Capitólio (MG) reabre cânions com menos lanchas e proibição em dias de chuva
Turistas poderão voltar a frequentar a área a partir da próxima quarta (30)
Mais de 80 dias após a queda de uma rocha sobre lanchas que passeavam pela região dos cânions de Capitólio, no sul de Minas Gerais, o atrativo volta a receber turistas nesta quarta-feira (30/3). O retorno das embarcações ao local acontece com normas mais rígidas para garantir a segurança de turistas e trabalhadores.
Com as novas regras, apenas cinco embarcações poderão navegar pela área dos cânions por vez, antes do acidente eram 40. Os passeios também ficam vetados em caso de chuvas ou da verificação de qualquer indício de deslocamento do solo ou de rochas.
O novo ordenamento do turismo no local foi baseado em relatórios parciais de estudos realizados na área por uma equipe de geólogos. A avaliação se encontra em fase de finalização.
Os estudos geológicos da área estão sendo realizados por uma equipe coordenada pelo presidente da Federação Brasileira de Geólogos, Fábio Reis, que é professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista). Fazem parte do grupo nove especialistas na área, de instituições como USP (Universidade de São Paulo), o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e a UFG (Universidade Federal de Goiás).
De acordo com a professora da UFG Joana Sánchez, que integra a equipe responsável pelas avaliações geológicas da região, as análises são necessárias para mapear as áreas de risco e evitar futuros acidentes. Segundo ela, alguns locais com maior risco de novas quedas permanecerão fechados.
“A gente fez a avaliação técnica estrutural, descendo e medindo tudo com uma bússola mesmo. E aí fomos avaliar as fraturas das rochas e para que direção as fraturas estão. O nosso trabalho é verificar onde está quebrado e se aquilo pode cair. Fazemos a análise toda do maciço para entender se tem risco e se esse risco é alto ou baixo”, explica Sánchez, que é doutora em geologia.
A partir de propostas feitas pela equipe em um relatório preliminar, o prefeito da cidade, Cristiano Geraldo da Silva (PP), publicou um decreto para reabertura parcial da visitação dos cânions. Após a conclusão dos estudos geológicos, será realizado um plano final de monitoramento, para a liberação definitiva da área.
Outro ponto sugerido pela equipe de cientistas que foi incorporado nas regras para reabertura foi a contratação de uma equipe para fazer uma inspeção geológica diária da área. O objetivo é monitorar indícios de processos erosivos e movimentações de massa que possam sinalizar possíveis riscos.
Todos os passageiros das embarcações deverão assinar um termo de anuência e consentimento das novas regras. Também será obrigatório o uso de capacete de proteção e colete salva vidas durante todo o trajeto por todas as pessoas. Antes do acidente, apenas crianças e idosos eram obrigados a utilizar coletes.
A área dos cânions será dividida em dois trechos. O primeiro, mais amplo, permitirá a presença de quatro lanchas por vez e terá uma distância de segurança de 20 metros das bordas do lago. Já o segundo, mais estreito, permitirá uma embarcação de cada vez e terá uma distância de segurança de 7 metros, sem possibilidade de parada das lanchas nesse trecho.
Todos os limites de segurança serão sinalizados no local, para orientar a navegação. A entrada será por ordem de chegada e haverá controle de acesso e fiscalização das embarcações no início de cada um dos trechos.
Além das sugestões propostas pela equipe de geólogos, a Polícia Civil também forneceu orientações para a segurança do turismo no local a partir das investigações feitas após o acidente.
“Como a gente estudou o caso, vimos algumas possibilidades de melhoria na segurança do município e dos municípios limítrofes ali também. E aí nós apontamos algumas delas. É a nossa contribuição após um evento triste, mas que gerou uma investigação muito grande”, afirma o delegado Marcos Pimenta, responsável pelo caso.
A investigação realizada pela Polícia Civil concluiu que o acidente aconteceu por causas naturais. No início do mês, o inquérito foi finalizado e determinou que não houve influência humana na queda do paredão. Dez pessoas morreram no acidente.
Conforme a perícia geológica realizada pela corporação, a queda do paredão foi causada pela correnteza na parte inferior das rochas e também pela ação do vento e das chuvas na parte superior do bloco que se desprendeu.
De acordo com o delegado, as decisões do que deve ou não ser feito para o ordenamento do turismo na região ficam a cargo da prefeitura.
Segundo Lucas Arantes, secretário de desenvolvimento econômico sustentável da cidade, responsável pelo setor de turismo, a cidade tem acatado as recomendações e pretende se tornar uma referência em turismo de natureza seguro.
Para o professor Múcio Figueiredo, da UFSJ (Universidade Federal de São João Del Rei), o planejamento do turismo precisa ser pensado a partir do conhecimento geológico da região, das informações climáticas e meteorológicas e das questões socioeconômicas.
Figueiredo, que é doutor em geologia ambiental e conservação de recursos naturais, diz que a exploração do turismo de natureza no Brasil se desenvolveu sem um arcabouço de normas e de leis bem definido, como acontece em outros países. Por isso, os desafios para se garantir um turismo seguro são ainda maiores.
Por Isac Godinho