Depois da AstraZeneca, vacina da Pfizer some dos postos de saúde de SP
Pfizer estava em falta em 85% dos postos, dos 454 não tinham o imunizante
Depois de vacinas da AstraZeneca contra o novo coronavírus sumirem para segunda dose nos postos da cidade de São Paulo, desde esta quinta-feira (9/9), os moradores da capital paulista agora estão tendo dificuldades de encontrar o imunizante da Pfizer para o reforço na vacinação.
Segundo o site “De Olho na Fila”, serviço desenvolvido pela Prefeitura de São Paulo para mostrar a situação dos postos e se há vacina para segunda dose, por volta das 12h30 desta sexta-feira (10/9), a Pfizer estava em falta em 85% dos postos –dos 536 locais abertos para vacinação, 454 não tinham o imunizante.
A AstraZeneca não testava disponível em praticamente nenhum posto de saúde da cidade de São Paulo nesta sexta. No fim da tarde de quinta, apenas 20 tinham o imunizante, segundo o “Filômetro”, como o serviço da prefeitura é chamado.
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde disse que que recebeu nesta quinta-feira (9/9), 255 mil doses da vacina Pfizer e outras 128.510 da Coronavac do governo do estado. Estas vacinas estão sendo entregues em todas as regiões da cidade e que as unidades estão sendo reabastecidas.
A pasta também afirmou que o Ministério da Saúde sinalizou a entrega de um lote de vacina da AstraZeneca para a capital, prevista para o início da próxima semana.
Em entrevista na manhã desta sexta, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) disse que até segunda-feira (13/9) o número de pessoas que ficarão sem a segunda dose da vacina da AstraZeneca na capital será de aproximadamente 340 mil pessoas. Ele afirmou, em coletiva de imprensa em Santo André (ABC), que até esta sexta o total de pessoas que estão sem a dose de reforço desde imunizante é estimado em 200 mil.
Ao todo, segundo ele, até o final da imunização com segunda dose, 1,7 milhão de pessoas vão precisar de vacinas da AstraZeneca.
“É uma questão que estamos enfrentando, lembrando que não é nenhuma responsabilidade do município, mas sim a falta de fornecimento [de doses] por parte do governo federal. Na data de hoje [sexta] é o nosso problema”, afirmou Nunes, que não citou a falta de Pfizer.
Paulo Serra (PSDB), prefeito de Santo André e presidente do consórcio que envolve as sete cidades do ABC, afirmou que a partir do próxima dia 15, o ABC pode enfrentar problema semelhante de falta de vacinas.
“Vamos aguardar sempre as definições do Ministério da Saúde, com relação a dose suplementar [terceira dose] e substituição de segunda dose [da AstraZeneca]”, disse, durante a mesma coletiva em que esteve Nunes.
O governo João Doria (PSDB) e o Ministério da Saúde trocam acusações sobre a falta da vacina AstraZeneca no estado de São Paulo. A capital paulista, por exemplo, ficou perto de interromper a aplicação da segunda dose do imunizante nesta quinta-feira (9/9).
Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, o governo federal deixou de enviar cerca de 1 milhão de doses da vacina para São Paulo e esse é o motivo que fez com os municípios paulistas ficassem impossibilitados de aplicar a segunda dose da AstraZeneca. A gestão Doria chamou a falta de vacinas de “apagão”.
“O prazo de aplicação destas doses começou a vencer no dia 4 de setembro. Também precisaremos receber pelo menos mais 1,4 milhão de doses até o dia 20 setembro para concluir os esquemas vacinais deste mês”, afirmou a secretaria, em nota.
Já o Ministério da Saúde afirmou que adiantou o envio de doses da AstraZeneca para São Paulo. “Antecipamos o envio de 315,5 mil doses da vacina previstas para serem entregues até 30 de setembro para a aplicação da segunda dose no estado, em 31 de agosto”, disse o ministério em nota.
