Cúpula da Petrobras não vê prazo para baixar combustíveis, apesar de pressão de Bolsonaro
Os preços estavam sem reajuste desde 12 de janeiro
Apesar da pressão exercida publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), a cúpula da Petrobras tem dito internamente que não há prazo para baixar o preço dos combustíveis, mesmo com queda na cotação do petróleo.
A pessoas próximas, o presidente da estatal, general Joaquim Silva e Luna, afirma que a decisão de rever o mega-aumento dado pela Petrobras na gasolina e no diesel depende do comportamento do mercado. A conta dependerá da cotação do barril do petróleo, da taxa de câmbio e do volume de combustível fornecido por importadores para o mercado local.
Os preços estavam sem reajuste desde 12 de janeiro, depois de quase dois meses de represamento de repasse do insumo básico, o petróleo.
O militar também avalia que o cenário a respeito da cotação do petróleo está instável, e que as mudanças que têm ocorrido são conjunturais e não estruturais.
Nesta quinta-feira (17/3), por exemplo, os preços do petróleo subiam 6% depois que a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) disse que o mercado poderia perder três milhões de barris por dia (bpd) de petróleo e produtos russos a partir do próximo mês.
Os contratos futuros do petróleo Brent subiam US$ 5,85 (R$ 29,9) ou 5,97% sendo cotados a US$ 103,87 (R$ 532,6) por barril às 9h25 (horário de Brasília).O WTI (petróleo dos EUA) subia US$ 5,48 (R$ 28,1), ou 5,77%, a US$ 100,52 (R$ 515,4) por barril.
Ambos os contratos caíram no dia anterior, após um salto inesperado nos estoques de petróleo bruto dos EUA e sinais de progresso nas negociações de paz entre Rússia e Ucrânia.
O petróleo, que já vinha em alta devido à pandemia -que fez os maiores produtores mundiais reverem para baixo suas projeções de produção- tomou novo impulso de alta com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Ambos são grandes produtores -a Rússia, de petróleo, e a Ucrânia, de gás natural.
Na terça-feira (15), o barril do petróleo caiu para abaixo dos US$ 100. No mesmo dia, Bolsonaro disse que “com toda a certeza” a Petrobras iria reduzir o preço dos combustíveis.
“Estamos tendo notícia de que nos últimos dias o preço do petróleo lá fora tem caído bastante. A gente espera que a Petrobras acompanhe a queda de preço lá fora. Com toda certeza fará isso daí”, disse, durante cerimônia no Palácio do Planalto.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), engrossou as declarações de Bolsonaro reforçando a pressão para a estatal baixar os preços.
“Só que nós estamos com o petróleo baixando e o dólar baixo, e a cobrança é: a Petrobras agora vai baixar o combustível? O óleo diesel é mais barato fora do que aqui. Nós vamos ter redução de preço, ou é só como uma invasão, que vai avançando, avançando, e não recua?”
Questionado sobre se o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, estava fazendo uma boa gestão, Lira não quis comentar. “Não tenho a visão interna da Petrobras, não tenho o relacionamento interno da Petrobras. A única crítica que eu fiz foi que a Petrobras realmente não precisaria ter dado um aumento do tamanho que deu de uma vez só”, disse.
“O barril sobe, a gente aumenta, o barril baixa, a gente não baixa? É importante que a Petrobras recue o preço e do aumento que deu, porque o dólar está caindo e o barril está caindo”, complementou. “São os dois componentes que fazem a política de preço da Petrobras.”
Diferentemente do que afirma o presidente da Câmara, a Petrobras vinha implementando uma política que não repassa imediatamente a alta do insumo para os preços locais dos combustíveis (derivados do petróleo).
A Abicom, associação que representa os importadores de petróleo responsáveis pelo abastecimento de 40% do mercado local, estima que o descompasso entre os preços internacionais do petróleo e os preços praticados pela Petrobras possui uma defasagem média (para baixo) de até 30%. No diesel, essa diferença chegaria a 40%.
Essa situação pode levar importadores a desistirem de atender ao mercado para evitar perdas de competitividade com os preços da Petrobras, o que levaria a um desabastecimento, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.
Assessores de Silva e Luna afirmam que, para evitar o desabastecimento, o presidente da Petrobras não teve saída e autorizou o reajuste que vem sendo criticado pelo governo.
Internamente, militares de alta patente começaram uma operação no Planalto para tentar conter a fritura de Silva e Luna. Embora negue, o vice-presidente, Hamilton Mourão, liderou as conversas. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, também entrou em campo.
Nesta terça-feira (17), a ala militar ideológica do Planalto começou uma nova onda de críticas após declarações públicas de Silva e Luna de que a empresa segue sua política de preços.
Assessores políticos de Bolsonaro avaliam que essa postura não colabora com o discurso do presidente, que vai disputar a reeleição e quer mostrar que tentou fazer o possível para evitar que os brasileiros paguem tão caro pelos combustíveis, itens que pesam bastante no cálculo da inflação, que segue em alta neste ano.
Silva e Luna é o segundo presidente da Petrobras que, na gestão de Bolsonaro, enfrenta críticas devido à alta de preços. Roberto Castello Branco deixou o cargo após enfrentamento com Bolsonaro que tentou frear preços. Silva e Luna já avisou que não deixará o cargo.
Por Júlia Chaib e Júlio Wiziack