‘Entramos em desespero’, diz passageiro que quebrou guichês da Gol em Guarulhos
Com o bebê chorando, o casal afirma que entrou em desespero
“Entramos em desespero”, diz o consultor mineiro Alexandre Lopes, 47. Ele e a mulher, Kênia, 39, estão em um vídeo que viralizou nas redes sociais no último feriado.
Nas cenas gravadas por um celular, o casal aparece quebrando guichês da Gol no aeroporto de Guarulhos (SP) após um problema no voo que os levaria para Belo Horizonte junto com o filho, que tem cinco meses.
O casal, que mora em Contagem (na Grande Belo Horizonte), contou à reportagem que o problema começou com o cancelamento do voo para Confins, por conta de uma forte chuva que atingiu a capital mineira na última segunda-feira (1º).
Eles haviam embarcado no aeroporto de Navegantes (SC), às 15h05 e chegaram em Guarulhos às 16h55 para fazer uma escala. O voo para Confins saiu às 18h55, dentro do horário.
A viagem, no entanto, foi prejudicada pelo mau tempo na chegada em Belo Horizonte. Alexandre conta que o avião sobrevoou o aeroporto de Confins por cerca de meia hora, até que os passageiros ficaram sabendo que teriam de voltar a Guarulhos.
Eles ainda disseram ter ficado mais de três horas dentro do avião, aguardando instruções da empresa, Nesse período, não receberam nem alimentação, afirma Lopes.
“O primeiro boletim, por volta das 19h30, dizia que a visibilidade estava baixa e que precisávamos aguardar novas informações. Quando o comandante foi dar o segundo boletim, por volta das 20h, informou para todos que não tinha previsão de abertura do aeroporto, mas que a tribulação teria de ser trocada por ter vencido o prazo de voos.”
Com o bebê chorando, sem mais leite ou fraldas para a criança na bagagem de mão, o casal afirma ter entrado em desespero. Chegaram a pedir ao comandante da aeronave que fossem liberados, mas, segundo eles, a saída só foi permitida depois que os passageiros ameaçaram ligar para a polícia.
Após mais de sete horas de atraso, já durante a madrugada, a família conta que se enfureceu com o que considera ter sido um descaso por parte da companhia, pela falta de informações e pela demora em acomodar os passageiros em um hotel.
“Tinha gente sem máscara, crianças espalhadas pelo chão, idosos sem o conforto devido. Um médico que estava no voo atendeu um passageiro que estava passando mal. Quando desembarcamos, a primeira coisa que fiz foi procurar a polícia”, diz Lopes.
As imagens, que foram reproduzidas nas redes sociais, mostram quando Kênia, aos gritos, exige que a companhia disponibilize um hotel para a família. Ela começa a dar tapas na placa de proteção do guichê.
“A atendente tentou por 45 minutos me colocar em hotel e remarcar voo e não conseguiu. Ela chamou o supervisor, que também não conseguiu e foram para dentro da sala da gerência. Uma outra passageira ofereceu uma fralda do seu bebê para que pudéssemos trocar o nosso.”
Irritada e sem respostas concretas dos funcionários da empresa, Kênia começou a dar socos e tapas mais fortes em uma das proteções de acrílico do balcão de check-in da companhia, exigindo que os funcionários resolvessem a situação.
Em desespero, ela grita que irá chamar a polícia e passa a bater com mais força na placa de proteção. “Ele só tem cinco meses, ele não tem culpa”, dizia, apontando para o filho.
“Resolve! O meu menino não vai pagar por isso. Eu quero alguém resolvendo isso aqui agora”, disse Lopes, já segurando um dos pedestais usados para organizar filas de passageiros.
Nas imagens, o marido, em seguida, volta correndo e usa o pedestal para derrubar as placas de acrílico do balcão da companhia, quebrando também uma impressora. O casal disse que terá de pagar R$ 5.000 pelos prejuízos.
“Naquela hora, eu não vi o meu filho, pensei que ele tinha morrido. A minha esposa não estava com ele no colo, pois uma outra passageira pegou o bebê, quando ela se cortou ao bater na placa de acrílico.”
O consultor reconhece que passou dos limites ao quebrar os guichês, mas que isso serviu para resolver o problema. “Foi uma atitude infeliz, mas a Polícia Militar chegou e a companhia aérea finalmente devolveu as nossas malas. Por volta de 1h da manhã, oito policiais vieram para me conduzir à delegacia por ter quebrado os guichês”, conta o consultor.
Segundo os Lopes, após a confusão, a família e os demais passageiros foram acomodados em um hotel a uma hora e meia de distância do aeroporto e puderam embarcar para Belo Horizonte no dia seguinte.
“Chegamos às 7h no hotel, mas não conseguimos dormir. O táxi voltou para nos buscar, para pegarmos um novo voo da Gol.”
Ele relata, ainda, que a família foi impedida por funcionários de tomarem outro voo da Gol. “Na hora de embarcar, quatro funcionários vieram nos retirar do saguão, dizendo que não éramos bem-vindos em uma aeronave da Gol. Nos trataram como terroristas. Pegamos um voo 30 minutos depois, de outra empresa “.
Durante a confusão, Kênia chegou a gritar para os atendentes da companhia que ela havia demorado 16 anos para conseguir engravidar do filho. “Gastei R$ 50 mil. Se este menino adoecer, juro que mato um por um.” Alexandre diz que entende a ira de sua mulher, por terem passado por muitas dificuldades até conseguirem se tornar pais de Davi.
A família diz que irá pagar os prejuízos da empresa e do aeroporto, após ter destruído os objetos, mas que pretende processar a Gol.
“Vamos levar para a Justiça. Quando eles falaram que a gente não era bem-vindo no outro voo, nos machucaram. Não tinham estrutura adequada e nem sistemas operando. Colocaram a vida do meu menino em risco e nos humilharam no dia seguinte”, afirma Lopes.
Em casos de voos atrasados ou cancelados, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) obriga a companhia aérea, mesmo quando ela não é responsável pelo ocorrido, a fornecer comunicação (acesso à internet e telefone) a partir de uma hora de atraso.
Quando o atraso passa de duas horas, as empresas são obrigadas a oferecer alimentação; a partir de quatros horas, o passageiro tem direito a receber acomodação ou hospedagem.
Em nota, a Gol informou que, após a decolagem na noite de segunda-feira (1º), o voo – G3 1324 (Guarulhos – Confins) precisou retornar ao aeroporto de Guarulhos por conta das condições meteorológicas adversas em Confins.
“A Companhia ressalta que ofereceu o suporte necessário a todos os clientes com alimentação e acomodação em hotéis na região metropolitana de São Paulo onde havia disponibilidade de quartos para seguirem viagem em voos programados para a terça-feira (2).”
Segundo a empresa, alguns Clientes, por motivo de segurança, seguiram em voos de outras companhias para Confins. “A Gol reforça que todos os procedimentos adotados a partir da necessidade de retorno à base de Guarulhos foram realizados com foco na segurança, valor número um.”