Esta não é a primeira vez que faltam vacinas na capital paulista. Em junho, a Secretaria Municipal da Saúde precisou interromper a vacinação, das duas doses no dia 21. Ela só foi retomada no dia seguinte com o envio de novos lotes pelo governo estadual.
A cidade de São Paulo está vacinando com primeira dose jovens a partir de 12 anos. Também estão sendo aplicadas a terceira dose em idosos a partir de 90 anos. Por enquanto, essas pesso as estão sendo imunizadas com a vacina que tiver no posto. Mas a partir do dia 15, serão aplicadas apenas Pfizer para o reforço.
Procurados sobre a falta de Pfizer na cidade de São Paulo, a Secretaria Estadual da Saúde e o Ministério da Saúde não responderam até a conclusão desta reportagem.
Revolta
A ausência das vacinas AstraZeneca e Pfizer nas unidades de saúde em São Paulo deixou frustrado, indignado e com o coração apertado quem estava na expectativa de tomar a segunda dose contra a Covid-19 na manhã desta sexta.
Mesmo com o anúncio feito na quinta pela prefeitura sobre a falta dos imunizantes, algumas pessoas resolveram arriscar e procurar unidades de saúde na tentativa de se proteger ainda mais da doença. Ao baterem com a cara na porta culparam a falta de controle pela escassez das vacinas.
Em dois postos na zona sul em que a reportagem esteve, o movimento era tranquilo. Em ambos os locais, as UBSs Aurélio Mellone, no Jardim Celeste, região do Sacomã, e Santa Catarina, no Jabaquara, somente doses de Coronavac estavam disponíveis.
Com passadas largas e com o cartão de vacina em mãos, uma mulher entrou, por volta das 10h30, na UBS Santa Catarina, localizada na rua Belmiro Zanetti Esteves. Logo na entrada ela foi abordada por agentes de saúde que a explicaram sobre o problema. Já do lado de fora da unidade, a auxiliar de produção Deranilda Lana, 54, que deveria tomar mais uma dose de AstraZeneca conversou com o Agora e explicou sua pressa naquele momento.
“Eu vim do trabalho e acho um absurdo, porque nosso governo já deveria ter providenciado. Deveria saber a quantidade de pessoas que existem no Brasil. É obrigação saber. Não estamos pedindo esmola. É um absurdo você pagar imposto e nem a vacina você ter”.
No mesmo local, a podóloga Joilde Vilares, 59, disse que a falta de controle das vacinas é o principal problema para a escassez do imunizante. “Infelizmente, São Paulo por ter uma mega população, o sistema não faz o certo. Quem tomou AstraZeneca e vem tomar a segunda [dose] não tem porque vão dando a primeira até esgotar. Falta controle do sistema.”
Joilde aponta como um dos problemas pessoas que ficam de unidade em unidade buscando se imunizar, o que em sua visão atrapalha ainda mais o controle. “O posto não pode negar vacina [para quem quer tomar mesmo não sendo do bairro]. Não vou ficar quicando procurando outro local. Eu não quero ir a outro posto que tenha para tirar de alguém de lá”.
Do outra lado da cidade, na UBS Jardim Nossa Senhora do Carmo, no Parque do Carmo, na zona leste, uma mãe e seu filho, que toma remédio controlado, buscavam por AstraZeneca e Pfizer, ambas em falta no local, segundo aplicativo da prefeitura. A costureira Roseli Marinho, 51, relatou que era sua segunda tentativa em se vacinarem em postos na região. Ela buscava pela segunda dose e seu filho, Victor Marinho, 14, pela primeira.
“Um absurdo. A gente paga tanto imposto e é tudo precário. O pobre só trabalha para pagar imposto e conta”.
Mãe e filho já se mostravam cansados em andar de posto em posto, no entanto, devido às convulsões que afetam o menino, Roseli afirmou que iria procurar uma terceira UBS na tentativa de imunizar ao menos o garoto. “É deprimente. A gente se preocupa, corre atrás, mas tudo é complicado. Vou continuar procurando. O coração fica apertado, preocupado”, afirmou.