Carnaval de rua é cancelado em São Paulo

A gestão Ricardo Nunes (MDB) também desistiu de fazer o evento no autódromo de Interlagos

A Prefeitura de São Paulo decidiu cancelar o Carnaval de rua deste ano. A medida se deve ao aumento de casos de coronavírus causados pela variante ômicron e à epidemia de influenza.

A gestão Ricardo Nunes (MDB) também desistiu de fazer o evento no autódromo de Interlagos ou em qualquer lugar fechado,, como havia sido aventado, após recomendação da Vigilância Sanitária em reunião no gabinete do prefeito na manhã desta quinta-feira (6).

No início de dezembro, a vigilância já havia aconselhado Nunes a não realizar a festa de Réveillon na avenida Paulista, e o evento acabou cancelado.

O cancelamento do Carnaval de rua já foi decidido em outras cidades como Rio de Janeiro, Olinda e Salvador. A lista de municípios que tiraram a folia da agenda chega a pelo menos 58 no interior paulista, litoral e Grande São Paulo.

Como no Rio, o desfile das escolas de samba está mantido, mas a Secretaria da Saúde recomendou protocolos mais rígidos para os desfiles no Sambódromo do Anhembi.

Segundo o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, a prefeitura vai discutir com a Liga-SP (a liga as escolas de samba) quais serão os novos procedimentos. A pasta quer evitar, por exemplo, aglomeração na concentração antes dos desfiles. Haverá novos protocolos, inclusive, para os ensaios, que já são realizados desde setembro do ano passado.

Ele citou a Corrida de São Silvestre, dizendo que todos os corredores usavam máscara na largada e tiveram de apresentar passaporte de vacina com duas doses para participar.

Eventos relacionados ao Carnaval, como bailes, terão de exigir comprovante de vacinação, independente do número de pessoas, segundo a secretaria.

Coordenador da Vigilância Sanitária da capital paulista, Luiz Antonio Vieira Caldeira apresentou nesta quinta números que mostram a alta de internações de pessoas com sintomas de síndrome gripal, incluindo Covid-19 e Influenza.

Segundo ele, a análise, que terminou na noite de quarta-feira, ainda tem cerca de 40% de atraso na notificação dos dados, principalmente por causa do ataque hacker no site do Ministério da Saúde, no mês passado.

Mesmo assim, afirmou, a procura de pacientes com sintomas gripais, incluindo Covid-19 e influenza, na rede municipal de saúde, foi semelhante ao pico da Covid, em março e abril.

Caldeira ressaltou, entretanto, que os casos de Covid são mais leves, apesar da velocidade maior de transmissão da variante ômicron do coronavírus, e que a vacinação evitou mortes, que continuam em queda.

“A velocidade de transmissão da ômicron nos preocupa”, disse ele, lembrando que no meio de dezembro passado a nova cepa já era responsável 50% de prevalência dos casos. “O mundo não estava esperando o rebote de Covid. Ela voltou e com força.”

Na quarta (5), o secretário da Saúde, Edson Aparecido, afirmou que os primeiros dados analisados pela Covisa mostraram que o grau de disseminação da variante ômicron do novo coronavírus segue um gráfico que aponta para um rápido crescimento de contágio em um curto espaço de tempo.

Nos últimos dez dias, segundo ele, os atendimentos de pacientes suspeitos com Covid-19 cresceram 30% na cidade, apesar de ainda não terem impactado nos hospitais da rede municipal.

Aparecido lembrou que, com uma variante com um grau de transmissibilidade muito acentuado, como a ômicron, a cidade deverá ter meses de janeiro e fevereiro pressionados pelo aumento de Covid-19.

Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, somente nos quatro primeiros dias de janeiro foram realizados 32.403 atendimentos a pessoas com sintomas respiratórios, sendo 18.267 suspeitos de Covid-19, nas unidades de saúde da capital.

O mais recente sequenciamento genético feito pela secretaria em parceria com o Instituto Butantan apontou que a variante representa 50% de prevalência entre os casos pacientes com o novo coronavírus na cidade.

O percentual de prevalência pode ser ainda maior, já que os números, divulgados nesta terça-feira (4), são referentes à semana dos dias 12 a 18 de dezembro.

A pressão para o cancelamento da folia na capital veio também do governo estadual. Ainda na quarta-feira, o médico João Gabbardo, coordenador do comitê científico que aconselha a gestão João Doria (PSDB) nas decisões para o combate à pandemia, disse que “é impensável manter o Carnaval de rua sem controle de vacinação”.

No Carnaval de rua, lembrou, não há como fazer o controle e fica liberada a participação de qualquer pessoa. “Não não tem como acompanhar se [o folião] está vacinado. A aglomeração é imensa”, disse.

“A recomendação é evitar que isso [Carnaval] aconteça, porém, a decisão cabe em súmula àqueles que dirigem o comando das prefeituras”, afirmou o governador, na mesma entrevista coletiva.

Também na quarta, o Fórum de Blocos de Carnaval de Rua de São Paulo, a União Blocos Carnaval do Estado de São Paulo e a Comissão Feminina de Carnaval de São Paulo cancelaram a participação no Carnaval de rua paulistano.

As entidades também afirmaram que não participariam do evento caso ele fosse realizado em um local com entrada controlada, como o Autódromo de Interlagos.

Os grupos representam 250 blocos que estavam inscritos para a folia -ao todo, a capital recebeu inscrição de cerca de 680 blocos.

Eles alegam insegurança sanitária para participação do evento, falta de consenso entre as três esferas políticas e não inclusão dos blocos e coletivos nas tratativas da organização.

Pouco antes do Natal, grandes blocos, como os das cantoras Daniela Mercury e Glória Groove, já haviam cancelado os desfiles em São Paulo.

Por Fábio Pescarini 

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