mas, com a interdição da estrada, ele não conseguiu voltar para Itamaraju, onde a família está temporariamente abrigada após o desabamento parcial da residência da família em Nova Alegria. Rosilda e sua filha, Mariana Rios, 10, acabaram passando o Natal sozinhas.
“Foi muito difícil, principalmente por causa da minha filha. Nunca passei o Natal longe do meu esposo, a gente sempre reúne família. Espero a gente consiga passar ao menos o Ano-Novo com todo mundo junto”, afirma Rosilda.
Não teve ceia de Natal, mas mãe e filha pediram uma pizza grande para celebrar a data comemorativa. “Comemos até enjoar e ainda sobrou para outro dia, porque éramos só nós duas”, diz.
A família ainda não tem previsão de quando deve conseguir voltar para Nova Alegria, distrito com cerca de 3.500 moradores.
O temporal fez do povoado um cenário de guerra, com casas destroçadas, paredes tombadas e montanhas de móveis, objetos e papéis amontoados nas calçadas.
O prefeito de Itamaraju, Marcelo Angenica (PSDB), afirma que as chuvas voltaram a causar estragos na cidade e que a prefeitura está esperando a chuva estiar para retomar os trabalhos reconstrução das vias – o município tem território extenso e cerca de 2.400 quilômetros de estradas vicinais.
A liberação das vias, diz, é crucial para garantir o abastecimento e a assistência às famílias que vivem nas comunidades rurais.
Com as novas chuvas que atingem a Bahia, subiu para 58 o número de cidades das regiões sul, sudoeste, oeste e recôncavo da Bahia que foram fortemente impactadas pelo temporal.
São municípios considerados em crise, que registraram inundações, alagamentos, enchentes e deslizamentos de terra causados pelos temporais e pelas cheias dos rios.
O número de municípios em situação de emergência subiu de 25 para 72 conforme decreto da Defesa Civil da Bahia publicado neste domingo (26).
Além disso, passou de 12 para 18 o número de mortes registradas na Bahia desde novembro em decorrência dos temporais. Duas pessoas estão desaparecidas e 286 ficaram feridas.
Ao menos seis rodovias federais estão com trechos interditados no sul e extremo-sul da Bahia. Dois trechos da BR-415, que liga Itabuna e Ilhéus, foram fechados por causa de alagamentos.
Em Ubatã, a rodovia BR-330 foi interditada após um afundamento na pista. Na BR-420, na altura da cidade de Lage, há interdição parcial pelo risco de queda de uma ponte.
O governador da Bahia, Rui Costa (PT), fez neste domingo um sobrevoo nas áreas mais atingidas das cidades de Itabuna, Ilhéus e Itajuípe, sul da Bahia, e disse que as imagens da destruição causada pelo temporal “são muito fortes”.
“É uma tragédia gigantesca. Não lembro se na história recente da Bahia tem algo dessa proporção. É algo realmente assustador o número de casas, de ruas e de localidades completamente embaixo d’água”, afirmou.
Por João Pedro Pitombo