Corpo de criança yanomami desaparecida após ter sido ‘sugada e cuspida’ por draga é encontrado
Caso aconteceu na terça-feira (12) e foi divulgado em carta pela Hutukara Associação Yanomami
O Corpo de Bombeiros Militar de Roraima localizou na tarde desta quinta-feira (14) a segunda criança yanomami vítima de afogamento na região do Parima, município de Alto Alegre. A primeira foi localizada no dia anterior, antes da chegada das equipes dos bombeiros ao local.
Com isso, foram confirmadas as mortes de duas crianças yanomami após terem sido levadas pela correnteza no leito do rio que banha a comunidade Makuxi Yano, que fica na Terra Indígena Yanomami, em Roraima.
O caso aconteceu na terça-feira (12) e foi divulgado em carta pela Hutukara Associação Yanomami, que recebeu a informação de comunidades indígenas locais. A comunidade Makuxi Yano fica na região do Parima, município de Alto Alegre.
Segundo o relato dos indígenas, as duas crianças, de 5 e 7 anos, brincavam no rio Uraricuera, que banha a comunidade, nas proximidades de onde funciona um garimpo ilegal.
Eles estavam na parte rasa do rio, próximos a uma balsa do garimpo, quando foram “sugadas e cuspidas” pela ação de uma draga do garimpo, equipamento que suga a terra e é usado na extração dos minérios. As crianças foram arrastadas pela correnteza.
O Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana acionou a Funai (Fundação Nacional do Índio) e o Corpo de Bombeiros para se deslocarem ao local na busca pelos corpos.Também enviou um ofício ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami solicitando um voo urgente para o local do acidente.
Na final da manhã desta quarta-feira (13), o corpo do menino de 5 anos foi encontrado pela comunidade. O corpo da outra criança foi encontrado no dia seguinte.
Em nota, a Corporação Bombeiros Militar de Roraima informou que enviou, na tarde de quarta-feira, uma equipe de quatro bombeiros militares para realizar as buscas pelas duas crianças indígenas vítimas de afogamento.
Os mergulhadores estão no local realizaram as buscas desde as primeiras horas desta quinta-feira (14).
Em nota, a Funai informou que, por meio da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye’Kwana, acompanha o caso junto aos órgãos de saúde e segurança pública. Também disse que está à disposição para colaborar como trabalho das autoridades.
A extração ilegal e predatória de minérios em áreas protegidas, caso das Terras Indígenas Yanomami, cresceram nos últimos anos impulsionada pela recente alta no preço, as promessas de legalização de garimpos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a fiscalização ineficiente. Entidades indígenas estimam que cerca de 20 mil garimpeiros ilegais atuem dentro da Terra Indígena Yanomami.
Com o avanço do garimpo, também cresceu o número de registros de ataques a áreas indígenas. Em maio, três garimpeiros ilegais morreram durante ataque a uma comunidade yanomami nas margens do rio Uraricoera, em Roraima.
A atuação dos garimpeiros tem contaminado os rios de mercúrio, além de propagar doenças como Covid-19 e malária. Em alguns locais, há pequenas cidades, com pistas de pouso clandestinas, comércio, prostíbulos e internet.
Por João Pedro Pitombo